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PERISCÓPIO 52: “O que nos revelam as estatísticas de investimentos e investidores estrangeiros no Brasil?”

Frederico Bussinger

O MINFRA anuncia para 2020 a realização de 44 leilões e R$ 101 bi de investimentos. O programa paulista tem em andamento 21 projetos requerendo R$ 37,6 bi. O de MG concessão de 2,5 mil km de rodovias e R$ 7 bi; valor similar ao do Protocolo de Intenções firmado pelo governo paraense com os chineses para implantação de ferrovia. A BA vem de conceder a tão esperada ponte Salvador-Itaparica à CCCC (empresa chinesa), que exigirá investimentos de R$ 5,3 bi. O governo gaúcho noticia investimentos de R$ 3,4 bi em 14 concessões rodoviárias; enquanto o de Goiás uma plataforma multimodal e R$ 400 milhões. O recente informe publicitário do governo fluminense, sem explicitar valores, anuncia concessão da RJ-244 e diversas outras obras. Esses são apenas exemplos; mas a carteira brasileira de investimentos em infraestruturas logísticas é bem maior se agregados os programas dos demais estados e os empreendimentos portuários privados (TUPs).

Já não mais contando com “dinheiro baratinho” do BNDES, e sendo parcas as dotações orçamentárias federal e estaduais para tanto, os olhares se voltam para os investimentos estrangeiros; mormente ante a notícia de haver aplicados no planeta, a juros negativos, algo como US$ 15 trilhões (cerca de R$ 60 trilhões – mais de 15 vezes o OGU/2020 brasileiro): atraí-los é o foco dos sucessivos “road shows” de Presidente, Governadores, Prefeitos, Ministros e empresários ao exterior.

O Ministério da Economia, por meio da CAMEX, publica periodicamente estatísticas sobre fluxos e planos do chamado “Investimento Estrangeiro Direto – IED”. Muitas câmaras de comércio bilaterais também.

O último, fechado até o 3T/2019, revela características interessantes (algumas até curiosas!) de nossos potenciais futuros parceiros: desde a chamada abertura e desestatização dos anos 90 o IED cresceu até 2010. Daí até 2017 houve queda e posterior recuperação ao nível anterior. Este ano, até o 3ºT, já havia superado os recordes anuais anteriores (US$ 31 bi). 5 países dominam a carteira: USA, China, Japão, França e Itália (quase todos praticantes de taxa de juros baixa ou negativa): USA é líder em número de projetos da série histórica (41%), e tem empate técnico com a China em valores investidos (31×32%).

SP é o líder disparado, tanto em número de projetos quanto em valor: a seguir vêm RJ, MG e PR; já os demais bem abaixo. Petróleo & gás e eletricidade são os dois setores líderes; seguidos abaixo por indústria, mineração e telecomunicações: transporte é irrisório! Mas há dois dados particularmente interessantes:

Para cada tema as estatísticas segregam o “anunciado” do “confirmado”; valores que normalmente discrepam sobremaneira. Para alguns setores e alguns países, essa relação pode ser, respectivamente, de 3 (ou mais vezes) por 1!

Em termos agregados, apenas 1 em cada 4 projetos é “green-field” (projetos novos): 76% deles são de “brown-field”. Quando analisado em valor essa relação é ainda maior: 85 X 15%. Ou seja; a maior parcela do IED tem sido destinada à aquisição de ativos, e não à expansão da infraestrutura e do parque instalado brasileiro.

Se efetivamente queremos implementar os planos e projetos anunciados seria importante não apenas buscar atrair investimentos; mas, também, identificar causas e procurar aproximar “anunciado” de “confirmado”, e aumentar a parcela dos investimentos destinados aos projetos “green-field”; não parece?

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