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Tema: “As oportunidades quem vem da crise”

PROJETO SEIS E MEIA EM DEBATE
Tema: “As oportunidades quem vem da crise” Março 2009

Dia 02 último, em continuidade ao PROJETO “SEIS E MEIA”, foi realizado o primeiro debate de 2009 com o tema “As oportunidades quem vem da Crise”, que contou com o economista Thomaz de Aquino e o Consultor Empresarial Jorge Hori como debatedores.

Sala de reuniões lotada, iniciou-se lembrando que a palavra “crise”, de origem latina, na definição do Mestre “Aurélio”, remete a agravamento  súbito  de um estado  crônico, “manifestação  violenta, “movimento perigoso”, entre outros. Deriva, ainda, da palavra crise “acrisolar” (purificar, tirar escórias de metais preciosos), “crisálida” (processo de transformação da lagarta em borboleta). E, então, como tirar proveito da crise? Como “aproveitar” as oportunidades? Como “opor” uma “unidade” (opor + unidade) frente a uma situação perigosa para revertê-la? Podemos ficar esperando que o céu desabe sobre nossas cabeças ou buscar alternativas de enfrentamento, soluções capazes de reverter uma situação. Crise é escolha!

Escolheu, em princípio, o governo falar em marolinha que não contaminaria a economia brasileira. Contrariando a fala presidencial, alguns setores revelaram-se diretamente impactados com sinais de desaceleração: construção civil, metalurgia e siderurgia, produção alcooleira, entre outros. Sinais visíveis de desemprego, redução de horário e salários e  férias coletivas,  medidas para adequar a produção. Hoje, com cautela, Guido Mantega prepara pacotes.

Em sua abordagem inicial, Thomaz de Aquino enfatiza que “para entender a crise é importante entender o que é um banco e como funciona: o banqueiro toma o dinheiro barato empresta e com a diferença cobre suas diferenças e investimentos. Aconteceu que os americanos extrapolaram. Em virtude dos juros baixos, foram feitas hipotecas imobiliárias em cima de hipotecas,  gastando cada vez mais e promovendo endividamento. Quando começou a desvalorização ocasionada pela “bolha especulativa” nos preços dos imóveis, muito não puderam mais pagar, levando instituições financeiras ao colapsoEm virtude de nossa economia diversificada e um mercado interno consolidado, a crise não vai ser tão rigorosa. Historicamente sempre houve crises de período em período. É a maneira que o mercado tem de adequar e se ajustar às novas realidades que a economia vai desenvolvendo com o decorrer do tempo. No mundo globalizado de hoje talvez o Brasil seja um dos únicos países a  ser beneficiado  pela sua condição atual. Nosso país tem tudo: água, subsolo e petróleo. Portanto, nossa dependência será bem menor que os demais países que dependem destes insumos. O endividamento do Brasil é 30% do seu PIB, o da China  10%. Já o dos EUA é duas vezes o seu PIB. E é preciso dizer que o dinheiro não sumiu. Foi parar na mão dos especuladores O sistema financeiro inventou os derivativos. A saída está no consumo e na demanda real.”

 Jorge Hori, provocativo, iniciou dizendo “que em economia não existe dinheiro jogado fora. Caso as pessoas acreditem na crise real pode ocorrer o “efeito manada” que nenhuma estatística pode prever o resultado. A Crise nos EUA aconteceu porque os americanos resolveram adiar suas compras. O consumo excessivo de bens deverá sofrer uma retração pelo medo dos trabalhadores de perder seus empregos. As famílias  detêm o consumo até certo ponto. Já o governo poderá não conseguir  pagar os investimentos se houver diminuição na arrecadação em virtude da queda da produção. Havendo consumo social, consumo de governos, haverá retorno dos investimentos que fazem a economia real se sustentar. Em  tempos de crise, a sociedade fica mais responsável nas compras, evitando os importados para garantir seus empregos. No Brasil a demanda é pela novidade, TVs de LCD, Ipod, celulares. E, caso haja uma retração mais forte, ai sim estes setores serão   atingidos. Os EUA têm importado mais de 60% de seu consumo do mundo. Então, começamos a sentir efeitos claros de protecionismo. Nenhum americano vai querer perder seu emprego para beneficiar o emprego dos chineses. E as cidades não serão as mesmas. Com a crise, a cidade de São Paulo irá diminuir de população, o que hoje já vem ocorrendo. A partir de 2014 as previsões apontam o envelhecimento dos paulistanos e queda da população. Mostram que haverá um êxodo ao contrário para outras cidades e pólos industriais em todo Estado, atraídos por oportunidades que vêm da demanda e de redução de impostos”.

Provocados pelos debatedores, os participantes reagiram à altura. Janos  Kenez, economista, contribuiu afirmando: “O Poder está centrado nos governos, e o governo americano está tomando decisões equivocadas da  mesma forma que o governo brasileiro. Estes equívocos de governo poderão nos levar a  um beco sem saída. Prevejo que a crise não será  longa o bastante para mudar o “status quo”. Iremos sair desta crise com os mesmos problemas  que tínhamos no século passado”.

