Frederico Bussinger
Não! Não se trata de Comissão Parlamentar de Inquérito. Esta CPI apenas sintetiza: corrupção, privilégio e ineficiência; corrosiva trilogia que integra o DNA do imbróglio a que chegamos, e no qual o País patina há algum tempo.
Erros? Efeitos colaterais negativos? Também! Mas poucos negam os recentes avanços no combate à corrupção e implementação de medidas profiláticas. Será ela varrida do mapa? Certamente não! Porém o sarrafo subiu para os contumazes praticantes.
No quesito privilégios poucos avanços reais; mas o tema já está sob holofotes: a reforma da previdência resultante dará boa medida do quanto queremos efetivamente nos tornar um país menos desigual em termos de remunerações, benefícios e aposentadorias. Mas o cardápio é mais amplo: quem desconhece, p.ex, casos de privilégios em tramitações de processos administrativos, licitatórios e judiciais? Em tributação e incentivos fiscais? Em reservas de mercados? Nas universidades? Em espaços nos meios de comunicação?
No front da ineficiência, todavia, o terreno está quase inexplorado; ainda que amplamente disseminada: elefantes brancos, de norte ao sul do País, são sintomas de ineficiência na locação de recursos. Milhares de obras paralisadas, públicas e privadas, indicam ineficiência no planejar e gerir empreendimentos. Retrabalhos também. Há ineficiência na manutenção dos ativos de infraestrutura e de serviços; na operação; no atendimento ao cliente. Uma peculiaridade: ineficiente é, quase sempre, o outro!
Quando o tema entra na roda, mão de obra é geralmente apontada como a causa principal. E o é! Educação pública deficiente e qualificação seletiva o explicam em boa parte. Mas para tais ineficiências, estruturais e sistêmicas, a contribuição de planejadores, legisladores, licenciadores e executivos, públicos, privados e do 3º setor é bem maior. O que falta para que essa elite o assuma e decida mudar o jeito habitual de fazer as coisas?
Ah! A CPI não escapa do Fla-Flu vigente: há os que creem que corrupção é a raiz de todos os males e, se eliminada, nossas mazelas desapareceriam para sempre. Há aqueles que pensam o mesmo dos privilégios. Poucos da ineficiência; talvez por sua complexidade. Só que, submetidos a raio-x, observa-se que os 3 componentes são interdependentes e, até, se retroalimentam: corrupção normalmente gera privilégios; estes produzem ineficiência; esta pode ser caminho para corrupção; e assim por diante. Pode-se discutir o peso relativo; mas todos os 3 têm contribuído com enormes perdas para a nação e o povo brasileiro.
Sim; corrupção, privilégios e ineficiência estão disseminados, em distintos graus, de uma forma ou de outra, em inúmeros segmentos dos processos produtivos, distributivos e de relacionamentos na sociedade, em geral. Mas a infraestrutura é caso particular por não escapar de nenhum dos 3: você não
lembraria, de bate-pronto, de algum exemplo? Até de casos com os 3 em conjunto?Portos, energia, ferrovias, saneamento, rodovias, transporte urbano têm suas peculiaridades. Mas, como pano de fundo, paira o tripé CPI: enfrentá-lo no mínimo aumenta a eficiência no solucionar os enormes passivos que temos nesses e em outros segmentos infraestruturais. Mas pode até ser condicionante sine-qua-non.
Essa cruzada bem valeria um pacto nacional; ou não?