PROJETO SEIS E MEIA EM DEBATE
Tema de Outubro 2009
“PENSANDO AS CIDADES”
MESA REDONDA
A edição de Outubro do PROJETO SEIS E MEIA EM DEBATE, conforme anunciado, ocorreu de forma diferente das demais. Sem debatedores previamente agendados, os convidados trariam suas colaborações e escolheriam o tema. Dentre as sugestões trazidas, escolheu-se “Copa 2014 e Olimpíadas” e transversalmente tratar os aspectos turísticos, de segurança, ambientais, tecnologias, obras, trânsito e transporte.
De saída, Carlos Schad, comentou: “Eu torci tremendamente para que o Rio de Janeiro ganhasse, porque isso vai provocar alguma coisa em São Paulo. Nós vamos ter um período de baixa imobiliária, de investimento urbano muito grande ou o contrário, porque senão São Paulo vai ressentir a falta de investimentos, já que os bilhões vão prá lá. Até lá o prazo é longo e a nossa Cidade terá que tomar algumas medidas. Já se começa investir em Copa, Olimpíada 2016 e a coisa vai embora. São Paulo tem que dizer o que ela faz, mesmo porque a cidade está mudando está se convertendo, não é mais uma cidade industrial. É uma cidade de serviços, de turismo, o que for e então a gente tem que pensar, por exemplo, o que fazer com o lixo. Porque o lixo é importante? Pela vocação da cidade, a questão da reciclagem, a limpeza, o desassoreamento de rios, este é o objetivo. Mas, falando em Copa, queria saber como vai funcionar o mercado imobiliário de São Paulo: terá investimento, vai ser contínuo, investimento de que nível e de que categoria? O Rio de Janeiro em função dessas questões vai trazer possivelmente uma nova era de mega projetos. E em São Paulo, será que vamos continuar fazendo uma pontezinha aqui, outra ali, recapear uma avenida… ou vamos mudar esta cidade como mudaríamos se tivemos uma Olimpíada, como mudaram outras grandes cidades que já tiveram Olimpíada? E nós temos essa capacidade! E quem vai ao Rio, virá a São Paulo também. Da mesma forma que no Rio haverá necessidade de dinheiro, mas as mudanças vão acontecer e vai ser histórico. Precisamos de Planejamento aqui e lá! Mas, neste país se planeja ‘pelo retrovisor’, não se pensa no estrutural… E nós, esses milhões de pessoas aqui preocupados com o trânsito, preocupados com o metrô que está lotado e como é que resolve, põe ‘musiquinha’ na estação para o pessoal demorar mais tempo para ir para o trem, que chamam de ‘Curta na Estação’. Precisa ter compromisso e pensar com profundidade…”
E, em seguida, Jorge Hori que tem trabalhado com a questão da Copa / Olimpíadas, não como evento esportivo, principiou dizendo: “Em primeiro lugar digo que a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 são elementos pra planejar o futuro. Parece um pleonasmo, mas não é: Nós planejarmos! O Schad bem colocou que planejamos pelo espelho retrovisor. O que se faz em planejamento no Brasil é perguntar o ‘quanto tem de dinheiro pra saber o que não foi feito e o que temos que fazer’. Nestas alturas estamos mais que atrasados para a Copa 2014 porque só existe um projeto de futuro das 12 cidades. Todos os demais são projetos para resolver coisas anteriores. Olimpíadas 2016 no Rio de Janeiro, com dois anos a mais, é outra oportunidade forte focando o que poderá ser o Rio de 2022. Na questão da Copa, devemos focar o Brasil de 2015 ou 2017 pelo menos. Qual é a cidade que queremos em 2022, ou em 2025 como o plano apresentado pelo Kassab. Do ponto de vista de recursos, só para se ter uma idéia, os estádios vão custar em média 400 milhões, 12 estádios são 4,8 bilhões. Então o futuro do Brasil é troco. Estou falando de pré-sal, de trem bala, estou falando de plano de investimentos. Os investimentos nos estádios, que se fala que será privado, não é um grande volume e eu não acredito que serão feitos 12, acredito que serão menos, custando o estádio de Brasília mais caro. Então, o foco não pode ser os estádios”.
