Trocado em miúdos, essa foi a questão proposta para um dos 4 painéis do “Fórum Digitalização: Soluções
Trocado em miúdos, essa foi a questão proposta para um dos 4 painéis do “Fórum Digitalização: Soluções para um Brasil competitivo”, recém promovido pela Folha de São Paulo e Siemens, visando identificar/analisar ganhos de eficiência e produtividade gerados pelo aumento de conectividade no País.
O “Plano Diretor Estratégico do Município de SP” (Lei nº 16.050/14), como o das demais cidades brasileiras com população acima de 20.000 habitantes (que têm obrigação de tê-los por força do “Estatuto das Cidades” – Lei nº 10.257/01), dedica um capítulo específico à mobilidade (art. 225ss) de pessoas e cargas. Muitos textos mais especializados destacam/acrescentam serviços; consolidando o clássico tripé: PESSOAS, CARGAS e SERVIÇOS.
Mas essa não é única forma de se esquadrinhar o tema, de se segmentar a mobilidade; mormente a urbana/metropolitana. Tampouco a melhor tipologia na busca de se analisar a potencial contribuição da digitalização/conectividade:
Uma PESSOA, quando se desloca pelo tecido urbano, pode fazê-lo por motivações diversas: Para “levar” sua força de trabalho para a fábrica ou um documento a ser entregue em um órgão público. Para assistir uma aula ou um filme. Para ser consultado por um médico ou para trazer as compras de um supermercado.
Por outro lado, pode fazê-lo a pé, numa bicicleta ou moto, de coletivo (ônibus, trem ou metrô), ou de carro. Ou seja, o invólucro, a “carenagem” do que, em última instância precisava, efetivamente, ser deslocado (algo como o “peso morto”) pode ser 80kg, 200 kg, 1 ou várias toneladas.
Da mesma forma, para a CARGA ou um SERVIÇO; que pode ser a fruta da feira, uma pizza, remédio ou DVD via “delivery”, sangue coletado a domicílio por um paramédico, uma encomenda do correio, o lixo recolhido, combustível para um posto, e assim por diante. Via motoboy, carro, VUC, caminhão ou trem.
Esses são os elementos visíveis da mobilidade!
Não tão visível, porém, demandando alguma abstração, poder-se-ia ver o deslocamento de MASSA, ENERGIA e INFORMAÇÃO; não?
Nenhuma alteração no objeto deslocado: Apenas uma forma diferente e vê-lo!
Forma que, certamente, facilita a análise e a resposta à questão proposta: “Conectividade pode melhorar a mobilidade? Como?”.
No futuro até massa e energia poderão vir a ser digitalizados (em alguns casos, como visto nos demais painéis do Fórum, é até algo meio a caminho!). Mas, desde logo, o componente informação é forte candidato à digitalização!
Por outro lado, forma que poderá, também, facilitar uma análise e planejamento mais integrado, mais sistêmico e, portanto, mais inteligente, mais eficiente: Atualmente a visão/pressuposto dominante, em textos legais e normativos, nos planos elaborados (mesmo os “Planos de Mobilidade Urbana” – Lei nº 12.587/12) é de uma mobilidade praticamente restrita ao deslocamento de pessoas.
Einstein, com sua “Teoria da Relatividade”, legou uma nova compreensão da relação entre espaço, tempo e matéria… inspiração para se correlacionar os componentes do modelo sugerido para a mobilidade: MASSA, ENERGIA e INFORMAÇÃO. Algumas aplicações, até, já podem ser antevistas nessa linha:
A digitalização de documentos é, certamente, o exemplo mais imediato; mais na ponta da língua. Por outro lado, à primeira vista, é difícil imaginar-se como a conectividade, a digitalização podem reduzir viagens de lixo de até 224 km em SP; mas, certamente, elas poderão contribuir para reduzir, drasticamente, o percentual de 46% (o dobro do da Europa; 3 vezes o dos USA) de caminhões que circulam vazios em SP (o que contribui para congestionamentos, aumento do consumo de combustíveis, de emissões e dos custos). Difícil imaginar-se a abolição, total, de consultas médicas; mas muitas delas já prescindem da presença física – percentual que, tudo indica, crescerá.
Duas mudanças conceituais, culturais contribuiriam decisivamente para tais análises, planos e soluções: i) A utilização de passageiro-km (ou seja, passageiro vezes km) e tonelada-km para as estatísticas/dimensionamentos de trânsito, transporte, mobilidade e logística (o que evidenciaria que transportar alguém por 3 km é muito diferente que por 20km! – em termos de infraestrutura, consumo de combustível, emissões, etc); ii) Além do aumento da oferta (o foco dominante de praticamente todos os planos), que seja tratado, com igual prioridade, a redução da demanda: Sempre que se reduz 1 pax-km, 1 t-km na demanda, o efeito é praticamente equivalente a se aumentar a oferta na mesma quantidade!
As prefeituras dos municípios com população acima de 20.000 habitantes tinham até abril/2015 para formalizar seus “Plano de Mobilidade Urbana”: Só 5% os concluíram no prazo – 95%, por conseguinte, tornaram-se inadimplentes; muitas das quais (a de SP, entre elas) estão trabalhando para eliminar tal pendência.
Há um lado positivo nessa inadimplência: A oportunidade de se sair da mesmice; dos meros discursos e enunciados-bordões; de se desenvolver e incorporar novos conceitos/tecnologias/ações (inclusive de digitalização e conectividade) para melhorar a mobilidade das cidades e regiões metropolitanas brasileiras.
Frederico Bussinger é ex-Secretário de Transportes de São Paulo; Presidente da CPTM e Diretor do Metrô/SP