Pontos-Chave:
“O planejamento de longo prazo
não trata de decisões futuras,
mas do futuro das decisões do presente‘’
[Peter Drucker]
“O planejamento estratégico é inútil,
se não tiver sido precedido de uma visão estratégica.’’
[Jonh Naisbitt]
“Visão sem ação, é só um sonho.
Ação sem visão é uma forma de passar o tempo.
Visão com ação pode mudar o mundo.’’
[Joel Barker]
“Mudança é o processo pelo qual
o futuro invade nossas vidas.’’
[Alvin Toffler]
“Planos são apenas boas intenções,
a menos que se transformem, imediatamente, em trabalho duro.’’
[Peter Drucker]
“Obstáculos são aquelas coisas, assustadoras,
que você vê quando tira os olhos da sua meta.’’
[Henry Ford]
Os temas eram distintos: Ferrovia (brasileira) e crise hídrica (paulista). De igual forma, tanto os painelistas (super-qualificados e representativos) como a concorrida audiência: A da ferrovia, devido às inscrições no próprio dia, até provocou a troca de auditório, no intervalo do café!
Curiosamente, abstendo-se dos substantivos, dos jargões, das métricas e dos dados utilizados (evidentemente específicos!), ficou patente que o enredo dos dois workshops, promovidos pela FIESP (ferrovia e crise hídrica), na última quarta-feira (22), eram muito similares: A certeza (ou presunção?) de que “sabemos o que deve ser feito” (mesmo ante a constatação de que os problemas estão aí, são graves e, em alguns casos, até temos sido surpreendidos). Existência de muitos órgãos (públicos) responsáveis pelo setor/tema; processo decisório confuso; forte e crescente presença do Ministério Público, Tribunais de Contas e Justiça na tomada de decisões e, mesmo, no estabelecimento de políticas públicas. Falta de recursos; licenciamento ambiental complexo e imprevisível; resistência de “grupos de interesse” (contrários) e de movimentos sociais (até muitos de pequeno porte).
E, lógico, “falta de planejamento” e “falta de vontade política”, bordões-álibis que não poderiam estar ausentes; sempre à mão ante questões embaraçosas ou correlações de variáveis inexplicáveis. Ah; claro: O que falta, evidentemente, é ao outro; ou é responsabilidade de terceiros!
Ué! Mas, no início da crise hídrica, o diagnóstico/acusação não era que a Sabesp não executara planos que ela mesma havia elaborado? Afinal, os planos existiam/existem ou não existem?
Se o PNLT, tanto o de 2007 como sua última revisão, de 2011, estão fundadas em um “planejamento integrado” (reafirmado no Workshop!), como pode o TCU, agora em 2014, constatar que há “falhas no planejamento integrado e coordenado” nos projetos do trecho Açailândia(MA)-Barcarena (PA) da Ferrovia Norte-Sul – FNS, e no da expansão do Porto de Vila do Conde (Barcarena-PA) – ambos, empreendimentos constantes do PIL-2, recém lançado? E, mais objetiva e abrangentemente: “…determinar à SEP/PR que apresente plano de ação e cronograma relativo à atualização dos Planos Mestres contemplados no Plano Nacional de Logística Portuária – PNLP, … considerando, entre outros aspectos, a integração com os demais projetos de infraestrutura e os impactos dela decorrentes”. (Acórdão TCU nº 2903/2014; de 29/OUT/2014; objeto do TC 005.342/2014-7). Afinal, os planos de transporte/logística são ou não são integrados?
Ao início do Workshop Ferroviário o clássico de Tom Jobim, “Samba de uma nota só”, foi lembrado para enfatizar a necessidade de que os planos elaborados (as “verdades” que sabemos e formulamos) sejam repetidas até que “eles” (governantes; gestores – outros, enfim!) se convençam e os implementem. Será que “Sol de Primavera”, de Beto Guedes (“… a lição sabemos de cor; só nos resta aprender”) não seria mais próprio para as circunstâncias?
“Decifra-me ou te devoro!”:
Que há planos demais, até em excesso, é praticamente um consenso. Aliás, quanto de dinheiro, de tempo, de esforços e de energia são despendidos na elaboração de planos? Portanto, a questão/problema não é quantitativa: Nesse quesito estamos bem!
Mas há um quesito em que não vamos tão bem assim: A relação implementado/iniciado. E, se o indicador for implementado/anunciado, então… Ou seja, a quantidade de planos abortados; daqueles que “só ficam no papel” (ou nas gavetas), todos sabemos, é muito grande no Brasil (seja a nível federal, estaduais e municipais): Uma realidade bem distinta da de Cingapura; onde me explicaram que uma das razões do seu “sucesso” é que “o que é planejado acontece”!
Há, todavia, um quesito ainda mais preocupante: Será que chegaria a 2 dígitos o percentual de planos que são executados dentro dos prazos + orçamentos estabelecidos? Em tempo: Corrupção à parte!
Se o problema não está no quantitativo, será que não deveríamos incluir, ao menos como hipótese, uma suspeita qualitativa? Ou seja; em relação à estrutura e conteúdo dos nossos planos? Em relação à metodologia de sua elaboração?
P.ex.: Será que pode ser chamado de plano um documento que não explicita “o problema a ser resolvido” (no conceito caro à geometria descritiva) ou o “partido de projeto” (aos arquitetos)? Que não tem uma avaliação, séria, de custos? Que não leva em consideração os condicionantes ambientais e urbanos? As interfaces sociais? Que não trata do “como” de sua implementação (particularmente em relação às variáveis políticas e institucionais)? Que se deleita e se satisfaz com enxurrada de dados, de citações/referências; ou com profusão e ideias/intenções (ainda que bem alinhadas!)?
E, o mais triste, é que muitos suspeitam que “já fomos melhores!”. Ou seja: Teríamos desaprendido o que acumulamos ao longo dos últimos 2 séculos; quando implantamos a extensa malha ferroviária (hoje parcialmente ociosa!) e um conjunto básico de portos, pântanos foram saneados (o que viabilizou a vida em muitas cidades litorâneas); tudo em situações muito mais adversas. Mais recentemente também uma razoável malha rodoviária (em grande medida deteriorada!), rede de telecomunicações (fixa e móvel), parque hidro-energético, metrôs em diversas de nossas metrópoles.
Uma comparação de métodos e processos decisórios, em contextos tão diversos, nem sempre é simples. Mas a realidade nos impõe concluir que, pelo caminho que estamos trilhando, o alavancar de um próximo ciclo de desenvolvimento; a construção do nosso futuro (na ferrovia, no saneamento e nas demais infraestruturas e serviços públicos) será(seria) mais ineficiente. Sem dúvida, também mais incerto.
Sejamos claros: Os nossos modelos de planejamento e de tomada de decisões estão em cheque! Ou não? Talvez tenhamos, mesmo, que “reformatar” nosso “disco rígido” (das escolas aos centros operacionais/serviços; passando pelos projetistas e canteiro de obras)!
Sugestões-aperitivo:
Dos dois workshops, entre exposições de painelistas e intervenções dos participantes, algumas observações chamaram atenção (aqui exemplificadas com temas ferro-portuários):
Esse rol é, apenas, um aperitivo para estimular a reflexão. Mas, se quisermos, mesmo, nos tornar mais consequentes; se quisermos que a trinca “ef” (eficácia + eficiência + efetividade) se torne mais real em nossos empreendimentos, é inadiável que essa esquizofrenia para/no planejar seja superada.
Frederico Bussinger é ex-Secretário de Transportes de São Paulo; Presidente da CPTM e Diretor do Metrô/SP