Frederico Bussinger
“Para
todo problema complexo
existe sempre uma solução simples,
elegante, plausível e completamente errada”
(H. L. Mencken)
1.000.000 de casos confirmados!
Essa dramática marca foi ontem alcançada: cresceu 52% em uma semana, e 11,2 vezes em março. Mais de 50 mil mortes; mas saudemos os 209 mil recuperados: 4 por 1! O Brasil deve ultrapassar 10.000 hoje: 159% e 5.000 vezes, respectivamente. Nas regiões da maioria desses casos as chuvas foram escassas; Mastro Jobim: quem “fechou o verão” foi o Covid-19. E começamos um abril sombrio clamando e augurando “promessa de vida no (nosso) coração”!
A temporada foi também inundada por uma infopandemia; misto de orientações necessárias com fake news e notícias distorcidas. Ao que tudo indica, porém, o encarniçado Fla X Flu nesse front perde fôlego, tendo prevalecido a tese do isolamento social; também encampada pela maioria da população. A exceção, claro, de enormes contingentes das 39 atividades essenciais (Dec. nº 10.282/20) que nos atendem; internados e em quarentena.
Passada a perplexidade do pós-Carnaval, parece dominante a percepção de que o impacto do Covid-19 transcenderá a saúde (direito constitucional: art.196): alcançará e mudará diversas dimensões da nossa vida pessoal, familiar, profissional, social, política, econômica; tema dos dois primeiros artigos dessa série.
Destaque-se o transporte; tanto mobilidade (pessoas) como logística (carga, serviços e informação), foco da coluna. Alguns são impactos apenas emergenciais; como no transporte urbano e a aviação, até como resultado e “comprovação” da quarentena: demandas de ônibus, trens e metrôs reduziram-se à metade, ou menos, nas metrópoles brasileiras; voos em Guarulhos de cerca de 870/dia para 137 (16%), e passageiros de 146 para 18 mil/dia (12%) em um mês; Congonhas não operará voos comerciais em abril. Outros, porém, podem durar; como os serviços de delivery (restaurantes, farmácias, etc) que “estão bombando”; da mesma forma que as vendas pela internet que se diversificaram. Ah! Quanto tempo será gasto para se repactuar os contratos descumpridos; tanto públicos como privados?
Em resposta há medidas também emergenciais; como a renda mínima de R$ 600,00 (MP-935/20: “Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda”); orçamento específico e paralelo (“Orçamento de Guerra”); e flexibilização do teto de gastos, da execução orçamentária e do calendário escolar. Tudo sob marcos de “Estado de Calamidade” (Dec.Leg. nº 6/20; e Lei nº 13.979/20). Mas há outras que tendem a perdurar; como a flexibilização de leis trabalhistas e alteração de regimes de contratação.
O desafio imediato é a manutenção dos fluxos das cadeias de suprimento. Para tanto é vital a garantia da saúde e, pode intrigar, da mobilidade e logística para seus próprios prestadores; como dos serviços essenciais. Mormente dos portos, que sustentam as exportações brasileiras, e do transporte rodoviário, responsável por mais de 2/3 da nossa matriz de transportes: prover-lhes alimentação, combustíveis, manutenção, local de descanso, assistência médico-hospitalar é condição sine-qua-non.
Em síntese, apesar de notícias de que “tem aumentado o número de pessoas na rua”, a batalha do curtíssimo prazo (saúde e auxilio emergencial aos desassistidos) parece ter definido seu rumo. Outras batalhas, em particular a do abastecimento da população e anti-recessão econômica, porém, estão apenas começando. E, em ambos os casos a logística é nevrálgica; como também tem se mostrado na batalha da saúde.
Há grandes e novos desafios para o setor à frente!