Contribuindo com suas idéias, Plínio Assmann afirmou que “crise não é oportunidade. Poderia ser no passado, hoje não  mais, apenas alguns irão se beneficiar e a maioria irá sofrer a crise em virtude da falta de renda e desemprego. Antes do estouro da crise, o petróleo chegou a US$ 150,00 dólares, mas a matriz petrolífera da Arábia saudita continua a ter um custo de US$ 2,00. Pergunto onde está o intermediário que ficou com esta enorme fatia, ainda que não tenha chegado à comercialização efetiva, em virtude da crise ter feito os preços recuarem a valores inferiores a US$ 50,00. Meio ambiente: na França hoje se paga por quilo a coleta de lixo, que é um dos problemas que mais afeta governos. Lá se recicla para pagar menos taxa de lixo. O Brasil durante muitos anos cresceu a níveis espetaculares. O que atrapalhou nosso desenvolvimento foram as decisões equivocadas. Apenas dois países tiveram um crescimento maior: Japão e Korea do Sul. Hoje nosso país não tem projeto”.

Profissionais liberais e empresários presentes comentaram que o Brasil está sendo atingindo gradualmente pela crise financeira internacional. Algumas providências devem ser tomadas, para evitar um agravamento ainda maior. Diferentemente da americana, nossa economia mistura alguns traços da economia liberal européia com uma economia colonialista, frisando que das economias colonialista o Brasil foi o único que se distanciou deste sistema. Que o Brasil durante cerca de 100 anos cresceu  cerca de 7% ao ano, sendo este  um dos motivos que fizeram o Brasil deixar de ser uma colônia e torna-se um país autárquico. “Como conseqüência, após os anos 30, foram criadas regras para evitar crises nos EUA e no sistema financeiro mundial. Alguns países, entre eles o Brasil, criaram regras mais duras para controlar o sistema financeiro, tendo o PROER como resultante disto. A grande saída é esterilizar o dinheiro, para ter sustentabilidade futura. Hoje vivemos uma crise clássica, na qual a maioria das pessoas pouco conhece sobre métodos de economia e cultura”, arrematou Thomaz.

E, falando de economia e cultura, desembarcou-se na China. Ressaltou-se que, aproveitando a situação econômica mundial este país tornou-se um grande operador fiscal. “A China tornou-se uma barriga de aluguel para as grandes corporações Internacionais. Até 2030 irá liderar a economia mundial, para isto estão preparando a população. Na área educacional, optaram pelo inglês para se comunicar com o mundo e não o mandarim O Brasil ainda esta atrasado nesta corrida pela liderança mundial. Temos pouca ousadia em escolher  o nosso rumo. A China tem investido muito em sua infra-estrutura estendendo sua malha ferroviária, para também amenizar o impacto da crise. Ou fazemos nossa escolha ou seremos engolidos pelos  nossos concorrentes”, completou Jorge Hori.

“Uma  crise cultural demanda também uma  crise religiosa, valores  devem ser revistos. Quem produziu esta crise?  Está é uma crise comportamental também e os brasileiros  devem ser educados e treinados qualificando esta mão de obra para saber como trabalhar nesta nova realidade pós-crise. O protecionismo dos países fará que a crise tenha um período maior”, comentou Sonia Ferraz.

E, arrematando este riquíssimo debate, finalmente trazemos o que foi apontado como oportunidades.

Jorge Hori diz que “a oportunidade está, por vezes, na desgraça alheia. Na  crise aumenta a necessidade  de médicos, advogados e ai surgem os abutres só de olho na desgraça do próximo. Cidades como Brasília, Florianópolis e João Pessoa não sofrerão como as demais em virtude de  terem suas economias locais baseadas  no  funcionalismo público. Também deve buscar-se mecanismos para barrar o dinheiro é transferido para capitalizar a corrupção. Finalmente muitas lições serão tiradas por gerações futuras, os “greens products” deverão sair com vantagem”.

Para Plínio, as oportunidades estão na produção de alimentos e num sistema produtivo ambientalmente correto.

E Tomaz de Aquino sintetiza: “Caso a crise perdure por muito tempo, os esforços dos defensores do meio ambiente poderão sofrer atrasos. Contudo, vê-se no surgimento de uma nova matriz ambiental e energética oportunidades para auxiliar o Brasil a enfrentar a crise. Outro fator que beneficiou o governo brasileiro foi a melhora na logística, pois em outra época este fato seria um fator complicador. Nas infra-estruturas e na logística há oportunidades importantes. O que muitos querem é dirigismo, um líder e ditadura. O Brasil precisa encontrar seu caminho. Na democracia a matriz é influenciada pela força e pelos interesses. Desta forma os períodos de crise podem ser mais curtos”.

Em tempos de crise vence quem tem ousadia e equilíbrio! Buscar a necessária coragem e determinação para mudar, reduzir, inovar. Usar a criatividade!

O PROJETO SEIS E MEIA é uma promoção do IDELT e do Portal  www.cargaurabana.org.br que acontece sempre às primeiras segundas-feiras de cada mês, às seis e meia da tarde! É claro!

Inscreva-se já para o próximo debate você é nosso convidado !

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