“Nosso tema de hoje, ‘Qual o Brasil que sai da Copa do Mundo?’, já foi debatido aqui em duas oportunidades anteriores, ambas logo a seguir ao anúncio do Brasil como país sede. A primeira, sob o ponto de vista de infraestruturas e, após quatro meses, fizemos outro debate focando nos aspecto da educação, da educação física e do esporte, incluindo também as Olimpíadas de 2016. Hoje abordaremos o tema mesclando todos estes aspectos e o pós Copa do Mundo. Assim, agradeço a presença de todos e chamo os expositores para compor a mesa: O Milton do Nascimento, foi jogador de futebol, dirige um Projeto Esportivo e é dirigente da Associação Paulista de Futebol (APF). Joseph Barat também dispensa apresentações, é uma pessoa pública, com vasto currículo na área de infraestrutura e transporte, que muito tem contribuído com ideias sobre o desenvolvimento do país. E o Manuel Carlos de Lima Rossito que é diretor na FIESP e empresário”. Assim a presidente do IDELT iniciou o debate, passando a palavra ao primeiro expositor.
Milton do Nascimento: “Boa noite a todos, agradeço ao IDELT o convite e é gratificante ver um publico jovem misturado a tantos ‘cabelos brancos’, poder compartilhar ideias e o interesse pelo esporte e o futebol que é onde atuo. Além de fazer parte da APF, sou gestor do ‘União Mogi das Cruzes’, clube da segunda divisão, sediado numa cidade com mais de 500 mil habitantes, principal pólo econômico e populacional da região do Alto Tietê, local privilegiado a leste da Grande São Paulo. Temos também parceria com o Projeto Bilú cujo apoio permitiu ao nosso time da segunda divisão ficar por quarenta dias na Turquia – sonho realizado apenas por times como Corinthians, Palmeiras e outros grandes que tem infraestrutura maior para realizar esta parte social e trazer conhecimento cultural de outro país. E, o Projeto Bilú que está em oito países, nos deu essa oportunidade, como clube da quarta divisão do Campeonato Paulista. E isso foi muito positivo para nossa luta em resgatar o futebol. Porque a continuar da mesma forma, é possível que na próxima Copa também não dê certo. Nas conversas e discussões na APF com o Prisco Palumbo e demais companheiros, digo sempre que o futebol perdeu a raiz, a sua essência. Temos de voltar às origens para podermos criar o nosso atleta, o homem como pessoa, durante e após sua carreira. Nossa luta hoje é para resgatar o futebol dentro de uma cidade, num modelo renovado de gestão. Desde a derrota do Santos para o Barcelona, já tomamos um puxão de orelha e não acordamos. Agora, na Copa do Mundo, tomamos dois. E, há muito tempo nossos parceiros fora do país, como o Professor João Poll do Esporte de Portugal, vêm falando que o futebol brasileiro está defasado tática e tecnicamente. Deus nos deu o dom de jogar futebol, mas a parte de estrutura da base de formação de futebol, não está sendo executada como era nos tempos de Pelé, Zico, Amaral, Sócrates e outros. Precisamos acabar com os ‘vícios do futebol’ na base. Se não plantar a ‘sementinha’, cuidar e regrar, não teremos frutos de qualidade. Porque hoje, na base do futebol, não se consegue agir de maneira verdadeira com os atletas. Muitos daqueles considerados do ‘pé do morro’, que têm qualidade para jogar, param no meio do caminho. Na Associação Paulista de Futebol, onde passam dez mil crianças por ano, há tantos sonhos envolvendo crianças e suas famílias, mas a maioria fica pelo meio do caminho. Porque não têm estrutura social, nem parceria com o poder público, para dar sequencia na parte educacional e esportiva”.
“A APF mantem um torneio chamado Copa Ouro no final do ano, torneio que antecede todos os campeonatos da Federação Paulista de Futebol e é ali que prepara o atleta e vê se realmente está em condições de disputar pela Federação Paulista de Futebol. É como se fosse um laboratório da FPF. Por exemplo: categoria ‘juniores’; hoje, o último ano dos atletas é ‘94’. Na categoria ‘juniores’ eles são titulares dentro de suas equipes, não podem ficar parados; então jogam pela Associação Paulista de Futebol. A APF é a única instituição que consegue atingir qualidade semelhante ao Corinthians, Palmeiras ou São Paulo com um time do ‘pé do morro’, da Vila Carolina, por exemplo, ou outros times de bairros que são associados da APF. E a Associação consegue oferecer essa oportunidade verdadeira, motivo do alto rendimento da Federação que detém todas as prerrogativas e da Associação que é o Projeto Social e não depende de leis federativas. Entre os atletas de ponta que podemos citar o Neymar, Wiliam, Lucas, o Ricardo Herrera que passaram por lá… Então, a APF dá oportunidade pra o menino do pé do morro, em um dia ter jogado ao lado ou contra grandes craques ainda na base de formação. Com esse exemplo quero dizer que não há muitas oportunidades de formação. Os meninos veem no futebol a chance, mas não têm como chegar lá. Falta apoio, falta investimento, falta formação. E o resultado de tudo isso é que nosso futebol cada vez mais perde qualidade. Só se mantém porque são muitos milhares que se apresentam. E aí, no meio, desponta um ou outro, pelo talento pessoal, mas não por investimento. Fico por aqui e à disposição para o debate”.
Vera: “Muito obrigada, Milton. Passo para o Josef Barat e começo por perguntar se gosta, se é ligado no futebol”.
Josef Barat: “Eu sou ligado ao futebol, sou carioca e torcedor do Flamengo, embora esteja há mais de trinta anos em São Paulo. Gosto de futebol, mas não estou capacitado a analisá-lo. Estava fora do país durante a Copa e li um artigo de um inglês no ‘Financial Times’ falando da derrota do Brasil perante a Alemanha e, muito interessante, dizia que a Alemanha passou por problemas iguais ou até piores que o Brasil. Há quinze anos tomaram a decisão de mudar, o que implicou em uma série de medidas que levaram o futebol alemão a se modernizar, se aperfeiçoar com um objetivo bem definido: queriam ser tetra campeões. E sua crítica era, como o Milton falou, esta falta de atualização do futebol brasileiro, que está defasado, embora os dirigentes não admitam isso. Dizia que há inúmeros brasileiros jogando fora, mas tudo que aprendem lá não chega aqui; é como se eles estivessem fechados num octódromo. Embora não seja capacitado para falar do futebol como esporte, vejo que falta estratégia, falta objetivos. O que se pretende com o futebol? Falta planejamento: o que e em quais prazos serão alcançados? O que o Brasil quer? Quer ser Hexa Campeão? Se preparou pra isso? Ele tem esse objetivo definido no tempo; quando ele vai ser Hexa Campeão? Depois, tem a questão da organização que é ruim! Está superada. É uma organização de pessoas que se apoderaram da CBF e não querem abrir mão desse poder, não tem nada a contribuir, não tem nada a dar para o futebol brasileiro. Finalmente, os problemas de gestão, de como ‘operar’ o futebol, como um dos esportes importante para o país. Não foi a derrota diante da Alemanha; o que surpreendeu foi o 7 a 1. E esse 7 a 1 parece que é uma maldição que recaiu sobre o país; nós temos 7 de inflação e 1 de crescimento. Com esse outro 7 a 1, estamos todos derrotados também no plano econômico. Então, é preciso uma vontade muito forte de querer mudar. Quando cheguei e vi a notícia de que se substituiu o Felipe pelo Dunga, pensei naquele célebre autor italiano de “O Leopardo” (Giuseppe Tomasi di Lampedusa), onde o nobre italiano dizia ‘é preciso mudar, para que tudo continue a mesma coisa’. E é isso o que esta acontecendo: vai haver mudanças, mas as coisas vão continuar como estão”.
