Frederico Bussinger
Não há prazo determinado nem configuração definida para o “novo normal” pós-COVID. No que toca ao setor portuário, porém, já surgem esboços no horizonte; conjunção de revisões de planos diversos e privatizações (formalmente; desestatizações!) de 2 importantes autoridades-administradoras portuárias.
O BNDES lícita modelagem do maior porto latino-americano (Santos) e da centenária “grande promessa” (São Sebastião). Este, você sabia é um dos 5 maiores complexos portuários brasileiros em movimentação? Que, acessado por canal natural (“dragagem-free”) de águas profundas, está entre os melhores sítios portuários do planeta? Pois é!
No outro front: i) EPL revisa o PNL, ao qual se fundirá o PNLP; ii) Novo PDZ do Porto do Itaqui-MA substitui o de 2012 (DOU de 21/MAI). iii) O texto do PDZ de Santos, já encaminhado ao MINFRA, segue desconhecido; talvez pela nova e singular visão revelada pela SPA (ex-Codesp), em recentes reuniões com entidades, quando apresentou a estratégia de revisão: “PDZ é instrumento discricionário da administração do Porto”!
Mas agora, ao menos, na longa e proveitosa videoreunião na FIESP, em 20/MAI, o Secretário Piloni e o diretor Bruno Stupello da SPA (ex-Codesp) deixaram mais claras diretrizes, zoneamentos e interfaces.
Para além da perspectiva de novas governanças e de novos planos, seria alvissareiro se o “novo normal” também incorporasse novos padrões de execução. Para tanto, nada melhor que bons exemplos; boas práticas.
Já contei diversas vezes. Mas, cobrado em feedback pessoal no artigo anterior, vale relembrar:
SET/2008, Cingapura. Participava do “LatinAsia” (conferência de investidores asiáticos interessados na América Latina). De última hora fui escalado para workshop no ministério responsável pela gestão do território. Com secretários estaduais e dirigentes de algumas agências, fomos informados do processo histórico de agregação de áreas marítimas (que lhe permitiu crescer uns 30%); de como sua população é provida de água, sendo escassas suas fontes naturais. Enfim, da estratégia (bem sucedida!) daquela cidade-estado quanto às infraestruturas e serviços públicos.
Ao final, aberta a palavra, um secretário, de importante estado brasileiro, intrigado, questionou: “Bem: isso é o planejado. Mas o que a acontece na prática?”. A segura e preparada executiva sino-descendente respondeu de bate-pronto: “O que é planejado acontece!”.
Inconformado e, aparentemente, incrédulo, o secretário repicou: “Sabemos que uma coisa é o planejado; outra, bem diferente, é o que é realizado. Como isso é aqui tratado? A resposta foi pronta; impávida: “O que é planejado acontece!“. Ele tentou uma terceira e quarta investida, com formulações variantes. Nossa anfitriã, agora já meio sem jeito, mas com a delicadeza oriental, procurou esquivar-se e assumiu a precariedade do inglês do secretário: “Talvez estejamos tendo alguma dificuldade de comunicação…”.
Diante da situação, e já convicto de que pela cabeça daquela senhora jamais poderia passar a ideia de que algo planejado não fosse executado, pedi licença para participar do diálogo: “A pergunta está bem feita. A resposta está bem dada. A dificuldade, me parece, está na diferença de culturas”: seja quanto ao processo de planejamento, seja quanto do “law enforcement”.
Em 2012 participei de outro evento em Cingapura. Encontrei-me com a apresentadora de 4 anos antes. Ela se lembrou do episódio. Nos despedimos; eu com a certeza de que ela sequer havia entendido aquela pergunta. Porque lá, que não é exemplo isolado; “o que é planejado acontece!”.