“Pensando em São Paulo especificamente no Morumbi, acredito que a abertura da Copa não vai ser feita aqui. Isso não é uma aposta. O problema de São Paulo não é participar da Copa, vai participar porque não tem jeito de uma Copa no Brasil e não ter jogo em São Paulo. O problema é que a Copa não é um evento esportivo, a Copa é um evento midiático. O que a FIFA faz com a Copa é um grande negócio de 8 bilhões de euros e esse dinheiro vem dos patrocinadores. Os patrocinadores são os que compram os direitos de televisão. É a Sony, a Nike, etc. Para a FIFA a primeira coisa é assegurar que a mídia tenha entrada. Então, por exemplo, quando se diz é preciso 8 mil metros, 20 mil metros quadrados para colocar os caminhões de equipamentos de informática, é que se não tiver os caminhões haverá problemas para a mídia. Então fica o São Paulo brigando vou colocar aqui, colocar ali, não tem entrada, então precisa? precisa… e acabou. Esses 8 bilhões é muito dinheiro e a contrapartida dos patrocinadores não é só propaganda, uma das contrapartidas é competir com os jogos. O Patrocinador é ‘vip’. Ele vem de outro país, ele vai voar de helicóptero, ele quer estar hospedado ao lado do estádio, hotel cinco estrelas. Mas… tem outro há cinco quilômetros do estádio; não ele quer estar ao lado do estádio. Precisa ter um Centro de Exposições para expor os produtos dos patrocinadores. Onde? Na entrada do estádio, é claro! Não do lado, o pessoal que chegar no estádio tem que passar por lá, num corredor polonês. E ainda tem o pessoal local que são chefes de estado, as autoridades. Na Copa são 32 países e na abertura virão todas as autoridades representando os 32 países. Na final não estarão todos esses países, eventualmente estarão os mais interessados e seguramente estarão os dois da final, mas não tem o mesmo volume que tem na abertura. Então as exigências da FIFA para a abertura são muito maiores do que as exigências da final. Seriam no mínimo 60 mil lugares e lugar para a mídia: o que precisa é um grande espaço para a mídia, precisa de área para os caminhões e o Morumbi não tem área para isso. O São Paulo e o Rui não levaram em conta, não entenderam, ficaram brigando dizendo que não precisava disso, ou seja, ficaram fazendo projeto de Estádio. E fica claro que com o novo projeto que foi apresentado e disponibilizado pela SPturis mostra que não tem área e que não vai ter. O estacionamento é um problema menor. Você tem soluções para fazer estacionamento em outros lugares no Campo Limpo, Vila Sonia, no Jóquei, modelo da Fórmula 1 a FIFA aceita. Não precisam ter 4 mil, 6 mil vagas junto ao estádio. Se tiver mil vagas a FIFA aceita. Dentro dessas circunstâncias, São Paulo, o Morumbi não tem condições de atender para efeitos da Copa. Falam do Corinthians, fazer um novo estádio é tudo bobagem. Em São Paulo há dois lugares onde você pode fazer um novo estádio com 60 mil lugares atendendo todas as condições da FIFA. São dois lugares que tem espaço, um é o Campo de Marte. Você faz o estádio no Campo de Marte que está junto ao Anhembi, tem um Hotel, vai fazer outras coisas e está tudo bem. E tem o Jóquei. Pega toda aquela área que é da Prefeitura, tira o jóquei e faz um grande estádio multifuncional. Tem área e o lugar é ótimo, mas quem vai conseguir fazer isso? A área do Morumbi só teria essa condição dentro de uma perspectiva de desenvolvimento urbano onde você passa a fazer o Morumbi com grande chance comercial de serviços. Tem de raciocinar com uma renovação do trânsito, questão mais importante que a ‘Cracolândia’ e envolvendo uma a área muito mais ampla que vai até a Vila Sonia. Lá vai ter metrô, lá vai ter uma nova estação rodoviária, vai ser um entroncamento e está relativamente pronta. O raciocínio é: você tem uma oportunidade de fazer uma renovação urbana que por enquanto não chegou lá. Toda preocupação é com a revitalização da Praça Roberto Gomes Pedrosa sendo possível revitalizá-la, mas não tem área”.
“A questão trazida pela Copa refere-se aos estádios, sendo mais específico, o estádio para a abertura. O único local com capacidade para atender a FIFA, como planejado, é o estádio de Brasília. Mas tem outro problema. Brasília não tem futebol e não tem espectador para garantir a sustentabilidade econômica desse conjunto. Há alternativas, mas com preocupação única com os estádios. Recife é o único que tem um projeto de expansão urbana e quer fazer o estádio junto com a expansão urbana. Mas mesmo assim é uma ‘Alphaville’, um pouco adiante do Alphaville de Recife. É seguir o caminho da expansão urbana. Lá não tem nada, só tem mato, boi, umas casinhas. A discussão sobre a Copa envolve todos esses assuntos, ou seja, você tem que racionar ou competir. As olimpíadas também, mas sobre olimpíadas adiante farei outra colocação”.
Fernando Gomes comentou: “Eu percebi que você, Jorge, é um estudioso do assunto. Não é o meu caso. Acho que o dado novo é que toda sua análise agora se mistura com o fato de uma decisão que podia ser esperada, que a Olimpíada seria aqui. Também seu raciocínio leva à conclusão de que a abertura da Copa vai ser no Rio de Janeiro, no Maracanã”.
Então, respondeu Jorge: “Não. A política da FIFA é não fazer a abertura e o encerramento no mesmo local. Ao menos que não haja condições… No caso do Maracanã, em função da FIFA, querem derrubar a piscina para a abertura. Então faz a abertura lá e o encerramento no Morumbi… O mais importante é a Olimpíada. A Copa de 2014 não nos preocupa tanto porque a FIFA sempre tem um plano B e o plano B está pronto, é um dos países que já fez a Copa. Se não der para fazer na África do Sul, não tem problema, vai fazer nos Estados Unidos”.
“São dois aspectos”, principiou Toninho. “A mídia tão forte na Copa e nem tão forte na Olimpíada, tanto é, que a Record e a Globo pagaram 350 milhões para transmissões e Chicago oferecia 4 bilhões de dólares. Então são posições diferentes entre a Copa e a Olimpíada. Outra coisa é que a decisão da FIFA em última análise é política. A eleição do ano que vem tem influência e não dá prá fugirmos disso. Por outro lado, ainda que não haja, nem sei se há ou não, uma cabeça pensante e um grupo, têm muita gente discutindo. No Estado, o governador tem dado diversos ‘pitacos’, mostrando-se ativo na discussão. Eu não sei se a FIFA é tão forte. Aliás, a FIFA já não foi tão forte em passado, até não muito distante, quando ela cedeu pra Argentina, na época do militarismo. Então, não considero ponto pacífico que não será são Paulo. Penso que será, e acho importante não ficarmos à margem deste desenvolvimento. O Rio vai necessitar do suporte de São Paulo. De quase todo o país. Até para as Olimpíadas o Rio vai ter que fazer jogos em São Paulo, do futebol feminino e masculino, se é no Pacaembu ou Morumbi, não importa, mas terá que fazer jogos em São Paulo porque o Rio não suporta e tem bem próximo São Paulo mesmo. Então, teremos também jogos da Olimpíada em São Paulo. Além disso, temos ainda duas discussões que passam por este período. O pré-sal é um componente muito sério nesta discussão e a outra é a transferência de tecnologia, também em função do pré-sal; a transferência de tecnologia dos ‘caças’ e um pouco da tecnologia nuclear que voltou a ser discutida no país. Essas discussões todas vão permear também esse desenvolvimento do país nos dois eventos”.