“Me preparei mais para falar sobre a questão dos estádios que, agora, são chamados de ‘arena’ que, ao pé da letra, arena é o lugar onde tem areia. Estádios têm gramados. E nisto vejo uma falta de planejamento, de visão do que fazer com esse patrimônio construído, onde predomina a obra em si. São obras da engenharia, algumas delas com grandes qualidades técnicas, seguindo um padrão que foi imposto pela FIFA, mas não se pensou nesse patrimônio com alguma utilidade além do próprio futebol, inclusive em cidades onde o futebol profissional é irrelevante: estádios em Manaus, Cuiabá ou Natal, não fazem o menor sentido, até pela fraqueza do futebol local. O que se poderia fazer era aproveitar a construção dos estádios pra se ter uma sinergia com outros investimentos de acessibilidade, de mobilidade urbana, de se facilitar a vida das pessoas de alguma forma usando aquela infraestrutura, para efeito de educação, de educação física, não apenas para futebol, mas permitir a diversificação para outros esportes, principalmente o atletismo. Escolas de Esporte, públicas mesmo, pra suprir a carência de salas de aula. Então, esse espaço caro, tecnicamente complexo como obra de engenharia, vai ter pequena utilidade para as necessidades do país. E penso ser isso uma grande irresponsabilidade. Primeiro em se fazer uma Copa do Mundo num país com a extensão do Brasil, em doze cidades, seis já estaria muito bom, mas politicamente não iria agradar todo mundo. então fizeram isso. A distância de Manaus pra São Paulo, é a distancia de Lisboa a Moscou e isso seria problema inclusive de natureza de logística também. Mas, no final das contas, tirando a derrota do Brasil, se teve uma Copa que, mau ou bem, funcionou. E funcionou porque era feriado, o movimento dos aeroportos caiu significativamente e o movimento de trânsito nas cidades também caiu muito. E funcionou do jeito que deu; não considero como grande vitória do país fora de campo. Muita coisa deixaram de ser feitas, muitos investimentos poderiam ter sido feitos a pretexto da Copa do Mundo e não foram, deixando as coisas como estão. Lamento que uma oportunidade como essa – e eu estando fora senti isso melhor -, uma contradição, porque estava na Suíça, em Zurique, depois em Genebra -, despertava o interesse as bandeiras do Brasil em todos os lados, e as pessoas assistindo o futebol pela televisão inclusive na Estação Ferroviária. O que me surpreendeu foi a incapacidade do Brasil em aproveitar um evento como esse – maior evento de impacto na mídia mundial! -, e não se aproveitou para divulgar o país que está sediando a Copa do Mundo. As bandeiras estavam lá, mas não se tinha noção do que é o Brasil, a não ser pelo folclore, a praia, o futebol. Porém, através do seu sistema diplomático, o Brasil teria capacidade de difundir matérias para a imprensa mostrando outras coisas. E se não se mostra o lado bom, inevitavelmente vai ser mostrado o lado ruim, a violência, as manifestações que tiveram grande repercussão”.
“Esse período da Copa, o pré e pós Copa, mostra uma coisa muito interessante: antes da Copa uma tensão, ansiedade… o que ia ser, vai sair tudo bem? Vai ser um fracasso? Vai ou não dar certo? Ninguém sabia de nada. Além disso, havia um mal estar difuso na sociedade advindo de razões concretas que se manifestou de forma muito focada na própria Copa, na FIFA, nos estádios, na falta de investimentos e etc. Durante a Copa isso sossegou e no pós Copa, a impressão que dá, é que houve uma espécie de relaxamento geral. Ufa! Passou! Mas isso não quer dizer que está bom. É como se as pessoas tivessem cansado disso tudo. Se a Copa serviu pra aumentar esse mal estar ou se, ao contrário, diminuiu, é uma incógnita. Porque foi uma boa Copa do ponto de vista técnico, tivemos jogos muito bons e deste ponto de vista a Copa foi boa. Mas, passado isso, não se sabe bem ainda o que vai acontecer. Usando o futebol como metáfora, como imagem de Brasil, da sociedade, percebemos que todos esses defeitos no futebol – que não são defeitos de quem batalha nele, de quem luta por sua maioria, de quem esta treinando crianças para um futuro melhor -, são defeitos que vêm de cima pra baixo, são defeitos de organização, de incapacidade de gestão, dificuldades de entender as mudanças que precisam mudar. Isso reflete o que acontece no Brasil, no governo brasileiro, na improvisação, ninguém consegue raciocinar mais de que quatro anos. Quatro anos para poder se pensar em mais quatro”. Não se consegue fixar uma estratégia de desenvolvimento do país, prazos para eliminar certos gargalos. A Coreia do Sul, em vinte e cinco anos acabou com o analfabetismo, mudou radicalmente o seu sistema de educação e hoje é o país mais informatizado e com as escolas mais preparadas para era da informática. Fixaram um prazo e objetivos. Aqui não temos ainda essa percepção de tempo de mudança, o que mudar e em quanto tempo. A Gestão Pública é lamentável, os serviços públicos de baixíssima qualidade, mal geridos. E o que se oferece ao público pelos impostos que paga é coisa deprimente. E isso tudo se reflete no futebol, como também o futebol se reflete em nós, se espelha na imagem do próprio país. O povo trabalha, quer melhorar, paga impostos, luta para ter um horizonte de esperança e em troca recebe serviços de péssima qualidade, má gestão governamental, uma falta de perspectiva e de visão. Assim, esta fase pós Copa vejo como interessante pra se refletir sobre isso. Lamentavelmente, depois da Copa veem as eleições que é um período que ninguém quer refletir coisa nenhuma. Essa coincidência da Copa com as eleições, não vai permitir que se reflita muito, mas depois das eleições, quem sabe…”.
“Logo que terminou a Copa, cunhou-se um chavão dizendo que demos conta. O governo disse deu conta porque o aeroporto não congestionou, as cidades andaram… mas o que causou o mal estar, foi a enorme discussão, isenção para FIFA e seus parceiros, investimentos muito altos para os estádios, carga tributária nacional muito alta, esse era o cenário antes da Copa. O que se salvava era a esperança no futebol que é a alegria do povo que ficou envergonhado com o que aconteceu. Mas os turistas estrangeiros gostaram. Há algum tempo vi uma pesquisa da EMBRATUR sobre a percepção dos turistas estrangeiros em relação ao Brasil e o que me chamou a atenção na pesquisa é que, independentemente das dificuldades das cidades brasileiras, o que admiravam mais era a simpatia, a maneira que os turistas são recebidos, o sorriso, o jeito de lidar. E tenho a impressão que na Copa isso também prevaleceu. O turista vem para assistir um jogo de futebol, vai lá pra Vila Madalena, é uma coisa boa, fica aqui vinte, trinta dias e vai embora. O problema é de quem fica aqui, quem mora aqui. De modo geral, diria que a percepção foi boa. A deficiência do serviço público ficou estampada no Centro de Imprensa, os jornalistas tentando mandar imagens e textos pelo celular ou Notebook e não tinha banda larga funcionando. Essa percepção também ficou. Mas, de modo geral, a simpatia, um pais simpático, de povo que recebe bem, influenciou positivamente. A qualidade do futebol, que se jogou nessa Copa foi excepcional, sendo surpreendidos com certos países que antes não tinham futebol e jogaram bem, Costa Rida, Estados Unidos, os tradicionais Uruguai, Itália, a Argentina também jogaram muito bem. O Brasil tem uma imagem muito bem definida, do ponto de vista do turismo, não é esse o problema. O problema está em não saber o que o Brasil tem; afinal das contas é um país que tem o sexto PIB do mundo, com uma indústria relativamente forte, setores de ponta; a agricultura brasileira no topo da agricultura mundial junto com os Estados Unidos. O governo não soube tirar partido desses eventos para difundir melhor o país. E essa insatisfação penso que não foi embora. Refluiu. Nós já tínhamos esquecido o que era inflação, uma inflação de 7% ao ano sem correção monetária, sem poder proteger o ganho; esse descontrole que é uma coisa séria também está por traz desse mal estar. O sujeito vai ao supermercado e percebe que esta pagando mais caro. A euforia do consumo também foi ao limite, o que se tinha que dar crédito e facilidade de compra pra se estimular a economia já se deu. Tudo isso está contribuindo para esse mal estar difuso, não se caracteriza bem contra o que ele é, mas está presente. Agora, penso que duas expectativas se frustraram: a expectativa do governo em achar que a Copa seria a sua glória a sua redenção e não foi; e o povo separou bem o que é futebol e o que é política, então faturar encima da Copa, não deu. Nem mesmo par a oposição, porque sua expectativa era que a Copa fosse um desastre. A Copa acabou, as atenções se voltaram para o Campeonato Brasileiro, saber se o Flamengo vai pra segunda divisão ou não. Ficou, sem duvida, nenhuma a marca dos 7 a 1, que foi uma humilhação real. E, como disse um jogador alemão, pelo respeito pelo Brasil eles não fizeram mais. E, voltando ao futebol, por todo este esforço que é feito em melhorar a condição esportiva de crianças, de jovens, de abrir-lhes perspectivas de futuro, que possam, pelo menos, ter apoio nessas mega construções feitas e que vão ser utilizadas uma vez por mês ou a cada seis meses em determinadas cidades, vai virar ‘caipiródromo’, show de celebridades, de rodeio… Que possam cumprir sua finalidade que é fomentar o esporte, fazer com que o esporte se desenvolva”.
