PERISCÓPIO Nº 214
Pontos-chave:
1) “Mobi-logística”, ou “mobilogística” não existem nos dicionários. Também geralmente nos conceitos, planos e gestões. Pena!
2) Pena porque sua inexistência é sintomática de uma inexplicável, incompreensível, infundada, ineficaz, improdutiva, ineficiente … disjunção entre mobilidade e logística:
3) Um bom ponto de partida, para reversão desse quadro, seria, p.ex., trata-las, integradamente, nas centenas de seminários, convenções e congressos que anualmente ocorrem no Brasil focados em trânsito, transporte, portos, ferrovias, aeroportos, rodovias; de alguma forma envolvendo mobilidade e logística.
Não; não se sinta diminuído: “Mobi-logística”, ou “mobilogística”, por ora pretenso neologismo, não consta de nenhum dos dicionários da “última flor do Lácio; inculta e bela…” (ao menos dos mais consultados).
Pena!
Pena porque sua inexistência é sintomática de uma inexplicável, incompreensível, infundada, ineficaz, improdutiva, ineficiente … disjunção entre mobilidade e logística:
“9 entre 10 estrelas do cinema” entendem mobilidade como algo relativo à movimentação de gente; de pessoas. Logística de cargas.
Também mobilidade como algo municipal ou, no máximo, estadual. Logística como federal.
Mobilidade é coisa do Ministério das Cidades. Logística da Secretaria de Portos – SEP e/ou do Ministério dos Transportes – MT.
Mobilidade está balizada pelo “Estatuto das Cidades” (Lei nº 10.257/01) e pela “Política Nacional de Mobilidade Urbana” (Lei nº 12.587/12). Para logística não há lei específica e abrangente; apenas para alguns de seus componentes, como os portos (Lei nº 12.815/13)… leis referenciadas a diferentes capítulos da Constituição Federal.
Para regulação é justamente o oposto: Logística tem 2 agências (nacionais): ANTAQ e ANTT; mobilidade nenhuma (nem federal, nem estadual, nem municipal). Talvez porque mobilidade seja essencialmente planejada e gerida pelos poderes públicos (municipal e estadual); ainda que por vezes terceirizadamente. A “produção” da logística, todavia, é mais heterogênea: A atividade, a prestação de serviço do modo predominante (rodoviário) são praticamente desregulamentadas; o que não acontece com as dos modos portuário, ferroviário e aeroviário, assim como das infraestruturas (onde há alguma participação do poder público/concedente).
Mobilidade tem suas associações, seus eventos e suas publicações. Logística também as suas.
Com raras exceções, as respectivas “tribos” (pessoas, empresas e entidades) são específicas e não se misturam.
Pena!
Pena porque o território onde atuam, atendem e que têm que dar respostas são geralmente comuns. Os viários que utilizam são, majoritariamente, os mesmos. Muitos dos provedores e beneficiários também. Não raro, as origens e destinos. Um é insumo do outro; o outro insumo do um!
P.ex: As filas/congestionamentos de caminhões/carretas na Baixada Santista prejudicaram a vacinação dos idosos e a frequências das crianças nas creches. Os congestionamentos de veículos e as manifestações de pessoas o acesso dos caminhões/carretas ao Complexo Portuário da Baia de São Marcos; no Maranhão.
Como, então, mobilidade e logística serem tratadas como se fossem coisas independentes; coisas autônomas?
Como planejá-las e geri-las separadamente (principalmente nas cidades, regiões metropolitanas e macrometropolitanas)? Tanto é impróprio planejar infraestruturas e equipamentos logísticos sem harmonizá-los com o tecido urbano (os casos da BR-163 e Santarém-PA e Barcarena-PA são exemplares); como imaginar poder excluir a movimentação de cargas dos núcleos urbanos e/ou trata-las norteada meramente por restrições: Seja geográfica/territorial (“não pode aqui”); temporal (“não pode nesse horário”); tecnológica (“não pode com esse veículo”)… ou combinação delas!
Os portos estão tendo seus Planos Mestres e Planos de Desenvolvimento e Zoneamento – PDZs revistos. Os municípios revendo seus Planos Diretores e elaborando seus Planos de Mobilidade: Oportunidade privilegiada para que haja uma discussão conjunta de mobilidade e logística; para que se explorem as sinergias entre eles(as). Inclusive envolvendo dimensões ambientais, sociais e econômicas.
O próximo Congresso da ANTP, p.ex., ocorrerá em Santos-SP, em junho próximo: A calhar para uma discussão, ampla e aprofundada e, claro, integrada, desses 2 universos… abordagem que poderia passar a ser adotada, também, nas centenas de seminários, convenções e congressos que anualmente ocorrem no Brasil focados em trânsito, transporte, portos, ferrovias, aeroportos, rodovias; de alguma forma envolvendo mobilidade e logística.
Hoje generalizou-se o conceito e o termo “mobilidade”. Mas, vale lembrar, trânsito e transporte (coletivo, público… ) eram tratados como coisas independentes há 20, 30, 40… anos atrás.
Quão distante estamos da “mobi-logística”?
Frederico Bussinger é ex-Secretário de Transportes de São Paulo; Presidente da CPTM e Diretor do Metrô/SP.