Frederico Bussinger (*)
“Falta planejamento”! O bordão é clássico e ouvido em diversos setores; infraestrutura logística dentre eles. A FIESP vem de colocar o tema em debate; e, isso, de forma não usual hoje no Brasil: propôs, previamente, aos painelistas e participantes, uma ementa problematizadora com premissas, objetivos e mecanismos. Parabéns!
O objetivo geral era uma unanimidade: “o País precisa de investimentos”. Também o objetivo específico (“melhoria e ampliação da infraestrutura”) e o finalístico (“aumento da eficiência, redução do custo Brasil, ampliação da competitividade de nossos produtos e promoção do crescimento econômico do Brasil”). Já o diagnóstico (existência de falhas e contratempos) nem tanto: autocrítica não é nosso forte! Se como cobrança ou mera hipótese para discussão, há muito não se ouvia algo parecido: “o governo é protagonista, responsável pelo planejamento estratégico, pela promoção do ambiente de negócios e atração do capital privado”.
Em síntese: i) Ah! Temos problemas!; ii) Logística não é um fim em si mesmo – razão pela qual planos, geralmente guiados por “escoamento”, deveriam passar a sê-lo por desenvolvimento; e assim fossem elaborados; iii) Bom ponto de partida é definir-se o problema a ser resolvido e o(s) objetivo(s); e iv) Governos têm papéis; é protagonista mesmo ante o “privatizar tudo que for possível”. Aliás, é assim também nos USA, na Europa e na Ásia.
Tudo isso a própria ementa já o enunciava. Mas, para se enfrentar falhas e contratempos, como ela também identifica, e lograr mais sucesso no cumprimento de objetivos e metas, é preciso ir além: seria importante que os modelos de planejamento e gestão, atualmente praticados no País, passassem por marcante inflexão!
Algumas sugestões adicionais: i) Infraestrutura portuária, ferroviária, rodoviária é, apenas, um dos componentes da logística: esta é muito mais abrangente e envolve diversos outros elementos operacionais, urbanos, ambientais, tributários, etc. O reducionismo com que tratamos logística, talvez contribua para os fracos índices setoriais: 52º/150 em custos logísticos; 56º/160 no “Logístic Performance Index – LPI”, e 109º/189 do “Doing Business”; ambos do Banco Mundial.
ii) Planos indicam o que fazer. Mas dificilmente sairão do papel (de power-point ou vídeos) se não incluírem, também, o como fazer; aí prevendo as fontes de recursos necessários, o embasamento legal/normativo, a governança, etc. iii) “O que não é quantificado não pode ser gerenciado”; é máxima do mundo corporativo. E sem monitoramento não há como aferir-se o cumprimento de objetivos e metas: esse é justamente o espaço da “compliance” e “accountability”!
iv) De planejamento, obviamente, resultam planos. Mas tão importante quanto eles, para sua implementação e gestão, são os processos (de planejamento). v) Nesses, uma metodologia tipo “FEL” (validação progressiva e integrada) pode ser de grande valia; assim como o envolvimento e participação das diversas partes interessadas (“stakeholders”) é essencial: o plano daí resultante, é claro, teria menos a feição de uma tese acadêmica, e mais a característica de um pacto e um plano de ação.
O desafio é efetivarmos essa inflexão. Mas vale tentar!
(*) Síntese da intervenção inicial do autor no painel.