Finalizada a exposição inicial de Barat, Manuel Costa de Lima Rossito iniciou sua apresentação: “Agradeço ao IDELT, boa noite a todos, parabéns pelo Projeto Bilú, que está investindo na criançada, nos jovens, é necessário esforço e, principalmente, dar oportunidades a quem não tem. Vou fazer uma apresentação mais voltada para a indústria da construção, e espero ser bem claro, ao defender a construção com qualidade, prazo e é o que faço em todas as minhas apresentações. Uma empresa só mantem a porta aberta se ela tiver lucro! Desde que venha acompanhado de ética, transparência, responsabilidade social e ambiental, porque não se pode falhar nisso. Nossa apresentação foi elaborada por todo o departamento da FIESP, inclusive pelo Filemon que é o nosso Gerente do Departamento. E pedi que fizesse uma apresentação isenta. Em nossas reuniões na entidade, focamos em toda cadeia da indústria da construção, no Estado de São Paulo. E, aqui, representando a FIESP, posso dizer que, diferente da indústria de transformação que está em queda em relação ao PIB, a indústria da construção vem crescendo e o setor ocupa cada vez mais espaço dentro da FIESP. A Cadeia Produtiva da Construção, congrega perto de cento e vinte sindicatos e associações, com reuniões semanais e mensais tentando ouvir todas as necessidades, gargalos da cadeia, tentar propor alguma coisa aos governantes e apresentar à sociedade algumas soluções. As Áreas Transversais passam pela engenharia, projetos, arquitetura, serviços técnicos especializados, máquinas e equipamentos, normalização, certificação, qualidade, sustentabilidade e gestão; as Etapas Produtivas, extração, indústria de materiais, comércio e serviços e construção em si. E isso só acontece se tiver obra rodando no prazo, com qualidade, com planejamento e todas as demais necessidades. Então nosso trabalho é fazer a obra acontecer e quando acontece, movimenta toda a cadeia. As atividades e projetos que temos, estão no ‘ConstruBusiness’ que, a cada dois anos, é entregue aos governantes como proposta da indústria da construção. Nesse momento, estamos finalizando nossa proposta a ser entregue aos candidatos a Governador e a Presidente, onde está consolidado todo o trabalho feito semanalmente, diariamente na FIESP, dentro do Programa Compete Brasil, com missões internacionais feitas e planejadas, para buscar novas tecnologias e conhecimento. O Observatório da Construção, para quem não conhece pode visitar no site da FIESP onde estão todos os projetos e nossas atividades; todas as propostas, gargalos, apresentados integradamente. Foi criado na FIESP inicialmente como ‘atividade’, onde estão as demandas dos grupos de trabalho, no departamento da indústria da construção e alguns mais e, agora vai se tornar um Observatório. E o que é que nós estamos fazendo mais? Temos um grupo de trabalho intitulado “Grupo de Trabalho com Responsabilidade e Investimento”, cujo foco é o ‘pós-contrato’, porque ou as obras não acontecem ou acontecem fora do prazo. Desse grupo de trabalho, o primeiro produto será uma cartilha que estará pronta em quinze dias, contendo sugestões da indústria paro o debate eleitoral e, após a eleição, serão transformadas em propostas”.
Slides de Apresentação – “Qual o Brasil que sai da Copa do Mundo ? – Infraestrutura e Legado.
“São Paulo! Este slide leva em conta hotéis, taxi e tudo mais, lembrando que o público da Copa do Mundo, o turista que veio é ‘de futebol’, não é turista de golf ou de tênis. Na média, veio da Europa, da própria América do Sul. O público de Futebol, embora faça parte da elite, em maioria é de classe média, trabalhadores que vivem do seu trabalho. E os números apontam: o volume dos turistas que compareceu foi grande e a Cidade comportou! Mostrou que está preparada. Dos hotéis, a ocupação chegou a 65%, porque não houve congressos e feiras no período, ficaram vazios, principalmente os ‘Cinco Estrelas’. Os mais baratos também ficaram com capacidade ociosa, porque durante a semana são ocupados por técnicos, pessoal de compras, etc. E outro fator que pesou foi a alteração das férias escolares, a diminuiu de eventos, apesar do forte movimento verificado. São Paulo está preparado, temos hotelaria e tal. Há muitas outras coisas a melhorar, mas a hotelaria atendeu bem. Mobilidade durante o evento, o que a gente sentiu? Que só poderia ter a Copa do Mundo se tivesse estádio, e isso aconteceu. Já a mobilidade pra cada estádio, pra cada cidade, aconteceu de um jeito diferente. Em São Paulo, funcionou aeroporto com movimentação grande, foi-se ao estádio de trem, de metrô, de ônibus, de bicicleta e a pé. Na capital, funcionou bem porque São Paulo tem um diferencial, porque tem planejamento mínimo. Mas, falando dos acessos aos estádios, não estou falando de todo o complexo – disso vou falar depois -, ao ‘Itaquerão’ se chegou! Teve feriado, teve planejamento esperando saturação, mas houve concentração de esforços para que existisse mobilidade para se chegar aos estádios. E o turista chegou e saiu dos estádios! As obras do entorno do Itaquerão, aconteceram. E se forem lá, poderão ver que estão prontas. Chegou turista até de navio! E é aqui que começam os problemas. Do navio para fora. Como é que era a estação de embarque? Como é que era no entorno ali do Porto? Como era a ligação? A maioria das estradas que chegam a São Paulo são concessionadas, de bom padrão. Mas, e do Rodoanel para dentro? O que esta acontecendo? O que vai acontecer? Como está a demanda? Isso faltou; tem que melhorar. Quem foi à ‘Fan Fest’ no Vale do Anhangabaú ou tentou chegar no Morumbi, até o Pelé que iria ser homenageado, não conseguiu chegar no estádio. Teve que ouvir a partida pelo rádio”.
“Sobre a impressão que a Copa deixou, já comentado, o turista gostou. De acordo com matéria do Instituto de Pesquisa Datafolha, recebemos mais de 40 mil turistas. E a Copa fez crescer o interesse de estrangeiros por imóveis no Brasil, principalmente no nordeste. O que poderia ter sido melhor, até para ver no que se pode melhorar. A meu ver, faltou planejamento, porque tudo depende dele. E onde planejamento e previsibilidade poderiam ter sido melhores? Respondo com um exemplo: Quando a Copa foi lançada, montou-se uma clara matriz de responsabilidade, contendo necessidades de obra, serviço, comércio e tal. Aconteceram algumas falhas de planejamento identificadas e que serão mais bem trabalhadas para os próximos eventos. Cumprimento de plano de obras, por que não aconteceu? Problemas jurídicos e ambientais, porque o Brasil é um arcabouço de legislações que não se conversam, são legislações independentes e isso dificulta um planejamento real. Importante é previsibilidade na liberação de recursos e normas para seguro e arbitragem. Na questão da mão de obra que está pegando muito no nosso setor, antes quando se abria uma contratação de obra, tinha que buscar o trabalhador, não havia fila em nenhuma obra, mas fila de trabalhador pedindo emprego. Isso acabou”.
“No último mês principiaram algumas alterações no cenário, sendo a principal a falta de credibilidade. Quando não há credibilidade para o investimento, o investimento do comprador de um imóvel passa a ser o endividamento, tanto para compra, como para a reforma ou ampliação. Com a falta de credibilidade e num horizonte tumultuado, ele passou a ter um pouco mais de receio de se endividar. Já há reflexos na área de materiais de construção, na contratação, na indústria de construção. E a produtividade, caiu bastante. Quem trabalha com obra passou a ter colaboradores com uma formação menor, daí haver produtividade menor, com menos qualidade. Outra questão de peso são os acordos coletivos de trabalho, com grande alteração na carga horária. Isso tudo não ficou muito claro, muito real e tem que ser mais bem trabalhado. Principalmente, os problemas com a mão de obra, tiraram competitividade das empresas. Com uma mão de obra menos qualificada, há maior risco de acidentes. Outro fator foi o exponencial de crescimento de obras, acarretando falta de profissionais desde engenheiro até operário do chão da fabrica. Para superar isso, só com investimentos. Assim é que vamos trabalhar a indicação de órgãos profissionais para os funcionários futuros, cuja certificação além de mudança cultural nas empresas, deve vir com algum incentivo fiscal para a empresa que investir na formação e qualificação de funcionários. Outro assunto, a burocracia, esse é um tema muito aberto, do qual falei há poucos dias, por ocasião da visita com o prefeito de Lisboa, quando em almoço na FIESP. Perguntei qual foi o grande norte da sua campanha ao que respondeu que é preciso conhecer os processos; e, ainda, que o ponto central de sua campanha é que ‘no seu governo vai se abrir uma empresa com trinta dias’, já que em Lisboa a dificuldade de se abrir uma empresa não era muito diferente do que no Brasil. Agora, já eleito, disse: “estou abrindo uma empresa em Lisboa em seis horas”. Ao que perguntei como era possível. Por sua resposta entendi toda a rotina do processo que é muito simples: a pesquisa demorava tanto, a abertura e a inscrição outro tanto, rápido. Para abrir a nova empresa em Lisboa é só ir à Prefeitura e vai ter uma empresa pronta para você. Você escolhe o nome fantasia, mas não o contábil. A única demora que pode ocorrer é para fazer um cadastro bancário, financeiro, verificar alguma conta, mas todos os itens de abertura, certificações e tal, já existem porque é uma empresa pronta. Para o fechamento fica fácil também, se demorar muito o próprio sistema que se usa para abrir, ajuda a fechar, para que possa ter novas empresas quando outro procurar.