”Quero lembrar que ‘o Brasil já é o país do futebol’ e a Copa de 2014 será no Brasil, assim como a Copa de 2010 será na África! E a situação na África para o ano ainda está bastante precária. Mas, abrindo mais o leque de discussão, trago alguns outros aspectos. Jorge você falou bem: a Copa não é um evento de futebol, é um evento midiático, nisso estamos todos de acordo. E para isso, precisa ter qualidade de imagem, conseguir atingir os cento e tanto países do mundo etc. e tal. A infraestrutura de comunicação existente nestas 12 cidades escolhidas como sede aguenta ou não aguenta isso? Porque a construção dos estádios, onde faz a abertura, é uma questão de planejamento, investimentos, tecnologia e política. Hoje há tecnologia prá tudo isso, até para aeroporto. Se o da Cidade ‘tal’ não agüentar, monta-se um aeroporto móvel ao lado. Há empresas, inclusive discutindo a Copa do Mundo no Brasil, que tem tecnologia prá isso. No China foi assim. São Paulo não definiu estádio, mas a abertura da Copa será complicado e muito difícil tirar daqui. Nossa Cidade tem algumas condições importantes. Eu me preocupo como vai se inserir São Paulo nesta pauta, como aproveitar esta oportunidade. Precisamos pensar em algumas circunstâncias lateralmente em relação à Copa ou à Olimpíada. Precisamos parar um pouquinho para repensar, reposicionar algumas coisas, aproveitando esta boa oportunidade. Inclusive num evento de transporte defendi que São Paulo precisa parar. Se a gente não parar eu não sei aonde vamos chegar. Refiro-me ao legado que a Copa ou a Olimpíada podem deixar para o país. Porque vir aqui e encontrar samba, futebol, mulata e escola de samba não vão sustentar esta Copa. Esta Copa tem um viés de ‘Copa Verde’, tem a ver com sustentabilidade social, de desenvolvimento, ambiental. Eu quero voltar na pergunta feita pelo Fernando sobre como vai ser o Centro de Decisão prá que exista um legado e que esse legado seja de desenvolvimento para o país. Onde está este Centro de Decisão e onde estão discutindo isso? Não adianta montar uma vitrine, trazer oportunidade se este país não puder usufruir disso. O que vamos fazer com a violência crescente? Ainda mais no Rio… Estou falando da preocupação com quem vem como expectador de um evento desse tipo. Ilustro com o exemplo de Barcelona. Barcelona virou Barcelona depois do evento da Olimpíada. Até aquele momento estava tentando se estabelecer. Foi preciso um plano de desenvolvimento prá chegar lá e atingir esse patamar. Decisão que se tomou como diretriz”, disse Vera Bussinger.
Em seguida, a discussão correu solta: “Porque se colocar assunto tão importante como esse na mão de dirigentes de futebol do Futebol?” Jorge respondeu que “não está somente na mão de dirigentes”. “Mas quem está defendendo esse ou aquele projeto, dizer que os caras lá da FIFA não sabem nada do Morumbi são dirigentes de futebol… “Não são só dirigentes de futebol são políticos também e que usam a política com olho nos calendários…, respondeu”, falou Carlos Alberto. “…tem uso político de olho no calendário…”, falou outro. “E o governo do Estado está colocando quem de confiança na discussão com o Governo Federal?” “O máximo de instância colocado aqui foi a SPTuris que é uma instância abaixo de uma Secretaria de Turismo do Município de São Paulo…”. “Mas a SPturis foi designada oficialmente pelo Governo do Estado e ele está atento a delegação …”, falou outro. “Por enquanto esta coordenação está voltada para viabilizar o Morumbi e colocar todos os planos. Isto já está no site, não tenho aqui o endereço, mas pela SPturis vocês podem entrar. Fizeram todo o levantamento de investimentos, mas esta visão maior não existe… E, com esta importância, a imagem do país em jogo, …quem realmente está pensando grande”, arrematou Elias.
Toninho comentou “Eu li na imprensa neste fim de semana uma proposta de transporte por monotrilho elétrico a 15 m de altura. Esta idéia surgiu da Secretaria de Transportes Metropolitanos como solução de transporte para a Copa. Vai ligar o aeroporto de Congonhas ao Morumbi. É uma ligação da estação São Judas à estação Vila Sonia com uma perna para o Jabaquara e cruza com a CPTM no ‘Pinheiros’ e vai passar pelo aeroporto e pelo Morumbi. Tudo isso tem lógica, mas isso surgiu como uma idéia daquelas que podem ser abandonadas a qualquer momento”. “Não, surgiu aqui, essa proposta inicialmente foi da SPTRANS”, disse Jorge. E, continuou Toninho “… mas pode ser abandonada como tantas outras no meio do caminho e não sabemos exatamente porque são abandonadas, qual a metodologia de abandono. O Expresso Aeroporto não se fala mais. Sai da Luz, da Barra Funda, surgiu e depois sumiu. Isso é que estou achando muito estranho que tem muita gente pensando grande, mas parece que não se acertaram. Precisam se acertar porque por enquanto está um samba de crioulo doido”.
“Fazendo um parêntese”, comentou Zabrockis, “tudo que eu já via até hoje a respeito de se fazer a copa aqui, Jorge resumiu em dez minutos; é tudo o que realmente é necessário e ninguém fala. Mas, se colocado na imprensa vai haver uma revolução. Concordo que está sendo tratado como ‘espetáculo’ e os dirigentes não estão interessados em saber o que vai ficar depois. Eu sou são-paulino, então ficava pensando porque não pode ser no Morumbi? Ele explicou em simples palavras porque não pode e aonde pode ser. Muito bom!”
