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PERISCÓPIO 27: “Muita falação, pouco debate; sínteses raras.”

Frederico Bussinger

“Do sincrético, pelo analítico, ao sintético”
(Nicéa: professora de didática; minha mãe)

No pré-Constituinte de 1988 tudo estava em discussão. A agenda não cabia. Entidades profissionais, empresarias e de bairro, universidades, igrejas, partidos… geravam “cartas”, propostas, abaixo-assinados e campanhas; já aí com boa representatividade. Esse processo foi vital para a inflexão institucional e o pacto social que a nova Carta veio cristalizar.

Neste século segue havendo workshops, seminários e conferências. Mas, além da proliferação de eventos comerciais, por empresas especializadas, parece também haver um novo e segmentado padrão: os comerciais tendem a priorizar uma nominata prestigiosa que garanta inscrições; corporações os usam para divulgar produtos e planos; para a academia, se contar pontos para currículo já valeu; órgãos de imprensa buscam as tais “aspas” para matérias adrede preparadas, sobre temas “eleitos”; e entidades, por status ou preguiça, não raro se contentam em ouvir intenções governamentais.

Painéis congestionados se limitam a exposições paralelas. Invadem o “coffee break” e/ou reduzem/eliminam os debates que a própria designação desestimula: “sessão de perguntas”. “O palestrante responderá posteriormente” é a resposta pronta; poucas vezes cumprida.

Autoridades raramente são confrontadas. Contestadas quase nunca… afinal, “em algum momento, decisão de meu interesse pode passar por suas mãos”. Daí porque a praxe, infelizmente não exclusiva do setor portuário, de se elogiar a autoridade e/ou sua apresentação; por mais internética, repetitiva ou confusa que seja.

Certamente há exceções e especificidades. Mas tenha em mente essas generalizações simplificadas ao participar do seu próximo evento: quanto de cada uma delas você conseguirá identificar?

Para o bem e/ou para o mal vivemos uma nova inflexão. No último processo eleitoral a sociedade explicitou o que majoritariamente não quer; sintetizando-o na trilogia: corrupção, privilégio e ineficiência (CPI – 10/MAI). Assim, todos os subsetores sociais estão tendo que ser repensados; momento em que debates, pra valer, fazem falta. Aliás, desperdício de recursos e perda de oportunidades à parte, esse padrão é enganoso até para as autoridades: o silêncio/puxa-saquismo normalmente encobre, também, o descompromisso.

A coluna de 22/FEV passado (“Antes de mais nada, que tal organizar a pauta portuária?”) arrolava 2 dúzias de temas, trazidos à baila por uma dezena de atores/instâncias, sendo tratados por meia dúzia de instrumentos/fóruns. Em boa hora AT promove (24-25/JUN) o “Porto e Mar – Seminário A Tribuna para o Desenvolvimento do Porto de Santos”, estruturado em 4 painéis: “i) Modelo de gestão: a nova autoridade portuária; ii) Inovação tecnológica e novas cadeias de negócios; iii) Modelo de gestão: a concessão dos acessos ao Porto de Santos; e iv) O acordo de facilitação do comércio e os impactos nos portos”.

O palco está armado; inclusive com espaço para debates. Diversas autoridades, dirigentes de entidades e especialistas estarão presentes trazendo informações, compartilhando ideias e contribuindo para reflexões sobre questões candentes.

Excelente oportunidade! Mas resultados, todavia, dependem dos participantes e da condução dos painéis para lograr produzir análises que conduzam a sínteses; a conclusões e a definições legitimadas.

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