Manaus: Como é que a prefeitura transfere essas empresas, ela é dona dessas empresas? Ela transfere em que condições em comparação aos custos tradicionais? Tem custos adicionais?
Manuel: “Sim, a prefeitura é dona dessas empresas. Tem um valor simbólico de venda; até brincamos que colocaram o ovo em pé, como Colombo, já que esse processo é muito simples. Falando em segurança jurídica que pesa muito na hora de fazer a gestão de contratos, porque as regras não são tão claras e nem duradouras, se alteram minuto a minuto, os burocratas criam normas a cada minuto, que é o que cria muitos conflitos, muitos processos. Hoje, o judiciário, tem noventa milhões de ações, tudo se entra na justiça! E quem é o maior demandante? É o Poder Público nas três esferas, entre 60 e 65 % é demanda do Poder Público contra o contribuinte ou o contrário. Quando se fala em noventa milhões, está se falando em cento e oitenta milhões… E como as empresas podem fazer investimentos de longo prazo, que transpassa governos, se ela tiver uma demanda administrativa e cair no judiciário, tudo isso incide nas decisões de investimentos. Dai vem também a desoneração do investimento. Em outro debate em que estava na mesa, do qual participavam empresas coreanas e japonesas, falaram que o custo da construção no Brasil é muito caro. Então perguntei a eles porque vendem um carro no seu país de origem por vinte mil dólares e o mesmo carro vem dos Estados Unidos por trinta mil dólares e aqui vendem por quarenta mil dólares. Então falamos da questão tributária, da atuação brasileira, da burocracia. Se quiserem comparar, pela internet, o mesmo automóvel no país de fábrica, chega a metade do valor. Isonomia tributária é importante no sistema industrializado, quando se quer crescer para atender novas necessidades. Se for construir moradias, infraestrutura, assentando tijolinho por tijolinho, não se chega nem perto, por isso temos que trabalhar forte num sistema industrializado”.
“Custo de investimento! É muito delicado de falar, mas o Brasil precisa de critérios claros pra avaliação de contratos, porque hoje não são. Estamos incentivando a ABNT a normatizar uma Política de Formação de Custo, porque ao falar se é barato ou caro, não há uma política clara de formação de custo, o que é tributo, bonificação, quais são os itens que compõem, é preciso ter um referencial. Falando dos estádios, tem estádio que custou 2 bilhões; isso ainda não esta bem claro, esses contratos estão meio fechados. O que se não é o preço, não é o preço de custo de produção do estádio. É um contrato que envolve a construção, os ‘padrões FIFA’, fornecedores padrão FIFA, envolve o financiamento, a empresa que esta ali fazendo o financiamento com toda essa burocracia e tudo que já falei lá atrás. Imagina a hora de implantar a matriz de risco, botar sua garantia real de lucro que envolve manutenção, operação nesse estádio e outros itens. Dentro do valor final, ele tem que ser depurado. E então o debate pode ser mais objetivo. A imprensa também não entendeu muito bem, mas um estádio custou em Londres 500 milhões reais e no Brasil 12 milhões. Mas lá a construção do estádio, a conta da amortização dos juros – e os nossos juros são um dos mais altos do mundo -, na hora que coloca o dinheiro e joga na linha do tempo, e você vai amortizando, vai matando a parcela, os juros representam um porcentual muito significativo. Não estou defendendo ninguém, nem os estádios, só estou tentando elucidar, porque veio à tona no debate, que nesses valores estão operação, manutenção e a conservação desses estádios. E quando se fala em operação esta lá a segurança interna, a limpeza e outras coisas mais”.
“Outra coisa na qual se precisa avançar é no modelo brasileiro de contratação. A legislação é a mesma pra comprar um copo e para linha do metrô; não tem como dar certo. E 100% é feito pelo menor preço. As licitações precisam levar em conta remunerações variáveis, com qualificações ou alguma coisa assim. Outro item importante são os financiamentos. Oportunidades e caminhos a seguir, priorizar o planejamento, contemplando todas as variáveis e obstáculos reais, buscando maior previsibilidade. Porque quando se faz planejamento no Brasil, é feito sobre a situação ideal. E pouco ou nenhum é o das Agências Reguladoras sobre as concessionárias. Pensem como é fazer uma obra com avanço físico e tem lá uma rede de postes; no contrato da concessionária está muito claro que a obrigação é sua e não do poder público. E não se obriga com prazos… E no avanço da obra cruza lá uma linha de água, de esgoto e tal, aciona a concessionária; nada! E as Agências não estão fortalecidas para fazer acontecer. E o planejamento que é feito não considera isso. Ninguém tem controle e essas obstruções pesam muito na velocidade e no planejamento. Portanto, o planejamento tem que ser feito com um Brasil real, porque tem um calendário correspondente aos mandatos políticos, inaugurações, etc. O alinhamento entre os atores envolvidos é importantíssimo. E isso aconteceu na obra da Copa., em São Paulo, obras emblemáticas. Nenhuma parou. O Ministério Público questionou e o judiciário também deixou as questões prosseguirem. Teve algumas greves de algumas categorias, mas foram rapidamente focadas e resolvidas. Problemas ambientais e de licenciamento? Muitos. Mas todos resolvidos dentro de um prazo que permitiu os eventos acontecerem. Nesse arcabouço jurídico talvez seja necessário criar algum mecanismo semelhante à ‘Linha Verde’. Exemplo: uma empresa que importa bastante e tem uma ocorrência, ela entra na linha verde e o produto já vai direto para linha de montagem. Na construção dos estádios, houveram prioridades, e foi criada uma linha verde para isso. Precisamos desse investimento, o Estado precisa também e, quem sabe, possamos rever o arcabouço jurídico”.
“Outro ponto, sobre contratos e garantias, porque os contratos são precedidos de uma garantia e devem ser respeitados. A incidência de assuntos não resolvidos no administrativo é altíssima entre as empresas nas diversas esferas de governo. Também outro assunto, que pesa na conclusão final de uma obra, é a responsabilidade com o investimento, e vem na sequência do ordenamento jurídico, é a questão da governança e da gestão pública. No Brasil passa pela base dos servidores que têm estabilidade. E, em quase todas as esferas, o comando vem por indicação partidária e nem sempre um gestor sai daquela base. Em geral, ele tem dificuldades em fazer a máquina trabalhar e desconhece os mecanismos públicos. E a máquina trava; isso nas três esferas, até por que os agentes de controle passaram a cobrar mais forte. Os servidores respondem aos erros com seus bens, mesmo agindo de boa fé e atividades de ofício. E, se há recurso a uma Procuradoria não se tem prazo, porque estão entupidas. E os processos voltam, pedindo uma série de quesitos e o assunto não chega ao final. Uma coisa que tentando trabalhar, mas com dificuldade de como implantar, até por que a Constituição diz que quem faz a defesa do servidor público são as procuradorias públicas, é uma espécie de ‘seguro’ para servidor público poder tomar os seus atos de oficio e, caso ele tenha sido penalizado e comprovado que isso tudo foi de boa fé, ele tem ali um seguro para cobrir, não precisando dispor de seu patrimônio. Tanto em obra pública com o privada, falo dos dois, quando se licencia empreendimentos, é necessário dar andamento e quando se necessita de uma decisão, não de sistema, mas do servidor público e que seja interpretativa, ela fica parada. Então, não se consegue fazer um planejamento com credibilidade, porque os órgãos, o judiciário e as agências não têm prazo. Talvez, desta forma, se consiga uma maior confiabilidade ao servidor público com mais segurança.
“Por fim, o Barat mencionou, alguém lembrava antes da Copa da Coreia, de alguma marca coreana? Eles usaram a Copa e divulgaram as marcas de seus produtos; você conhecia algum carro coreano? Não conhecia! Assim, perdemos uma publicidade barata porque estava o mundo inteiro transmitindo, e as empresas brasileiras ficaram amedrontadas de misturar suas marca com a Copa e seus problemas. O setor da construção alertava sobre isso, mas nenhum empresário e nenhuma empresa investiram forte, nem o governo enfim, ninguém divulgou. Com os 7 a 1 o país que era fornecedor de talentos, foi abalado pelo resultado, porque tem que ter trabalho de base como o que foi comentado aqui, também não aproveitou. Nem as empresas aproveitaram. Fico por aqui, agradeço a atenção e a oportunidade”.
Vera: “Obrigada pela excelente apresentação dos três que conseguiram cobrir esta confusão toda, que misturou o sentimento e a vontade que o Brasil ganhasse, e a razão que não queria a vitória do Brasil para o governo não tirar proveito… Enfim, vocês três cobriram com excelência tudo isso. Lembrando até do torcedor que é pontual no estádio, porque o jogo não começa atrasado, esse rigor que o futebol tem porque a TV não pode atrasar a programação, a pontualidade do transporte, a fluidez do trânsito, o brasileiro se programa para o futebol, mas não para o restante das coisas. Temos várias inscrições, cumprimento o Manaus que é associado e conselheiro do Instituto; e vamos para o primeiro inscrito”.