Jorge Hori aproveitou: “Não quero monopolizar, mas tenho estudado e acompanhado as cidades candidatas. Através do Sinaenco tenho chance de preparar 3 ou 4 palestras por mês e tem que estar inteiramente atualizadas. Mas, meu foco não é a parte esportiva, mas sim essa parte do legado e do impacto urbano, da geração de projetos. Existe, inclusive, um grupo pensando chamado de Pólo de Arquitetos da Copa”.
“Algumas entidades brasileiras resolveram colocar sua cunha nisso, tentando se articular, mas os melhores resultados dessa articulação são do Sinaenco, emendou, Vera. “Outros também se articulam. Nós estamos falando em futebol, mas há interesses reais na participação de empreendimentos, projetos, etc. O empresariado do país, não só os consultores, estão se colocando. O Sinaenco entregou ao Governo Federal a sua contribuição organizada. Portanto é o que melhor que se tem como um guia. Por outro lado, todas as cidades, eram 18 inicialmente candidatas a candidatas, que também chamaram suas consultorias, fizeram as análises e apresentaram os tais ‘Cadernos da Copa’. Nestes cadernos, cada cidade dizia o que havia de fazer. Porém, a discussão, que estamos tendo aqui hoje, não ocorreu nem antes, nem durante, nem depois e nem pelos arquitetos. Cito como exemplo, trânsito e transporte. Vocês já imaginaram qual é o planejamento de transporte, não da cidade de São Paulo, mas o planejamento de transporte que as cidades necessitarão para garantir a mobilidade local na época da Copa? E disso, o que ficará para a cidade? Qual é o projeto de infraestrutura que está por trás”?
Respondendo, Jorge Hori comentou: “Duas observações: O Brasil é o país do futebol, mas a torcida brasileira se concentra em poucos clubes, no Rio e São Paulo, exceção feita a Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. Então, primeiro, qual é o legado que a Copa vai deixar? Uma manda de elefantes brancos… Do ponto de vista físico dos estádios, porque o time de maior torcida de Manaus é o Flamengo, o segundo o Corinthians, o terceiro o Vasco, o quarto o São Paulo e o quinto é o Palmeiras. Bem, e o Rio Negro…? Qual o maior time de maior torcida em Cuiabá que vai ser sede da Copa. É o Operário? Não, novamente é o Flamengo, o segundo o Corinthians. Então, quando o Corinthians e o Flamengo jogam enche o estádio, o restante dos jogos não passa de 1700 pagantes. Quando estive em Manaus, tinha um jogo Rio Negro x São Raimundo, dois principais times… Ah estava chovendo, nem vai… E onde estava o pessoal? Todo mundo na Copa do Brasil, assistindo o jogo Vasco x não sei quem. Não vamos nos enganar com isso. O Brasil, sendo país do futebol, tem ‘torcida’ e vai encher os estádios em todos os lugares. A questão da infraestrutura para a Copa tem dois gargalos. Um, em algumas cidades, é hotelaria. Outro que são aeroportos, podendo ter soluções temporárias, mas é um problema de hardware e software. Software dá tempo de treinar, de montar, etc, mas é um gargalo porque a Copa não é só problema dos estrangeiros. Os times jogam em várias cidades, eles se movimentam. No Brasil, pela dimensão, pode ser que eles regionalizem. Mas mesmo regionalizados nenhum time vai jogar, mesmo na fase inicial, na mesma cidade. Pode ter uma base, mas vai jogar em três cidades diferentes. E toda vez que o time circula toda sua torcida vai junto. E isso é o grande gargalo. O resto dá-se um jeito para arrumar. Tem congestionamento, tem acessibilidade, mas estamos falando em um mês, falando de 164 jogos divididos em 12 cidades. Dia de jogo faz-se uma operação especial, aquela coisa, não saia de casa, libere as ruas… Isso aconteceu no Pan do Rio de Janeiro. Então é o seguinte, prá efeitos da Copa não vai ser muito diferente. A questão é sempre esta: já que não vou fazer a Copa e depois vai vir a Olimpíada vamos fazer o que não foi feito antes. Vai fazer o Metrô, e já está fazendo, e aí inventam vamos fazer a ligação entre São Judas e Vila Sonia. Dá prá fazer o Metrô ou não, é muito caro? Então vamos fazer o monotrilho. Alguém inventou, é uma boa idéia, quanto vai custar, então vou pedir para o PAC da Copa, que é o dinheiro do Governo Federal para as obras da Copa. São Paulo apresentou dois projetos, o terminal rodoviário na Vila Sonia e essa ligação por monotrilho entre São Judas e Vila Sonia e na verdade a ligação importante que vai ter demanda é Aeroporto-Berrini. Mas, aí aproveita como o fura-fila, já que vai fazer essa ligação, aproveita e leva o trecho até Jabaquara passando pela Avenida Indianópolis que aproveita as vias existentes para colocar no meio os pilares para botar o monotrilho. Tem sustentação? Não tem. Não é sustentação física, não é de engenharia. É sustentação econômica. Então na questão dos estádios é sempre uma questão de sustentação econômica. Então é evidente que do ponto de vista do interesse, de planejamento, de desenvolver as obras existe toda uma oportunidade. Esta visão do paradigma de Barcelona não foi assumida em nenhuma das cidades. Nenhuma está sonhando, vai aumentar o turismo, inserção dentro de um planejamento urbano, pragmática, realista e onde a Copa é o efeito catalisador, não existe. Todas as listas de obras – no geral é uma lista de obras-, de repente tira da gaveta e diz: já que a Copa vai ter dinheiro então eu vou colocar…”
