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PERISCÓPIO 53: “Farol de popa; farol de proa”

Frederico Bussinger

“As coisas estão no mundo,
só que eu preciso aprender…”
[Paulinho da Viola]

“Prefiro os que me criticam, porque me corrigem,
aos que me elogiam, porque me corrompem.”

[Santo Agostinho]

Esta coluna completa um ano. A cada sexta-feira desse 2019 ela buscou contextualizar e analisar algum fato/tema recentemente noticiado (e entendido como relevante) relacionado à logística, mobilidade e infraestrutura: minha gratidão aos editores pelo convite e oportunidade.

Mas grato, também, pois me considero o principal beneficiário: a disciplina da coluna semanal me obrigou a acompanhar mais de perto o noticiário, pesquisar e refletir. Aprendi muito! Aprendi, também, com as centenas de comentários a cada artigo; fossem elogiosos, críticos ou meras reclamações. Inclusive muitos dos temas/abordagens foram sugestões/cobranças dos leitores: essa interação me rendeu, além do aprendizado, gratificante ampliação da rede de relacionamentos; ainda que a maioria virtual, é verdade!

Tal privilegiado espaço, concedido por AT, permitiu-me, por outro lado, observar melhor esses setores e seus processos decisórios: nesse apagar de luzes compartilho algumas dessas observações por imaginar poderem vir a ser úteis para os próximos passos das reformas em marcha. P.ex:

Seria exemplo de comportamento do “homem cordial” de que fala Sérgio Buarque de Holanda em “Raízes do Brasil”? Seria resultante do Fla-Flu que se instalou no País no passado recente? Seria uma comprovação do dito popular de “quem tem…, tem medo”? A primeira vista cada um contribui um pouco para explicar esse comportamento, até usual, de alguns executivos e representantes: posicionamento de uma forma no privado, e em público de outra (muito díspares, em alguns casos). Sobre base tão movediças, novos arranjos (institucionais, organizacionais, etc) podem até ser propostos, e mesmo implementados; mas dificilmente proverão as seguranças de que o setor necessita no médio/longo prazo. Aliás, tal conveniente esquizofrenia não é boa nem para o dirigente público; normalmente elogiado/apoiado!

Que ironia: mais à frente reclama-se da falta de transparência, previsibilidade ou segurança (de planos, modelos e/ou marcos regulatórios)! Como; se elas foram descontruídas passo a passo? Arranjos pactuados muito contribuem para suas consecuções. Só que eles exigem: i) debates, de verdade; muito além de monólogos paralelos ou de mera promoção de ideias/projetos; típico da “sociedade do espetáculo” (Guy Debord). Para tanto há método consagrado: a clássica trilogia (tese, antítese e síntese), desenvolvida por Hegel sobre os pilares de Heráclito (5 séculos AC). ii) participação, compromisso: aos que contam com salvadores da pátria, ou esperam por Genis, recomenda-se a obra de Alexis de Tocqueville do início do Século XIX: “Da Democracia na América”.

Seria um exagero dizer-se que privilegiamos nas análises, debates e proposições os espíritos opinativo e “jabuticabeiro”? Ou seja: i) pouca preocupação com a fundamentação, com a consistência e a coerência das propostas/projetos? ii) frisson pelo singular, pelo inusitado, com desprezo a (bons e maus) exemplos/lições de terceiros; muito influenciado pela leitura acrítica de “inovação”? Nesses setores exemplos não faltam!

Fácil certamente não é: muitos desses comportamentos e características têm raízes históricas e culturais; o que exigiria análises mais profundas no campo psico, sócio, político. Mas como, ainda assim, também é possível arrolar-se exemplos positivos de mudanças no Brasil, “a esperança é a última que morre”.

Seja bem-vindo, 2020!

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