Paulo Lourenço: “Pergunto primeiro para o Milton. Fala-se muito nesse ‘Programa Bom Senso’, onde jogam os jogadores da segunda divisão, que estás sendo discutida pela imprensa. Você conhece esta proposta? O que acha dela? Tem alguma ligação com o projeto que você esta desenvolvendo no futebol, nesta gestão em que você esta desenvolvendo?”
Milton: “Não tenho também o devido conhecimento por que isso são ideias que surgem isoladas e cada um puxa o seu interesse. O futebol hoje está precisando de gestão compartilhada de ideias; não posso colocar somente uma ideia minha particular pra que tire proveito dela. Se as confederações brasileiras, federações e associações compartilhassem ideais voltadas para a formação dos atletas e não para seu interesse próprio, as coisas poderiam estar melhores para os jogadores e para o futebol. Não adianta fazer algo prol do nosso interesse, sem se preocupar realmente com atleta de futebol. Esse é no nosso foco, compartilhar ideais em lugar de interesses pra fazer realmente o trabalho voltado para a base, se não fizer esse trabalho para base, realmente o futebol não vai”.
Paulo Lourenço: “Barat, você falou na sua apresentação da infelicidade de ocorreram as eleições logo depois da Copa, disso decorrendo a dificuldade de debater ideias, traçar estratégia… mas, não seria exatamente o contrário? Este não é o momento do debate, de apresentar propostas, afinar o discurso, fazer avaliação, até aproveitando a Copa no sentido de mostrar caminhos novos? Eu tenho a impressão de quem conseguir fazer isso, apresentar e fazer essa avaliação, essa analise estratégica, vai ter possibilidade maior de dar um encaminhamento e se eleger, você não acredita nisso”?
Barat: “Pela nossa lógica seria, mas pela lógica dos políticos, acho que não. porque temos uma forma de pensar mais cartesiana. E, pela lógica, há um grande evento que antecede outro, sendo que o outro é que vai decidir o rumo do país. Logicamente haveria um tempo de avaliação e levar propostas quanto ao desenvolvimento do esporte no Brasil. Estamos falando de futebol, mas a questão abrange o esporte em geral, até por que tem uma olímpiada daqui a dois anos. Não sei se o debate político tem essa sensibilidade; parece que não. O governo vai dizer que a Copa foi um sucesso, a oposição não vai dizer que não foi tão bem sucedida assim, fica a discussão superficial sem aprofundar as necessidades de mudança, tanto é verdade que, mudanças que seriam necessárias e até imediatas não aconteceram, porque substituir um técnico não resolve o problema do país. Houve até uma proposta de se contratar um técnico estrangeiro, mas isso afetou os brios nacionais: como é que o Brasil vai contratar um técnico de fora, mas talvez fosse uma boa solução”. Guilherme atalha: “Isso não é uma decisão política e sim de cunho privado?”. E Barat responde: “Mas ela é privada em política, no fundo ela faz política. Os políticos que resolvam o apoio da CBF; com os cartolas isso é muito difícil de mexer porque tomar uma decisão de mudança num período pré-eleitoral é muito complicado. Seria possível? Não acredito; tanto que estão deixando ficar para ver como fica depois”.
Paulo Lourenço: “Manuel, como você propôs, perdeu-se muitas oportunidades, discutir a gestão, entre outras. Até que aqui em São Paulo, algumas coisas funcionaram melhor. Trabalhei junto às sedes de Manaus e Salvador, elaborando duas propostas para gerir os programas. Discutimos as responsabilidades e se fez um trabalho enorme e, dentro disso colocamos o aproveitamento para divulgar o país. Nenhuma das duas Cidades fez isso. Na discussão de propostas, havia outras empresas com propostas riquíssimas de organização, de como administrar e gerir o legado, a infraestrutura. Em Manaus, cheguei a conversar com o responsável pela Copa em Manaus sobre o Projeto do VLT e outros projetos. Ele disse que ia falar com a Presidenta Dilma na semana seguinte e pedir que tirasse esse item, porque teria que desapropriar muita coisa, iria dar tanto trabalho e o pessoal iria ao estádio de ônibus fretado. Em Salvador, conversou-se muito e no final não se contratou ninguém, não se fez a gestão do programa. Tem problemas iniciais, não tenha dúvida; tem problemas de recursos humanos? Tem, mas tem um problema de decisão política, de vontade política, de visão estratégica, nesse caso específico, onde haviam onze grupos interessados, até internacionais, propostas fantásticas, gente que organizou Londres, gastou-se dinheiro e tempo, todo mundo se preparou e não se fez nada! Não se inaugurou uma linha do Metrô, não se fez o monotrilho, não se fez coisa nenhuma em Salvador”.
Manoel: “Realmente para a indústria da construção é frustrante, por quê? Para mobilidade urbana não falta recurso, falta fazer o recurso chegar certificado e no prazo. Não conheço o caso especifico de Manaus, e cai naquilo que disse: falta uma política de formação de preço. O governante prefere muitas vezes não receber o recurso do que ficar com o ônus de receber e não cumprir um cronograma de execução de obra. É uma visão conceitual que precisa ser mudada. Por que não acontecem as obras de Mobilidade Urbana? Como falei, coloco na minha matriz de responsabilidade que vou fazer um BRT, um VLT e tal, e sou eu lá o administrador. Sei que vou precisar de um projeto de desapropriação com um decreto de utilidade publica. Isso logicamente vai cair no judiciário e não vai ter prazo. Preciso remover as interferências, mas se sabe também que não vai ter prazo; precisa contratar alguém para fazer um projeto executivo e o prefeito também não vai ter prazo. Então, dentro dessa situação, prefere não fazer. Salvador inaugurou um Metrô, agora, depois de vinte anos. E como fazer a gestão? E, acrescentando, o país foi criado e preparado para fiscalizar. E, hoje, os melhores talentos estão nas agências de controle, ‘profissões mais nobres’, entre aspas. Nós, da Indústria da Construção vemos diferente. Pensamos que deveriam estar no setor público, na obra, no chão da fabrica, fazendo acontecer. Hoje os maiores salários, os melhores profissionais, estão na fiscalização. Enquanto que os que estão no chão da fabrica, são pessoas aplicadas, mas com uma formação menor e com muita dificuldade de atender todos os questionamentos. Tem que ter uma inversão; a sociedade deve cobrar uma inversão, e rápido! Como os melhores talentos não estão na produção, não acompanham o que é feito, acabam fiscalizando quem não sabe fazer. Quanto à a questão das oportunidades de apresentar outras coisas do Brasil, já falamos, até o que temos de melhor, inclusive a indústria de esporte, não se mostrou. Há no país algum centro de treinamento de Excelência? Tem, mas não se mostrou para o mundo. Há locais excelentes e agora vamos fazer as Olimpíadas, mas nosso trabalho não foi vendido. Não se vendeu nada do esporte, nem na indústria e o governo também acabou não divulgando as belezas naturais que temos aqui”. .
Gabriel Bernardes Seraphim: “As exposições foram excelentes; parabéns. Participei na gestão passada da prefeitura no Grupo da Copa e vi exigências absurdas da FIFA. Eram vagas para duzentos ônibus e cinco mil automóveis, isso reservado para a FIFA, entrada independente para os convidados dela, e se fazendo todo estardalhaço sobre a quantidade de pessoas. A CET organizou o Autódromo de Interlagos que hoje tem uma estação ferroviária, quando começou a construir não tinha, e nunca deu problemas com cinquenta, sessenta mil pessoas nos grandes eventos. Não me preocupei porque sabia que o metrô, trem e a ferrovia iriam dar conta tranquilamente. E havia planejado pela EMTU o corredor do Tucuruvi até ao Aeroporto, parou, não se fez mais nada, e não sei se vão fazer uma nova linha para chegar até lá”.