Só pra ter uma idéia, eu comecei este processo precisamente em Fevereiro de 2007 com o tema para o Enaenco de 2007 que era no final do ano. Como consultor do Sinaenco, propus que o Enaenco cuidasse da Copa 2014. Quando você joga com o futuro você joga com o calendário. Então pelo calendário a FIFA iria dar uma definição em Outubro. Então em outubro a FIFA iria estar definido e em Novembro iríamos discutir e preparar. Então o Enaenco, em novembro de 2007 propôs para a Marta e o Orlando Silva que levasse para o governo que fizesse o PAC da Copa. Até hoje o PAC da Copa não saiu. A Abdid dizia estamos preparando isso, vamos fazer um convênio com o Ministério dos Esportes. Fizeram e tiraram os outros da jogada. O levantamento da Abdid não foi dado à público até hoje. E o grande problema é o seguinte: tem dinheiro? Dizem que tem. Mas quanto é a soma dos pleitos dos estados? O governo federal não está conseguindo definir prioridades pra dizer quais são os empreendimentos de infraestrutura, fora a Infraero que é área federal, mas quais são os investimentos dos estádios e dos municípios que o PAC vai apoiar com recursos a ‘fundo perdido’, recursos da PGU. O BNDES tem uma linha vai lá e se tiver condições de amortizar …”
“Você está falando em investimentos. Será que não conseguimos ter recursos suficientes para um investimento que sirva a Copa, mas sirva as Cidades? Nós estamos falando de projetos de desenvolvimento de maneira global…”, questionou Carlão. E, emendou Toninho “O ‘Projeto Roberto Marinho’ que está aprovado na Emurb é um projeto bacana. Tem 2 ou 3 pistas expressas de cada lado até o túnel e faz uma ligação até o aeroporto…, mas deve ser levado até o fim, porque se ficar anos e anos discutindo, se engalfinhar por meia dúzia de viadutos que é mixaria perto do que estamos conversando, do dia prá noite surge outra coisa…”
Jorge respondeu: “O que eu disse foi que fora a questão dos aeroportos, na maior parte dos casos, inclusive em São Paulo, não precisa nenhum investimento em infraestrutura. Se fizer muito bem, a cidade é outra. Portanto o planejamento da infraestrutura não é para a Copa é para a cidade e o que é vital para a Copa em relação ao Morumbi é o Metrô Vila Sonia. Você vai ter as estações Vila Sonia e a Estação Morumbi é uma segunda etapa a 1.200 metros do estádio. Isso atende as condições da FIFA. Então se pode dizer que não basta uma estação, vai fazer o monotrilho etc. A questão da mobilidade para a Copa utilizando o Morumbi não depende mais de nenhuma obra específica. Têm as obras da Copa, mas o que precisa são as obras para a cidade. O que pretende o prefeito para melhor funcionamento da cidade em 2014, em 2015, em 2020 deve ser prioritário”.
Janos atalhou: “Não é certo que a abertura ou a Copa seja realizada no Morumbi… tem que ter local para imprensa e uma série de condições que ali ainda não foi resolvido”.
Toninho, novamente, acrescentou: “O planejamento da FIFA determina que os ‘cabeças de chave’ joguem duas vezes na mesma cidade e uma joga fora. Em todas as Copas tem sido assim. Outra coisa que a FIFA tem feito é direcionar, onde é possível, os países para localidades onde tem público: Itália – São Paulo, Alemanha – Rio Grande do Sul ou Paraná, esses são cabeças de chave. Há uma possibilidade muito grande de que a Itália, pelos laços, jogue em São Paulo. O Palmeiras já ofereceu para eles se concentrarem lá. Isto é outro handcup favorável. Infraestrutura talvez não seja necessário, mas se fosse para brigar palmeirenses e são paulinos, palmeirenses e corintianos e corintianos e são paulinos precisaria de uma baita infraestrutura e ainda assim não dá… E, Vera brincou “…você quer trazer todos pro Bixiga”! E Toninho concluiu: “Estou pensando com a cabeça da FIFA. A Itália vai jogar no Nordeste ou na Amazônia? ‘Duvido’! E, seguiram-se vários comentários “… não, tem jogar em São Paulo porque tem italiano ou colônia de italianos… “Sorteia cabeça de chave, mas define o local…”.
Carlos Schad retomou: “A FIFA exige outras coisas, quem manda é o sujeito que tem que dar resultados. É como o marqueteiro da política. A visão de resultado é que é que vai definir. Não precisa necessariamente que o jogo seja em São Paulo porque tem colônia de italianos. Precisa saber exatamente qual a cota de ingressos que vai ser vendida no país. Isso já vem de fora. A coisa mais sagrada para a FIFA é o ingresso. E, é claro, o patrocinador. Ele é o rei. A AmBev (Brahma) está pagando um processo violentíssimo até hoje porque mandou fazer aquele marketing emboscado na Copa. A torcida aparecendo com Brahma quando o patrocinador era a Budweiser. Toda Copa termina com 500, 600, 700 ações na justiça e sempre vai ter aquele sujeito querendo tirar vantagem. E aí vem outra questão, como é que vai funcionar a pirataria aqui. Não interessa o futebol. Quero saber se teremos banheiros públicos limpos suficientes vinte e quatro horas durante esta Copa. O trânsito como é que vai ser”?
Novamente Jorge: “Quando o governo federal diz que não haverá dinheiro público nos estádios, é preciso interpretar adequadamente. Ele está dizendo que não haverá recursos a fundos perdidos do Orçamento Geral da União para investir em estádios. Isso não quer dizer que não haverá financiamento do BNDES para quem tiver condições de tomar empréstimos. Os governos estaduais que não conseguirem fazer parceria PPP vão arcar com o orçamento estadual para fazer os estádios. Brasília desde o começo assumiu que é estadual. Para o BNDES financiar, primeiro ele vai ver se o interessado tem limite, se tem capacidade de endividamento e se tem capacidade de pagamento. Se tiver, o BNDES tem o financiamento, se não tiver vai ter que arcar sozinho. Provavelmente, Amazonas e Mato Grosso terão que arcar sozinhos. Em São Paulo o estádio é privado, então vai ao BNDES e acerta a engenharia financeira. Para o São Paulo, a Arena da Baixada e Beira Rio isso não é difícil, é só uma questão de formatar esta engenharia. Evidentemente sempre tem critérios ‘políticos’, mas isso não é o problema”.
