Para todo problema complexo
existe sempre uma solução simples,
elegante, plausível e completamente errada”
(H.L.Mencken)
“Aprendi mais de futebol
nas aulas de filosofia que nas de fisiologia”
[José Mourinho –
Benfica, Porto, Inter, Real, Chelsea –
Melhor do Mundo em 2011]
Derrotas são sofridas. Goleadas … nem falar!
Mas, nesse caso, talvez as 2 até sejam nossas aliadas: O 7X1 impede que nos contentemos com o álibi da ausência do Neymar e do Thiago Silva. O 3X0 sepultou a tese, subjetiva, simplista, “misteriosa” do “apagão”.
Agora, com a queda do Felipão (simbolicamente no mesmo 14/JUL da Bastilha!), não temos mais como fugir de uma análise mais profunda.
Beeeeeeeeem… isso se, efetivamente, queremos minimizar ris
cos de novos vexames (já, aí, uma questão!). E, para tanto, se temos a real intenção de identificar causas e trilhar um caminho de transformações.
Foto: Divulgação CBF
Ex-goleiro e novo coordenador de seleções Gilmar Rinaldi em coletiva da CBF nesta quinta (17)
O objeto é o futebol. Mas, dessa crise da seleção, da CBF, do futebol brasileiro, mais amplamente, e, principalmente, da forma como a tratemos, poderemos haurir lições preciosas para nossa vida pessoal, familiar, profissional e social. Para empresas, processos produtivos, desenvolvimento de negócios, arranjos sociais e governos. Para implantação de projetos e empreendimentos. Para diagnóstico de grandes acidentes (como na aviação; p.ex) e desenvolvimentos tecnológicos e organizacionais.
O debate já está no ar; na rua: Que bom!
Por ora, ainda muito opinativo. Mas, de uma maneira geral, já dá para perceber a presença do confronto entre: “O meio é produto do homem (ser humano)” e “o homem é produto do meio”? No caso, a atuação/comportamento individual de jogadores, técnicos, dirigentes … explicariam o mau desempenho do time? Ou este é resultado da organização do futebol brasileiro, da imprensa, da torcida (da forma como participa e cobra), dos valores da sociedade, da nossa cultura, etc?
Aparentemente vai preponderando, até agora, a linha dos que enfatizam o individual: Satisfeitos com a troca de técnico; fiando-se no dificultar da saída de jogadores para clubes estrangeiros; procurando identificar os craques que estarão na seleção em 2018; etc. etc.
Dona Nicéa, minha mãe, em suas aulas de didática na UFES, ensinava como método: “do sincrético; pelo analítico; ao sintético”. No atual debate, ainda e estamos coletando dados, fatos; organizando hipóteses e explicações. Tudo ainda muito misturado. Mas é uma etapa essencial.
Para dar os próximos passos; para percorrer o caminho, tirando lições, de sucessos e de catástrofes, há também métodos. Um deles aprendi na viradas dos anos 70/80, quando trabalhava na manutenção do METRÔ/SP; método no qual todos os técnicos e engenheiros, de então, fomos treinados: O DAF (“Deteção Analítica de Falhas”) (01, 02, 03, 04).
Simplificando-o ao extremo: Ocorrida uma catástrofe, ou uma mera falha técnica, procura-se identificar semelhanças e diferenças entre situações onde o equipamento/sistema estava funcionando bem e aquelas nas quais a falha/catástrofe ocorreu: A comparação de umas e outras pavimenta caminhos para formulação de hipóteses, testes, experimentos, até se conseguir identificar as causas. Quantos ciclos causais (de “porquês”) serão necessários até alcança-la? Não há uma resposta cabal: Depende da falha, do acidente, da catástrofe. Mas uma coisa é certa: Será tanto maior quanto maior for o número de variáveis envolvidas; é óbvio!
A utilização do método, sistematicamente, ajuda descartar “falsos-positivos”; repetir caminhos percorridos; correlacionar variáveis e hipóteses não perceptíveis à primeira vista, etc. etc. Ou seja: Racionalizar a ligação causas-consequências; e, com isso, desautorizar respostas simples. Uma vacina contra o “opinativismo”, corrente no nosso dia a dia.
Aplicado à catástrofe da Copa: O que é igual e o diferente do Fred na Copa das Confederações (há apenas 1 ano!) e nesta? Do David Luiz nos 5 primeiros jogos e no do 7X1? Seu deslocamento da quarta-zaga ajuda a explicar?
Seria importante também, p.ex., comparar-se variáveis (do futebol, da tecnologia, da sociedade, da economia, da política…) do contexto atual com aquele em que Felipão foi vitorioso em 2002: Semelhanças (que dificilmente explicam) e diferenças (que são pistas). Idem, cotejando-se o contexto vitorioso de 58, 62, 70, 94, 2002 e Copa das Confederações, com o das “inexplicáveis” derrotas em 50, 66, 82 e 2014; assim como da Copa América/2011, de triste memória. Esqueceu-se?
Nessa análise, muito importante incluir variáveis dos nossos adversários (até porquê futebol joga-se a 2!). P.ex: O que nos assemelha e o que nos distingue de Costa Rica, Colômbia, Chile, Argélia, Austrália, gratas surpresas (positivas)? Idem aos derrotados Espanha, Portugal, Inglaterra, que surpreenderam negativamente. Importante: Não foi só Felipão e o Brasil que foram fragorosamente derrotados. Desconsiderar a catástrofe dos demais “grandes” não nos ajuda, metodologicamente, em nada.
Enfim; o importante é que não fiquemos só no sincretismo. Sigamos pelo analítico; na esperança de alcançarmos, coletivamente, o sintético… bom caminho para as transformações enraizadas; sustentáveis!
Frederico Bussinger é ex-Secretário de Transportes de São Paulo; Presidente da CPTM e Diretor do Metrô/SP.