“No que você citou, lembro quando planejamos um Parque aqui em São Paulo, nos anos 80. Havia um consultor americano e um dia me disse que não entendia o Brasil. Na escala profissional existem níveis, um engenheiro começa tendo que cuidar de manutenção para saber seus problemas e quando ele vai construir já sabe o problema de manutenção. Depois vai fazer o projeto, e finalmente o coroamento na profissão é o planejamento. E nos órgãos aqui ele via que o Gerente de Planejamento era recém-formado, quer dizer, pouco experiente. É o que a gente viu, quando caiu a gameleira lá em Belo Horizonte, em 66 ou 67 – agora cai um elevado! -, e como engenheiros, começamos a ver que há alguma coisa errada na parte profissional, de carreira. Eu jogava bola na várzea, ao longo do Rio Tiete e do Rio Pinheiros onde existia um monte de campos de várzea, com jogo todo final de semana. Posteriormente trabalhando no Departamento de Estradas e Rodagem do Município, fui participar da construção das Marginais Pinheiros e Tiete destruindo os campos de várzea onde eu jogava. Depois fui Diretor de Obras na Secretaria da Família e Bem Estar Social, um programa para construir 50 creches, e onde coloca? No campo de futebol! E escola, onde coloca? No único lugar disponível que era um campo de futebol de um Conjunto Habitacional. Então, a turma da base do futebol era a turma da várzea, de onde saía o jogador; hoje acabou! Hoje onde está? Nas escolinhas! E falando da Alemanha, ela começou por baixo, foi se reestruturando, e com objetivo chegou lá. Um dos poucos clubes que ainda tem a turma de baixo é o Santos em função da praia que é onde a turma joga. Então, também no futebol, falta planejamento, preparação. Porque o futebol do Brasil sempre enaltecido, elogiado e copiado, acabou! Espero que aja uma reviravolta, você que trabalha nessa área, eu acho maravilhoso, mas desde que se tenha uma base. Daqui dois anos vamos ter Olimpíadas; há o projeto dum tremendo estádio de tênis no Rio de Janeiro; vai construir e depois o pessoal vai continuar jogando tênis? Quantos tenistas têm no Rio? Vocês falaram do planejamento, infelizmente não existe e eu fico triste com tudo isso… Como brasileiro, como alguém que sempre esteve junto com o futebol e de repente vê a casa desmoronar… Podia até cair, mas não desmoronar toda! Meu repúdio a tudo que aconteceu é que não se vê perspectiva de mudança. Por que onde a criançada vai jogar? Nas escolinhas? Escolinha é para quem pode pagar, povão mesmo, não tem. Não quero falar de desvio de dinheiro, de custo, de nada disso. Só da falta de responsabilidade com o pós Copa, com o que vai fazer daqui para frente. O que vai acontecer com a Arena Pantanal, de Brasília, Natal? É uma descrença total… e se não começar na área de base, não muda nunca mais. Muito obrigado”!
Vera: “Após esta intervenção, vamos juntar as demais para a mesa responder todas, incluindo duas perguntas que vieram pela internet: A primeira, de Lauro Santos, é: O que aconteceu com o viaduto em Belo Horizonte? E a outra é para o Miltinho: Você concorda com a filosofia que rege a política de futebol no Brasil? Mas antes peço licença, para homenagear um convidado de noventa anos de idade que veio especialmente para o debate, nos prestigiar, que muito contribuiu na área empresarial. O IDELT mantem um Projeto Permanente chamado ‘Semeadores de Livros’, no qual recebemos livros em doação e repassamos gratuitamente a várias instituições e também ao público em geral. Recebemos o livro ‘Memórias do Brasil’, do Jean Manzon, aquele mesmo do ‘Canal Cem’, que bonito é… Peço ao Barat para entregar o livro a ele”.
Walter Bodini: “Peço desculpas, é que tenho um compromisso. Eu apenas quero agradecer a gentileza, por que eu vim aqui para participar e colaborar apesar dos meus noventa anos, felizmente a cabeça ainda esta inteira, e eu tive ímpetos, vários, para intervir durante as exposições, mas achei que poderia perturbar o andamento e por não conhecer a estrutura dos debates, não o fiz. Prometo voltar, frequentar essas conversas que muita falta fazem para o país!”.
Barat: “Para mim é um orgulho entregar-lhe um pressente e tê-lo aqui conosco”. E, ao sair, o Sr. Walter Bodini foi muito aplaudido!
Continuando, Toninho Damásio: “Miltinho, você falou em fábrica dos sonhos, e não só o futebol, mas o esporte é a fabrica de sonhos do país. Por outro lado, em relação à Copa, nossa mídia ufanista trouxe mais ufanismo ao instalar o clima do ‘já ganhou’. Mas, discutia-se se seria interessante ganharmos com aquela ‘legião estrangeira’ ou perdermos para que nós pudéssemos fazer mais pelo futebol local. Apenas dois jogam aqui, o Freddy e o Jô. E para o Barat pergunto: você perguntou qual é o objetivo da seleção brasileira? Para outros países, Alemanha, Espanha, Holanda, o objetivo continua sendo o de ganhar e disputar o primeiro lugar sempre. Haja vista o número de atletas de base destes países. Portugal e Alemanha neste final de semana disputaram o Campeonato Sub 19 entre africanos; a Holanda fez o mesmo. Então pergunto: falta planejamento para a CBF? E Manuel, há algum tempo, a justiça italiana e o governo deram-se as mãos, pra combater a máfia e consertar o país em todos os níveis, através da ‘Operação Mãos Limpas’; perdemos uma oportunidade com o Joaquim Barbosa?
Nelson Maluf: “Foi dito que, na Copa, as questões de mobilidade urbana foram relegadas para um segundo plano. Sabemos dos enormes problemas das grandes cidades, que não são de hoje, vêm se acumulando. O Metrô de São Paulo pra fazer 70 km demorou vinte anos. Então, por que não aproveitamos essa experiência da construção dos estádios, conforme falou o Manuel, como um legado a ser aproveitado? Tira a parte da operação, por conta do custo, manutenção e operação e vamos pegar o custo da construção propriamente dito e ver se isto extrapolou ou não. Aproveitar essa experiência que fugiu do sistema convencional de licitação que é demorado, entram na justiça, embargos, demora três anos, e depois fica como o Metrô que não sai, e se sair, sai devagar. Por isso penso que esta experiência da construção dos estádios é um legado. Se bom ou mau, não sei, porque não participei e nem tenho os números pra poder falar. Mas é a oportunidade que pode ser utilizada para rever esse sistema para agilizar nossas necessidades de mobilidade urbana e de obras que precisam de mais celeridade, já que o crescimento de demanda é forte e, convenhamos, já estamos atrasados. Deste legado, deixar a ideia de aproveitar só o custo da construção, verificar se extrapolou ou não por esses campos que fugiram da licitação. Não me conformo porque para construir campo de futebol se aboliu tudo, tudo era possível. E para se fazer metrô tem que se andar na regra, levando até quatro anos para por a licitação na rua e depois mais oito pra se fazer a obra. Metrô, ônibus, corredor de ônibus, não são igualmente importantes para a cidade, por que não usar sistema? Como é que ocorreu isso? Por que não aproveitamos para as obras prioritárias de mobilidade urbana que estão atrasadas? Talvez não para hospitais, parte da educação, não vou entrar neste mérito que não é o meu ramo. Mas, especificamente para área de transporte é muito importante. E você colocou o problema da licitação de forma bem clara; considero como legado e tá na hora de se fazer isso”. Paulo pergunta: “Você esta se referindo ao processo licitatório para as obras da Copa, regime de exceção?”, ao que Nelson responde: “É isso mesmo”.
Janos: “Só uma observação: o Congresso que está em férias, examinava a alteração da Lei 8666 que está em tramitação. Está para ser votada nesses dias… E será que eles estão pensando com o mesmo intuito que vocês?”
Manuel: “Respondo à pergunta: por que caiu o viaduto? Por que cai um avião? Por uma sequência de erros e consequências de procedimento que vão desde o recrutamento do piloto, seu momento emocional…, manutenção, abastecimento; por uma série de erros. As empresas envolvidas no estádio, tanto no projeto como na execução, são empresas com mais de cinquenta anos de serviços prestados e até agora não tinham nenhum apontamento. Está sendo apurado, teve manifestações de peritos contratados pela construtora apontando para erro crasso de projeto. Tem que se aguardar manifestação dos peritos da projetista, do órgão contratante. Mas pode-se também falar numa sequencia de erros que podem passar por todas as fases, desde a fase de contratação, verificação, de projeto, de execução. Na questão da contratação de obras de mobilidade urbana – a pergunta é muito boa! -, isso é claro para nós e pros governantes, é que os estádios, na sua maioria, foram obras privadas. Quem contratou as obras do estádio em São Paulo foi o Corinthians, não passou por uma licitação pública. Teve lá indicação de projetos, mas ele escolheu quem queria para construir o estádio, que fez seu planejamento, deu seu custo e, aprovado, buscaram em conjunto financiamentos, garantias e tudo mais. Mas todos trabalharam para sair o estádio. Havia um gasoduto que passava ali e muito rapidamente saíram os licenciamentos ambientais e mudaram o gasoduto. Uma obra do metrô, na sua essência no Brasil, é pública. A linha 4 do metrô, tem mais de vinte anos em São Paulo, foi construída pelo sistema público e operada pela sistema privado. Hoje o modelo é de contratação pública: o Estado apresenta uma demanda, faz o anteprojeto, contrata uma projetista, numa legislação que é a mesma pra comprar um copo e fazer linha de metrô. A mesma legislação, ao mesmo tempo, não pode servir para fazer uma reforma, uma pintura de muro de cemitério numa cidade do interior, e para a Prefeitura ou um Estado estruturado como São Paulo. O problema é como fazer com os ganhos da Lei como a contratação integrada, a questão de projeto e tal, num país com mais de seis mil municípios, cada um com sua estrutura administrativa e com seu corpo técnico e a mesma Lei”.