“A questão do legado no caso dos estádios ainda está em curso. É o que chamo da ‘fácil midiatização do espectador de futebol’. Não vou dizer que é elitização, digo que os ingressos para jogos de futebol nesses estádios custarão no mínimo sessenta reais. Não estou falando da Copa porque o valor do ingresso é maior e a receita é da FIFA. Estou falando do legado, depois da Copa, ingresso mais barato, sessenta reais, meia- entrada trinta reais depois cem reais, duzentos e cinqüenta reais. Ingresso médio entre sessenta e setenta reais. Significa o seguinte: no Pacaembu, quando o Ronaldo voltou teve 32 mil expectadores e renda de 1,5 milhões, com banheiro químico, sem camarote. E o Corinthians e o Palmeiras já estão nesta estratégia. Vai acontecer é que o padrão de estádio não será mais de gigantões, não são mais os Maracanãs, não são 60 mil. Terá no máximo 40 mil lugares, o que vai viabilizar economicamente os estádios. O que vai ficar como legado é esse conceito e quem está definindo muito claramente é a Arena da Baixada, é o Atlético Paranaense. Então os estádios não são para o povo. Precisa ter segurança, comodidade para as pessoas irem com a família. Justificativa do tipo ‘povão vai assistir jogo pela televisão ou vai ver o jogo nos telões e uma vez ou outra poderá guardar dinheiro para ver uma final no estádio, ou quem ia quatro vezes irá uma vez. Este é o legado que está sendo montado em torno dos estádios. Isso não é o futuro, isto já é presente. O Flamengo e o Atlético não estão nesta linha. São Paulo está um pouco. Ingresso médio de São Paulo e Corinthians por trinta e dois reais. A média do Campeonato brasileiro é dezesseis reais. Para viabilizar economicamente precisa ter pelo menos 70 jogos / ano, 70% de ocupação média e ingresso médio de sessenta reais, sem o que, entre oito a dez mil por assento é inviável. Essa montagem que está sendo feita vai relar nisso. O estádio do Palmeiras está dentro desse conceito. O eventual novo estádio do Corinthians, se não for o Pacaembu, vai estar ser desse jeito. Portanto não existe a possibilidade de ‘não vai ser no Morumbi então vão fazer um novo estádio’. Não será feito nenhum novo estádio em São Paulo acima de 40 mil lugares”.
E, novo burburinho… “… quem está mais adiantado nisso é o Palmeiras, projeto, financiamento, construtora, está redondinho não está”? “Ainda não está, há problema ambiental, mas não é. Na realidade com a crise, agora estão recapitalizando…” “Eles inventaram obstáculos para poder adiar a obra…”
Então Vera propôs: “Somos todos apaixonados por futebol, independente de time, estádio e torcidas. É mesmo um espetáculo! Mas, nesta segunda parte, vamos falar sobre Olimpíada. O Schad começou dizendo que esta Olimpíada está no Rio de Janeiro e o que sobra para o resto do Brasil? Sou um pouco menos cética e acho que é possível que esses resultados sejam apropriados por outras cidades e seus cidadãos. Estamos lembrando Los Angeles e penso que, em termos de urbanismo, está bem colocado. Barcelona fez um projeto, decolou e se estabeleceu modernamente. As mazelas da Copa do Mundo e as mazelas da Olimpíada, particularmente no Rio de Janeiro, teremos que enfrentar. Por exemplo, o turismo caiu nesta região e migrou para o Nordeste por conta da droga. E lá também há o roubo, a prostituição. Outro tipo de ação é possível até lá? Vamos fazer esse exercício que o Carlos propôs: vamos focar, vamos nos transportar pra lá, para o momento da Olimpíada. Como nos vemos nessa situação? O que você, André, gostaria de ver lá, sendo hoje um jovem estudante de Economia”?
André: “Em termos de Olimpíada no Rio de Janeiro, talvez eu seja um pouco pessimista também. Não consigo enxergar um legado. Em nem sei realmente qual o objetivo de trazer a Olimpíada para o Rio de Janeiro, se é objetivo de ser a Barcelona futura ou se é o destino da China prá mostrar o poder que alguém ainda acha que o Brasil vai ter um 2016 ou se tem ainda a desculpa de esporte. Pouca gente acredita porque o Brasil não tem praticamente nenhum incentivo em termos de esporte Olímpico. Foram três medalhas de ouro na Olimpíada passada. Então, pergunto qual é o objetivo da Olimpíada no Brasil? É prá mostrar força, ou prá tentar desenvolver o Rio de Janeiro ou vai ser como a vinda do Papa, a vinda do Bush, tira as favelas por um mês, fazem um esquema de ônibus por um mês, aeroporto móvel, banheiros químicos e depois voltamos à normalidade”?
Fernando arriscou “Eu fiquei sabendo que o país sede tem direito a ter participantes em todas as modalidades olímpicas. Então tem essa vantagem esportiva, mesmo que não tenha índices, sem tempo e mesmo sem competência para estar...”
Janos: “É claro que a questão esportiva é importante porque tem um efeito de demonstração extremamente positiva. É uma injeção de ânimo à prática ou incentivo ao esporte que nunca teve. Mas, talvez diferente da Copa, a Olimpíada possa deixar uma estrutura física de treinamento, de continuidade desses esportes que não tem no Rio de Janeiro e em outros lugares”.
