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Calçadas nossas do nosso Brasil sem cuidado

Acostumado a andar a pé, ao final da manhã do último sábado, saiu para fazer compras perto de sua residência em Santana, tradicional bairro da capital paulista. Porém, desta vez, apesar de todos os cuidados, somente conseguiu voltar para casa com a ajuda de seus solícitos vizinhos.

Bem conhecendo o trajeto tantas vezes palmilhado, sabia como desviar-se competentemente das inúmeras armadilhas – algumas ocultas, outras bem visíveis -, que se estendiam pelas calçadas do bairro. Mas desta vez, seu pé falseou ao pisar no desnível da calçada, deixado pela obra recém-concluída e mal ajambrada, de um “conserto” feito ali pela empreiteira, resultante do mal fechamento dos buracos da ligação de água do enorme edifício que acabaram de construir. Teve luxação e estiramento no calcanhar direito. Ficará imobilizado por 45.

Lamentavelmente, os desarranjos das calçadas não se restringem à Cidade de São Paulo. Por todos os cantos do país sobram exemplos dessa falta de cuidado com a população que, a cada dia, vitimiza mais e mais pessoas. Inúmeros são os casos, praticamente em todas as Cidades, Brasil afora. Resultam do ato de andar a pé pelas calçadas ou pela obrigação de caminhar por espaços inimagináveis pela falta delas. São muitos os problema: buracos, desníveis, pedras soltas, escorregadias, falta de padronização e manutenção, citando apenas os mais frequentes.

Sofre toda a população, não somente nosso amigo. Entretanto, os mais atingidos são os idosos, pessoas com mobilidade reduzida e crianças. Destaque especial merecem as pessoas com deficiência que, além de sofrerem com essas circunstâncias, têm que aturar pisos irregulares, degraus e toda sorte de interferências colocadas nas calçadas, quando não acabam tendo sua locomoção cerceada pela ausência delas. Isso sem falar na falta de rampas de acessibilidade e na total despadronização das existentes.

Esse tema, para nós do IDELT, é especialmente caro e importante. Desde o início dos anos 2000 temos nos dedicado a buscar soluções, discutir o assunto em diversos fóruns, realizando projetos e atividades, diretamente por meio de nossa Instituição, como em parceria com administração pública em suas esferas de governo. Chamando a atenção sobre o tema. Para que tanto o cidadão responsável pelo espaço à frente de sua residência quanto o poder público, se ocupem do assunto e deem providências à construção de boas calçadas e passeios públicos.

Vez por outra as administrações municipais divulgam normas e instruções de formas construtivas e modelos numa tentativa de dar providências ao problema. Resultam, esporadicamente, melhorias em concretas em algumas localidades. Contudo, sobejam decretos Brasil afora, com pouca eficácia em sua maioria, seja porque não conseguem sensibilizar o cidadão ou conquistar sua adesão para melhor organização das cidades, porque ele mesmo – o poder público, deixa de fazer a sua parte. É o caso de diversas vias nas periferias nas quais grande contingente de pessoas caminha por espaços estreitos, sem segregação ou calçamento, cheios de vegetação e perigos, fazendo entre os veículos seu necessário deslocamento a pé.

Fato recente, mas não menos importante, que também tem contribuído para detonar as calçadas são as diversas construções de edifícios, tanto no centro, bairros nobres e periferias das Cidades que se utilizam das calçadas, praças e passeios públicos como canteiro de obras. Impedem temporariamente a circulação, obrigando pedestres a utilizarem o leito de ruas e avenidas, deixando um rastro de acidentes causados pela obstrução e um verdadeiro e nefasto patchwork de remendos dos mais diferentes materiais e recortes sobre as calçadas e o asfalto das vias.

Investidos anos de trabalho em prol da acessibilidade e mobilidade gostaríamos muito de contabilizar ações bem sucedidas que resultaram em melhorias das condições de deslocamento a pé, enriquecimento do espaço urbano e elevação dos padrões de urbanidade e embelezamento das Cidades. Mas ainda não é desta vez. Registramos aqui nossa consternação com o descaso.

Com certeza, como de costume, continuaremos promovendo o debate, disseminando informações e dialogando com autoridades e decisores para que, efetivamente, se comprometam com o incremento da segurança física, urbana e ambiental de nossas Cidades. Não esmorecemos!

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