“A grande sabedoria vai consistir em preservar princípios legais, éticos; despolitizar brigas e disputas entre a área de projeto e a de construção, com a área de material e de governo. A indústria de projetos foi desmontada desde a década de 80. Criaram-se novas empresas, mas não se tem um banco de projetos. Não há utilidade para empresas contratantes terem projetistas, com plano de carreira, este universo não é claro. A necessidade de investimento tem sido crescente. E não há governantes que proponham parar o Estado, fechar as demandas e só avançar onde existirem projetos executivos, obedecer os parâmetros para não ter problemas. É sabido que na hora do edital, não vai acontecer. Esse vai ser o divisor de águas a ser explorado. Para que serve a Lei? Qual é o marco? Qual é o divisor? E a partir de quando só se contrata com projeto executivo? Esse é o grande divisor e não sei se o congresso, nesse momento de processo eleitoral, vai conseguir fazer essa análise”.
Nelson acrescenta: “Tem a linha 6 que também é concessão, não somente a linha 4”. Ao que Manuel responde: “A linha 6 foi licitada agora e o exemplo que dei foi de uma que já estava concedida e em operação. A linha 6 é uma PPP, onde o maior problema foi estruturar um conjunto de ativos ao longo do tempo. Sempre que é um transporte público, transporte de massa, ele tem que ser subsidiado”. Nelson acrescenta que a linha 4 também é uma PPP, ao que Manuel argumenta: “A linha 4 é uma PPP com a diferença em relação à 6, que as obras de construção foram contratação direta. A linha 6 é a primeira experiência de PPP com obra, material rodante, elétrica, operação e manutenção. A linha 4 foi fracionada tendo os riscos geotécnicos, geológicos e outros, assumidos pelo Estado”.
Nelson: “De fato, os projetos são feitos de qualquer jeito, às vezes parciais. Concordo que as pressões serão grandes porque se perdeu tempo, não se fez projeto, não tem projeto brasileiro. Mas sem projeto, vamos continuar gastando muito, gastando tempo, dinheiro e não fazendo a coisa bem feita. Concorda?”
Manuel: “Concordo. A proposta do setor é fazer um caderno de projetos nosso. O Brasil teve um banco de projetos de infraestrutura e de intermodalidade até para se poder analisar uma linha de metrô, por exemplo, na qual se assume todos os riscos. Como serão os projetos de intermodalidade no futuro? Como que vai ter uma linha concorrente de trens? Vai ter corredor de ônibus? Será uma faixa exclusiva ou o sistema de zoneamento vai permitir que se adense do lado onde haverá uma estação? E aquele crescimento de trafego seja… Isso é necessário, entende? O que disse é que ninguém vai parar, até mesmo chefes de governo, se naquele projeto executivo feito, perfeito, ótimo e ideal, por demandas imediatas da sociedade, tiver de ser feita uma linha de corte. As demandas da sociedade são melhores, então tem que ter uma linha de corte. É um debate difícil, mas urgente”.
Nelson: “Na recente experiência com o Rodoanel trecho Leste, muito bem feita, bem julgada, a empresa ganhou a licitação em troca do pedágio do Rodoanel Sul e, com isso, tocou o projeto, a obra do Leste. Experiência para se levar em conta, porque fizeram a desapropriação e as obras por conta deles, com o Estado participando pouco. E junto a dos estádios, são experiências de certo êxito a analisar e aperfeiçoar, buscando agilizar os processos. Manuel pergunta se a obra foi entregue, ao que Nelson responde que foi entregue um pedaço, mas não foi toda”.
“Com um tempinho para fechar o debate e aproveitarmos mais nossos debatedores, passo a palavra para demais respostas e considerações finais de cada um. Informo que os nossos debatedores são voluntários e vêm aqui gentil e gratuitamente nos prestigiar, recebendo um Certificado de Participação e um livro que é entregue a todos os debatedores”, encaminhou a coordenadora.
Barat: “Ele falou em saber o que se pretende com o futebol, com o esporte no Brasil, em ter objetivos claros e definidos, planejamento; mas não percebo clareza de objetivos sendo definida pela CBF ou pelo próprio COB. Minha impressão é que as coisas são lavadas ao sabor do acontecimento. A formação de atletas no Brasil é feita por entidades privadas, pessoas que se organizam para isso, escolinhas dos clubes, mas isso é muito seletivo e prejudica o futebol. Como referência, na Alemanha tiveram problemas sérios de corrupção nas entidades de futebol, problemas sérios com os clubes, de inadimplência e na formação de atletas, brigas de torcedores. E resolveram tomar rumo, colocar disciplina, etc. E a motivação era a conquista do título mundial e disputar todos e chegar com excelência. Outro exemplo: a seleção dos Estados Unidos contratou um técnico alemão, porque não têm esse problema, pode ser estrangeiro; ao contrário, se o cara é bom, trás ele pra cá, Joachim Löw é colega e foi Auxiliar o Técnico da Alemanha Jürgen Klinsmann. E sabia como foi feita a reforma lá, é da mesma ‘escola’ e o time americano teve um desempenho muito bom, para equipe que não tinha aspirações ao título. Claro que os americanos têm mais recursos, mas o futebol lá não é tão importante e os recursos para o futebol devem ser poucos, já que priorizam outros esportes. Toninho esclarece: “São privados, para o vôlei também”.
Barat: “Exatamente. Esse é o caminho. Aqui há uma promiscuidade entre a CBF e seus dirigentes com a política, que já contamina todo o futebol. Pessoas que estão lá há 40 anos e que não saem, não há renovação. Como esperar mudanças? A Copa mostra a força do futebol como esporte popular mundial, é o evento mais visto no mundo, com sua diversidade, diversidade étnica, cultural, racial, tudo no futebol é múltiplo e isso é de grande riqueza. Os times europeus hoje contratam jogadores brasileiros, africanos, onde tem um bom jogador vão atrás, buscam se aprimorar e nós estamos fazendo ao contrário, o oposto O Brasil durante 200 anos foi o maior exportador de café do mundo e não foi capaz de inventar o café solúvel, nem uma máquina de fazer café. Os americanos inventaram o café solúvel eos italianos a máquina de fazer café. O café deu ao país ganhos, transferiu renda inclusive para a indústria, mas não foi capaz de gerar inovações no próprio setor cafeeiro. E o futebol, mal comparando, segue o mesmo caminho. O Brasil não colhe os benefícios da evolução do jogador, não está presente no movimento, na dinâmica de modernização do futebol; tem jogadores de excelência, jogando em times de excelência, mas que não transfere o conhecimento pra cá. Os times brasileiros continuam atrasados, endividados, sem estratégias definidas, modernas, é um jogo de experimentação. O técnico não é bom, então troca o técnico e coloca outro, mas o que o outro vai fazer de melhor? Se a seleção é um ajuntamento de pessoas às vésperas da Copa, sem treinamento continuo, não se sabe sequer quem serão os jogadores. A garotada da internet sabe que o fulano joga no Barcelona, no Internacional ou em outro, sabem os times, mas a maior parte dos jogadores é desconhecida no próprio Brasil. Mudança, então, só com determinação e com vontade de mudar”.
“O Joaquim Barbosa, daqui a algumas décadas, vai ser visto como o homem que mudou o rumo do país. Pode não ter tido o êxito que ele gostaria, mas promoveu uma mudança importantíssima. Claro que não cabe ao STF fazer uma espécie de Operação Mãos Limpas, porém, de certa forma, ele fez isso com o mensalão. Por absurdo as decisões da Suprema Corte do País foram contestadas, foi dado a maior amplitude de Direito de Defesa e os caras queriam levar pra Corte Internacional, numa tentativa de desmoralizar as instituições; mas a resistência do Joaquim Barbosa foi muito importante para levar até o final e processo. Fazendo novamente um paralelo com o futebol, a democracia representativa depende não de pessoas, depende de instituições. Da força das instituições. Na medida em que se enfraquecem, são desmoralizadas, são vistas de forma deformada pela própria população. A democracia se enfraquece; e com ela a possibilidade de mudança, fica no atraso. O futebol depende depende de suas instituições. E não pode haver um futebol forte com determinação de vencer, com uma corrupção violenta como na CBF, nos clubes. Porque não são clubes, são instituições, a CBF é uma instituição”.
“A vitalidade do futebol, sua força, depende de instituições, não só de pessoas. Mesmo se tivesse um Joaquim Barbosa no futebol, sozinho não conseguiria. Com a sequência de dirigentes da CBF nos últimos 60, 70 anos, vai precisar muita força para mudar. Talvez caiba até uma Operação Mãos Limpas no futebol. Porque as mudanças que vêm, se houverem, serão superficiais. O que o Milton faz dependo do esforço dele e dos que estão fazendo junto. Não pode contar com o apoio do Ministério dos Esportes, da CBF, do Governo; pode formar a base pra melhorar o futebol, mas precisaria ter amparo e apoio de entidades públicas. É o que esta acontecendo também nas Olimpíadas, não há investimentos e o País sede tem que participar em todas as modalidades. E se não tem, não é candidato”. Toninho novamente: “A nossa preocupação é só de ter atletas para competir, não pensando em excelência”. Barat: “Temos que pensar. A China fez isso, a Inglaterra, a Rússia fez, porque interessava o número de medalhas. Não pensamos assim; é o evento e pronto”.