Paulo Matos “Vejo o foco da Olimpíada como um desenvolvimento do esporte em escolas, coisa que o Brasil hoje não tem. Os jovens, essa mocidade raramente estão preocupados com o esporte. Eu vejo isso aí no dia a dia. Eles preferem cair nas baladas, mas esporte que é bom eles não estão muito a fim. Talvez a Olimpíada traga um pouco mais a juventude, a mocidade ou até o garoto que está com 10 ou 12 anos, já que temos 7 anos pela frente. Talvez eles desenvolvam uma mentalidade diferente. São os mesmos heróis da Copa, do Basquete, do Vôlei se renovando a cada cinco anos e não a cada ano. Um ou outro se destacando nas seleções. Você precisa acabar uma seleção prá se criar uma nova, é isso o que a gente vê no dia a dia em qualquer esporte. Então acredito que seja uma disposição…”
Janos: “Esta também é outra característica diferente da Olimpíada em relação à Copa. Então não estamos preocupados com o jogador de futebol, quem vai jogar lá e tal, porque tem quinhentos mil jogadores aí, coloca onze jogadores em campo e está pronto! No esporte olímpico, desde já, precisaria ter as escolinhas funcionando com treinamento planejado e sério. Quem passa os detalhes, quem vai enxergar os diversos esportes prá em 2016 fazer bonito. Também esse é o legado humano”.
Zabrockis: “De todo investimento a ser feito na Olimpíada o que vai sobrar para nós? No Pan-americano era 400 milhões que virou 4 bi, o que sobrou para o Rio de Janeiro? E da Copa do Mundo o que vai sobrar para nós brasileiros depois de 2014? Falamos de Barcelona. A maior rival de Barcelona é Madri. Precisavam provar que tinham capacidade para fazer e fizeram. Falam da China, os caras lá continuam respirando com máscaras e tudo mais. O que ficou e o que vai ficar prá nós? Está se falando muito em esportes, mas o torcedor está interessado em assistir aquele evento que ele pagou, vai e acabou. Quem vai se preocupar com o legado? Não é o torcedor. É o político, eles são as cabeças pensantes e tem que pensar no depois. O torcedor é muito imediatista. Se ele quer assistir o jogo, ele vai, sem bandeira, no engano, mas ele vai. Agora quem vai dar transporte, educação e tudo mais. Todo esse investimento, será que está sendo usado com essa pretensão ou outras pretensões como nunca antes foi feito neste país”?
André: “Queria falar sobre esse otimismo em relação ao desenvolvimento do esporte. O Pan-americano, exatamente como o Zabrockis falou, teve a mesma história, a mesma intenção de desenvolver…. Teve o Engenhão que foi construído e hoje está alugado para o Botafogo, parece-me que por trinta mil reais / mês, que é pouquíssimo dinheiro em relação ao que foi gasto. As pistas de atletismo e as piscinas não são usadas. Teve outro Centro de Esportes que eu não sei exatamente, mas vi uma matéria na ESPM dizendo que virou uma balada, justamente falando sobre o aspecto do jovem de hoje. Então eu não sei se este local foi planejado prá isso mesmo…” Jorge Hori acrescentou: “….Só uma contribuição, isto foi planejado para ser uma arena de multiuso… Foi programado e realmente está sendo usado com este fim…” E Zabrockis também interviu: “Eu nunca vi o Engenhão cheio, nem no Pan-americano”. E Andre prosseguiu: “… completando, o exemplo recente de 2007 não é parâmetro para usar a mesma argumentação, para jogar fora uma Olimpíada nove anos antes, mesmo porque ainda dá tempo para desenvolver o esporte”.
Vera acrescentou: “Foi um vexame aquele Pan-americano, o pessoal entrando e ainda operários terminando as coisas e enfim… Outra noite assisti um programa, não sei qual é o canal, mostrando a construção da Vila Olímpica da China. Eles montaram no meio do nada e do jeito que montaram passou o evento, foram lá e desmontaram. Tinham patrocínio violentíssimo, aliás, há uma briga pelo patrocínio das Olimpíadas. Na realidade era uma briga pela divulgação de tecnologia… Eram interesses pesadíssimos. Bancaram o investimento e dias depois nada ficou, nem para alugar. Então como é esse padrão, nós temos condições de bancar isso”?
E, Andre perguntou: “É nossa hora de fazer a Olimpíada de 2016”?
Carlos Alberto: “Fiquei chocado com a perspectiva da viabilidade do futebol com estádios menores e ingressos mais caros. Isso praticamente tira as torcidas, o povão do espetáculo. No país do futebol e justamente o povão que dá alegria nos jogos, e fiquei muito triste com esta informação. Não vou a um estádio há muito tempo e nem fico curtindo esporte, ginástica olímpica e tudo mais, mas me lembrei do Sambódromo do Rio, da escola que o Brizola fez. Não ficou um sambódromo às moscas, ficou um espaço que pode ser utilizado para turismo e educação. Diferente de São Paulo que ficou às moscas, que poderia ter as mesmas atividades. Acredito que um projeto bem articulado em cada cidade que vá pensar na Copa e mesmo nas cidades que não esteja pensando, esse fenômeno cria uma alegria muito grande. O pessoal fica imaginando que vem muito dinheiro, que vai ter muita obra e muita mudança. Fica uma expectativa muito grande, que se vai ganhar muito dinheiro, ter aquela alegria dos campeonatos, das disputas e toda a mídia em cima. Se essa Olimpíada for bem conduzida nas diversas regiões, Estados e Municípios pode ser um embrião para que as crianças hoje com 8 ou 9 anos a começar dar atenção ao esporte olímpico. Clubes como o Palmeiras e Pinheiros também já fazem isso. Mas não se vê nas cidades brasileiras uma movimentação para isso. Isoladamente, se vê algum esportista que se sai bem nestes esportes, sem patrocinadores, usando seus recursos próprios para chegar lá. Se for essa a possibilidade da Olimpíada, será bom para desenvolver o esporte olímpico no país. Se cada governador ou prefeito resolver que é importante sua cidade se fazer presente nas Olimpíadas e começar a investir nisso agora, penso que pode mobilizar o país inteiro para 2016. Agora, sobre a Copa, penso que tudo está aí está pronto e dá prá fazer. Penso que o existente é suficiente porque se faz tanto campeonato, tanto jogo em muito pouco tempo também.
