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PERISCÓPIO 29: “Ponte ou túnel? Processo decisório para virar um “case””

Frederico Bussinger

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história:
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.

Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E, aí, como nunca dissemos nada,
já não podemos dizer mais nada.

 “No Caminho com Mayakóvsky”
Eduardo Alves da Costa
(e não Brecht ou Mayakóvsky).

Ligação seca (entre cidades, margens, rodovias: escolha!) volta ao noticiário (13/JUN/18): anuncia-se para DEZ/18 início de obras da ponte (agora na diretriz Ilha Barnabé) e tráfego em 2020. A seguir o gestor da obra (Ecovias); e autorizado, pelo governo estadual, estudos e projetos. Ué! A sequência dos eventos, pelos manuais, não deveria ser inversa?

Na sequência, e em paralelo, a imprensa foi divulgando: i) modelo (incorporação à concessão do SAI, com dilatação do prazo contratual), ii) previsão de investimentos (da ordem de R$ 3 bilhões), iii) informações (controversas) sobre pedagiamento, e iv) negociações (3/SET) entre Ecovias e Codesp (para compatibilizar ponte e sistema viário do Porto). Ué! Modelo e investimentos não deveriam emergir dos estudos? Coordenação de planos não deveria ser entre os 3 níveis de governo?

No final de FEV/19 Ecovias apresentou projeto ao CAP. Murmúrios quanto ao calado aéreo (85m) e interferências com o terminal da BTP e Ilha Barnabé; assumindo-se, implicitamente, a inexorabilidade do projeto e da diretriz. No geral, “encima -murismo”!

A partir de abril Codesp começa a arguí-lo e a defender a retomada da alternativa-túnel. No dia do meio ambiente (5/JUN) AT noticia, com fotos e destaques, acordo entre a União e o Estado para “reavaliar o projeto da ponte” e constituição de um GT para tanto.

Em 2 semanas (GT se reuniu?) é publicado o Edital (19/JUN) para a Audiência Pública (próximo 16/JUL). Com isso toma-se conhecimento de protocolo de EIA/RIMA em 14/MAR; e do novo padrão (célere!) de licenciamento em SP!

Não é difícil entender-se as razões da Ecovias, que agregaria à concessão um ativo da ordem de R$ 3 bilhões, e generoso prazo para explorá-los. Tampouco as motivações do governo anterior e do atual; ainda que com nuances. Da mesma forma as da BTP e as da Codesp; esta obliterada em algumas de suas (nobres) funções de autoridade portuária. E, mesmo, da população; cansada por tantas promessas não cumpridas, e muitos ainda pensando tratar-se de “almoço grátis”!

Difícil é entender-se omissões e o porquê, até agora, não houve uma discussão, séria, sobre o benefício-custo dessa ponte, destinações alternativas de recursos e, principalmente, sobre a diretriz/localização da nova travessia seca.

Pululam na mídia notícias de acidentes (tipo ciclovia RJ e Brumadinho); concessões em devolução (Maracanã, aeroportos e linhas de transmissão); e obras paralisadas após investimentos bilionários (tipo Rodoanel, hidrovia do Recife, Pq. Olímpico, e VLT de Cuiabá).

Taxamos de acidentes ou imprevistos. Culpamos a sorte. Cogitamos de conspiração. Logo esquecemos. Mas é raro assumirmos falhas no planejar, gerir e/ou no processo decisório. Queremos, mesmo, mudar de patamar?

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