“Minha mensagem, diante do que discutimos aqui, é que abrimos muitas perspectivas de reflexão. De como mudar, desde o sistema de contratação de obras, de licitação, de poder dar outra dinâmica a essas grandes obras públicas que necessitam de grandes investimentos. No outro extremo, percebemos que a base que tem que ser formada no futebol, na cultura, no esforço de investir nas crianças. Agora, quando estive em Genebra, onde tudo é pequeno, só no caminho de onde minha filha mora ao centro, contei no caminho uns dez campos de futebol. Resolveram investir no futebol, a Suíça não parecia uma potencia futebolística e provavelmente não será, mas eles têm a ideia que precisam estar presentes e que precisam competir. A questão não é só de recursos. Pode não ter um campo tope de linha, mas você vai ter um campo de futebol onde as crianças estão. Este é o tipo de decisão que está faltando no Brasil. Falta decisão também para implantar mais quilômetros de metrô. Para resolver o problema da mobilidade. Como posso investir na preparação de crianças? Utilizando, por exemplo, um estádio de futebol. Tem espaço para posto de saúde, próprio ou do Estado, que atenda a população; uma escola, um centro de esportes. Aquilo está ali feito, é só ter espaço para isso. Ninguém pensou nisso e será utilizado uma vez por semana, se formos otimistas. Se isso é feito num Sambódromo, pode perfeitamente fazer num estádio de futebol. Levar as crianças para jogar pelo menos uma vez no ano no Itaquerão, já é um negócio fantástico. Poder treinar, poder jogar, ser atendidas num programa de vacinação infantil. O que me espanta é não ter o uso múltiplo de uma instalação tão cara para o país”.
Agradecendo Barat, Vera passou ao Miltinho para suas considerações finais.
Miltinho: “Respondendo à pergunta da internet: com os demais, compartilho a mesma visão. Precisamos que o poder público e os políticos modifiquem o pensamento. Se estivessem preparados com as informações de como se forma a base, saberiam que não é questão de campo gramado ou bonito. A questão é onde se pode ter espaço para desenvolver o dom que Deus deu aos atletas brasileiros. Quando passei pela base no Corinthians foi ‘terrão’. Se não tivermos parceiros na formação como o Projeto Bilú, que nos permite viajar para fora do Brasil, conhecer o que esta sendo feito lá fora, melhorar o nosso trabalho, a gente estaciona. E é o que deveria ser feito pelos clubes brasileiros. Existem técnicos nossos que estão há mais de quatro anos na Ucrânia. Se tivesse este intercâmbio dentro dos clubes em mandar um treinador para fora e ser humilde em aprender, com certeza a atual situação iria mudar e muito. E precisa também envolver a família. Na parceria com o José Luiz no Projeto Bilú, isso acontece. São os pais do atleta que criam esta criança. Dentro do campo ele é um ótimo jogador, mas passa por problemas extracampo que você muitas vezes nem sabe porquê não rende dentro do campo. Então a família também frequenta o Projeto e nos preocupamos também com ela, procurando orientar esses pais para compor junto conosco, porque não adianta dentro do clube dar uma formação e chega em casa o pai ou a mãe dar outra diferente daquela, não valorizando aquele atleta”.
“Respondendo a outra pergunta do amigo em relação a essa ‘legião de estrangeiros’, neste final de semana num bate papo com o jogadores Amaral e Nelsinho, num jogo lá em Paulínia, comentávamos que na época das antigas, para o jogador ser vendido para um time de fora, ele tinha que chegar ao topo do profissional, ir para Seleção Brasileira e depois poderia ser vendido. Essa formação à brasileira, esse amor pelo país, era diferenciado porque ele tinha raiz aqui. Hoje muitos vão embora novos, tem outra mentalidade. E ficam perguntando: cadê os meninos que perderam de 7 a 1? Penso que o problema não é só do atleta. É de toda estrutura do futebol. Pegaram seu avião e estão de férias lá na Europa, Espanha ou em qualquer outro lugar e a CBF não chamou, não conversou depois do ocorrido. Eles toparam esse esquema de não ter uma preparação adequada, de jogar na última hora, jogaram na Copa das Confederações, foram lá e deram sorte, mas o problema é o comando. É como uma empresa, se o presidente não colocar regras, não vai. Durante a Copa, na folga de jogo, vi o goleiro Júlio Cesar comendo pastel na feira. Então pensei, cadê a concentração, quais as orientações dos dirigentes? Assim ganhar a Copa seria um pouco mais difícil. Isso tem que vir dos profissionais e empresários que hoje controlam o futebol, de maneira que treinador e jogador não têm poder de tomar algumas atitudes. As empresas patrocinadoras também impõe regras para seu patrocínio, são muitas coisas envolvidas, o jogador se perde, muda o foco do atleta, para que possa produzir o seu melhor futebol. Nos clubes existem presidentes e conselheiros viciados com o sistema e fica difícil você mudar a visão desportiva. Devagarzinho, estamos conseguindo colher resultados, conseguindo plantar esta sementinha dia a dia no nosso trabalho desenvolvido pelo Projeto Bilú e na Associação Paulista de Futebol. Agradeço a oportunidade e fico feliz de ver que mais gente pensa como nós e que juntos vamos conseguir plantar novas ideias na prática. Estão todos convidados a conhecer nosso Projeto em Mogi das Cruzes, será um prazer tê-los lá, onde começarmos uma nova formatação de base para que chegar ao nosso objetivo que é melhores craques e o Brasil ser campeão”.
Vera: Peço licença e convido o Coordenador do Projeto Bilú, o Pastor José Luiz, para presenteá-lo também com um livro; agradeço sua presença e desejo sucesso ao Projeto que também mantem uma creche, fazendo um trabalho social integrado, é outra visão que começa a surgir no futebol. Conheço iniciativas similares, como o trabalho feito em Santo Amaro da Imperatriz, em Santa Catarina. São trabalhos que precisamos valorizar e apoiar. Parabéns Miltinho pelo seu esforço, esta aqui seu Certificado e muito sucesso. Obrigada por ter vindo. Passamos a bola para o Manuel, antes fazendo a última pergunta vinda pela internet, alias, parece que ela foi feita pra você: quando custou a Copa? Quanto custa um estádio? E para a economia do país, quanto custou a Copa”?
Manuel: “Essa é aquela pergunta que vale um milhão de dólares, se responderem. Mas antes gostaria de agradecer a oportunidade de poder debater e divulgar alguns projetos que a gente faz; aprendi bastante com o Milton pela apresentação do Projeto Bilú, que alcança lá na base e reintegra pessoas à sociedade, essas que tiveram pouca oportunidade, a creche e outras atividades que integram o Projeto. Apresento o Filemon que nos ajudou e comanda a equipe técnica da FIESP, somos diretores voluntários não temos salário, mas temos uma equipe nos ajudando fortemente dando respaldo e coragem pra vir aqui investir. Bem, quanto custou um estádio? A diferença de um projeto muda um pouco: começa pela região, pelo projeto, pelos números dos lugares, os materiais. Numa analise preliminar, ficou caro, poderia ser mais barato? Com mais planejamento e dentro dos prazos, é logico que poderia ficar mais barato, porque tem alterações com horas extras, com contratações precipitadas. Falar que esse ficou caro e aquele ficou mais barato, os projetos são diferentes, a logística é diferente, os custos, comparações de custos com outros país também não dá para se fazer, teria que estudar a questão da carga tributária, a questão financeira e um monte de coisas… Nossa mão de obra, por incrível que pareça, produz menos que muitos países, apesar da nossa carga tributária ser maior, nosso pais tem carga horária menor, mas vamos chegar lá. O recado que poderíamos deixar é que com planejamento e previsibilidade, somos capazes e nós podemos. Taí o exemplo dos estádios que fizemos, dentro do prazo e bonitos, como ela falou. O recado que ficou é que podemos e somos capazes de fazer. Próximo evento grande é a Olimpíada, alguns outros grandes eventos, e não podemos perder esse legado. Quero aproveitar para divulgar, ainda não temos o dia certo, mas a FIESP de forma isenta, dentro do departamento contratou um trabalho da Empresa Júnior da USP, analisando diversos países China, Reino Unido, África do Sul, Coreia em termos de planejamento, de custo, legislação e legado e fez um apanhado de dados da economia e uma pontuação analisando a Copa e, garanto que não fomos o primeiro e nem ficamos no último lugar. E, dentro da escala, não fomos muito bem, poderíamos ter ido melhor, mas fizemos. Obrigados a todos”!
Agradecendo ao Manuel e aos participantes, a coordenadora convidou a todos para os próximos debates, lembrando que na saída poderiam levar para ler os livros do Projeto “Semeadores de Livros”, elogiando a franqueza na abordagem das questões e as importantes informações trazidas. Em Setembro tem mais!