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Enchentes Urbanas – O Papel da Engenharia

manaus João Alberto Manaus Correa

A mesmice

Escrever sobre enchentes e engenharia sem questionar o que fizemos  ou aprendemos no passado e em especial no ultimo período de chuvas não condiz com o pensamento lógico do engenheiro . No entre pico de chuvas e fora do foco da mídia, quais foram os esforços significativos de preparação  para enfrentar o próximo período?.

A mídia e os formadores de opinião, a cada enchente em São Paulo poderiam perfeitamente poupar imaginação em suas surradas chamadas  (alias é o que ocorre).

“Fomos surpreendidos pela maior chuva dos últimos xx anos”

“A culpa é da população que deixa lixo e entulho nas ruas”

“A cidade está impermeável”

“A ocupação de morros e várzeas em áreas criticas devem ser evitados”

“Piscinões são (ou não) a solução”

“ Bombeamento em áreas inundáveis, limpeza de córregos, desratização, código de obras defasado, falta canalização, etc, etc.”

Planejamento, Projeto, Obras, Manutenção e Operação (Alem de atuação emergencial com Defesa Civil e Assistência Medica e Social) seriam os temas acertados  a serem abordados e reconheçamos são sempre tangenciados.

Os investimentos na calha do Tiete, as obras de retardamento de picos de cheia são exemplos de ações estruturantes em drenagem cujo mérito não pode ser questionado;

O que se questiona após as recentes chuvas, é se a atuação como um todo em prevenir e lidar com a ocorrência, poderia ser melhorada.

Em minha sofrida experiência com programas de defesa contra enchentes nos Municípios de São Paulo e São Bernardo do Campo, frente a sucessivas frustrações, me propus a questão:

O que pode a engenharia no caso das enchentes urbanas?

A colheita de resultados dos esforços da Engenharia e da Gestão Publica em enchentes urbanas, trazem a luz temas que recomendam uma grande dose de humildade.

Os administradores têm toda razão em argumentar que fizeram sua parte, antecipando a execução de obras para “equacionamento do problema”.
Os Engenheiros dirão que adotaram as melhores praticas e estão respaldados em Normas e que faltam obras e “vontade política”.

Os resultados não são bons e é hora de começarmos a questionar com firmeza se fizemos a lição de casa.

Não há como negar que indícios claros já estão presentes há muito tempo  clamando por uma conciliação de conceitos e objetivos buscando uma ação coordenada e realista por parte de todos os envolvidos.

Enchente é um tema multidisciplinar envolvendo distintos atores no antes, no durante e no depois da enchente e principalmente ao longo de diferentes governantes e mandatos.

Os resultados e o clamor público apontam para insuficiência ou ausência de providencias, resultando em duro golpe na avaliação dos administradores, dos engenheiros ou dos técnicos e administradores envolvidos.

Isto salta aos nossos mais do que avisados olhos, por exemplo:

  • Quando a canalização de um córrego adia a inundação, mas piora o efeito quando ela ocorre. Este adiamento torna a população descuidada e despreparada;
  • Quando canais transbordam com a ocorrência de chuva inferior a adotada no projeto;
  • Quando canais transbordam com a ocorrência de chuva superiores a adotada no projeto e nada deste evento foi considerado no projeto (projeto canaliza, adia  mas não evita enchente);
  • Quando áreas potencialmente inundáveis não são demarcadas antes da ocorrência de inundações primeiras;
  • Quando a chuva de projeto de córregos secundários é inferior adotada para os principais, assume que eles são menos importantes frente a chuvas que sim podem ocorrer em qualquer micro bacia;
  • Quando pontos de inundação se formam por assoreamento ou entupimento das galerias e canais.

Que tal começar a questionar a que vem a Engenharia e torna-la mais abrangente na ocorrência de eventos?

De plano reconhecer que projetos e obras de engenharia mitigam, melhoram, adiam, mas não resolvem, como não tem resolvido, a esmagadora maioria dos problemas em área urbana.

A chuva de projeto é ao fim e ao cabo um jogo contra a Natureza (Humana e governamental também).

Está na hora de colocar isto de forma clara para a população. Esta na hora de questionar esta chuva considerando mais segurança com perguntas do tipo:

Quanto custa a mais aumentar a chuva de projeto (velha analise de sensibilidade)?;

Podemos incorporar o lixo e assoreamento nos cálculos?;

Podemos delimitar e falar em área inundável para além da chuva de projeto?;

Que fazer com o povo dentro desta área inundável antes e na ocorrência do evento?;

Como viabilizar dialogo com a  população e com o setor imobiliário e securitário.

O custo da transparência

Como dizer para a população que apesar do gasto, existe a  possibilidade de inundação?.

O setor imobiliário nas áreas ainda não inundadas,  mas com risco de,  teria de considerar providencias de minimização e rever valores de mercado dos imóveis.

No setor securitário, o impacto atuarial seria na revisão de acidentalidades e seu custo.

O cálice amargo

Estes elenco de temas sem duvida trazem a nós  engenheiros, geólogos e demais profissionais formados para resolver problemas,  o gosto amargo de conviver com resultados bem aquém dos necessários e projetados.

O consolo (ainda pequeno) é que fomos educados para aprender com a mãe natureza e tentar fazer a população conviver com ela, com o mínimo risco e o máximo de desfrute das vantagens da cidade.

Aprender a cada dia e a cada evento a conviver e respeitar a Natureza. Ela simplesmente é!. Não é boa nem má e não tem partido. Errar menos e minimizar catástrofes neste relacionamento pode ser definida como a maior aspiração quando lidamos com forças cataclísmicas em eventos naturais do tipo trombas d’água, terremotos, tsunamis, vulcões e nevascas, sejam estes ligados ou não ao aquecimento global.

 João Alberto Manaus Corrêa, MSc. Engenharia, diretor-presidente da Herjacktech Tecnologia e Engenharia Ltda.

http://www.herjacktech.com.br/

 

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