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Novos ares…

Nossa sociedade vive momentos de inquietação face às alterações sociais, culturais, econômicas e políticas que afetam tanto nossa vida pessoal quanto as relações em sociedade.

Consideramos estar na base dessas alterações as transformações que hoje fundamentam o pensamento coletivo centrado no aumento do individualismo. Uma espécie de individualismo narcisista que se revela nos valores da sociedade atual, particularmente nas noções de autonomia e liberdade. Uma nova forma de individualismo contemporâneo que impulsiona novos arranjos subjetivos e se evidencia na fragilidade dos laços sociais manifestos em diversos aspectos.

Cotidianamente somos submetidos – e cada vez mais! -, a alto grau de exposição pessoal e midiática, cujo padrão estampa a figura de indivíduos sempre de bem com a vida, alegres, felizes e satisfeitos. Grande parte dessas exigências são forjadas nas redes sociais e, nem sempre, brotam das reais relações pessoais entre os indivíduos. Tampouco carregam em si valor de verdade tal que se sobreponha aos impactos da depressão, ansiedade e estresse, considerados já como males dos tempos atuais.

A correria do dia a dia, as dificuldades econômicas, a insegurança pública e o que mais disso decorre, têm gerado uma série de dificuldades emocionais, psicológicas e até mesmo físicas. Socialmente, tais alterações remetem à comportamentos exibicionistas, de superioridade, desagregadores. E mais: ao contrário do que se apregoa, forçam a criação de estereótipos, invenção de imagens distorcidas e forçam a necessidade de exibição de um padrão estético homogêneo e, por vezes, de gosto duvidoso.

Parece que a pessoa se dissociou do indivíduo. A realidade, da aparência. A fala, do sujeito que profere o discurso.  O padrão imposto é o de que nada mais importa a não ser a satisfação do próprio ego e das necessidades individuais, forjadas fora do universo particular do indivíduo e impostas por influenciadores e gurus tendenciosos, propagadores de ideias que juntem em torno de si mesmos grupamentos sociais excludentes, dogmáticos e agressivos.

O individualismo corrente sobrepõe a individualidade (e liberdade individual) sobre as estruturas sociais e coletivas. É uma espécie de postura pessoal que considera a vontade individual acima das dimensões e necessidades dos demais sujeitos.

Em sociedades nas quais se considera o indivíduo acima de tudo, se estabelece uma concepção linear e igualitária entre seus membros. E quando ao indivíduo se lhe atribui o máximo valor, ele não se encontra submetido a ninguém. Somente a ele mesmo. Tem-se com distorcido o princípio de liberdade, de igualdade e de organização social.  A partir de então, se pode tudo!

Contraria-se, por inteiro, o princípio antropológico de que o eu individual só pode ser entendido a partir da interação com o outro. Alija-se da sociedade o conceito de alteridade que reconhece o outro como um ser diferente por possuir uma individualidade distinta da dos outros indivíduos. “A alteridade expressa e determina a qualidade, estado ou características do outro, ou seja, aquilo que é diferente daquilo que vivemos”.

Assim, cada vez menos precisamos do outro. E, de igual modo, se destitui o outro de importância. As relações sociais só importam se caracterizadas por um utilitarismo pragmático que somente satisfaz ao imediatismo individualista. O bem comum é reduzido à somatória de selfs satisfeitos, não mais como princípio e valor de vida, bem-estar, inclusão e proteção social.

O bem-estar social é um estado no qual as necessidades humanas básicas estão satisfeitas e as pessoas são capazes de coexistir pacificamente em comunidades com oportunidades de progresso. Onde os indivíduos possam crescer sob o olhar vigilante, inclusivo e caloroso de toda sociedade. Amparados pelo Estado cujo poder político e administrativo seja capaz de aportar igualdade de acessos, oferta de serviços e regulação de relações que favoreçam o conjunto dos cidadãos.

Destarte o individualismo moderno ou a consequente estrutura social que o sustenta – ou seria o inverso? -, vivificar os predicados que conduziram a sociedade moderna a este estágio se torna um imperativo. A restauração do tecido social e o retorno ao respeito à pessoa e à vida comunitária implicam repensar as relações de autonomia e liberdade, de reponsabilidade ambiental e valores humanistas e culturais.

Sol de primavera abre a janela do meu peito… a lição sabemos de cor, só nos resta aprender”.

 

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