Toninho: Talvez um dos maiores problemas do país seja exatamente a mídia. O Pan, com uma boa cobertura, mas que ainda foi pequena, não chamou muito a atenção. Ainda assim, o legado social do Pan é muito forte. Quem está na periferia consegue verificar isso. Passamos a ter a partir do Pan, uma série de escolinhas, de pessoas se interessando, de pessoas até já se sobressaindo em todas as idades daquelas que assistiram aos jogos. Nós cometemos alguns erros no Pan que não poderemos mais incorrer para a Olimpíada. Mesmo aquela estrutura pensada para o Pan do Rio, agora serve para algumas coisas e servirá para nortear os novos rumos para a Olimpíada. O maior problema mesmo é a mídia que diz que não temos tradição em outro esporte a não ser futebol. E é exatamente a mídia que só dá espaço para o futebol. Talvez precisássemos aprofundar a discussão sobre a mídia no país. Se informassem, todos saberiam que há no Ministério dos Esportes uma pessoa bastante competente e que tem feito um trabalho excepcional. Nós é que não temos conhecimento.
Fernando: “Há certo ceticismo com a capacidade de realizar um investimento desses, dentro dos padrões de eficácia e eficiência, de retorno, etc. Esta me parece uma discussão de ‘paulista’. Hoje, em um jornal de São Paulo, um desses cronistas cariocas diz que ‘esperam que os paulistas façam esta fiscalização’ para prevenir o que aconteceu no Pan. Outro comentário da imprensa hoje é que todos os grandes capitães da indústria e também da mídia estão sediados em São Paulo. Os grandes empresários de projetos estão aqui, arquitetos e outros profissionais, e São Paulo vai fornecer a parte física e da inteligência auxiliando a Olimpíada. Acho que precisamos de mais cuidado nessa parte, as coisas vão se realizar lá e devemos ser mais modestos… São Paulo tem que fazer essa parte de planejamento, fiscalização e de controle que eles próprios, os cariocas estão esperando que os paulistas façam“.
“Complementando o Fernando que falou sobre os capitães da indústria estarem em São Paulo, lembro que o capitão da mídia está no Rio de Janeiro, e é a Globo”, disse Janos. “Outras emissoras também montaram grandes estruturas de produção como a Record no Rio, muito maior que a de São Paulo. E, se não me engano, a estrutura de telecomunicações do Rio de Janeiro também é melhor que a de São Paulo, porque há décadas lá existe um projeto que é o ‘porto de telecomunicações’. A telecomunicação em São Paulo é extensa, mas é particular, espalhada e não tem uma central como o Rio de Janeiro”.
“Nós estamos aqui no Brasil achando que somos conhecidos pelo mundo. Isso é total ilusão. Somos ilustres desconhecidos”, começou Jorge. “Não só do ponto de vista político, do ponto de vista social, mas especialmente como destino turístico. A realização no país de um evento mundial é a grande oportunidade de o mundo nos conhecer. Porque qual é o objetivo de fazer uma Olimpíada no Rio? É torná-lo conhecido. Quem capitaneou isso foi o Roberto Marinho. E ele hoje está sendo substituído pelo Eike Batista. São cariocas, cariocas e cariocas… O negócio deles não é o Brasil é o Rio de Janeiro. Até eu sou carioca, estudei no Rio de Janeiro, quando me apresento eu digo que sou ‘paulista-paulistano’, e ‘carioca-baiano’ e isso Barcelona percebeu e virou paradigma. Todo mundo fala de Barcelona, mas ninguém conseguiu repetir Barcelona. Mesmo a China com suas Olimpíadas de Beijing, tinha outro objetivo que era de natureza política. O grande objetivo de realizar a Olimpíada é que ela tem mais visibilidade do que a Copa, não do ponto de vista de televisão, de assistentes de jogos. O total de assistentes da Copa chega a 33 bilhões. Nas Olimpíadas chega a 8 bilhões ou coisa parecida. É muito mais do que a população do mundo. As cotas da Copa valem mais do que as cotas das Olimpíadas, porque tem maior público. Realizar um evento como a Olimpíada dá esta visibilidade e do ponto de vista interno melhora a auto-estima. Mas o importante como negócio, como estratégia é você gerar o turismo. Para gerar e sustentar o turismo, não pode pensar só nos jogos. Esse foi o grande segredo de Barcelona comandado por um arquiteto, um urbanista. Não simplesmente o comando político. O raciocínio foi o seguinte: Barcelona vai fazer os jogos olímpicos, vai ser visível, vai criar uma imagem, porque Barcelona não tinha muito para mostrar. Galdi, os marcos, mas não é só questão cultural… Barcelona criou uma imagem. Junto com as Olimpíadas ela desenvolveu o marketing da cidade e hoje é um dos principais destinos turísticos do mundo. Turismo de laser, cultural, educacional, e tem muita gente do mundo indo para as universidades de Barcelona. Então a estratégia de Barcelona não foi uma estratégia para a Copa ou estratégia apenas de infraestrutura. Se a gente pensar qual o legado de infraestrutura que vai deixar prá cidade. O grande legado é uma multidão de turistas chegando a Barcelona atrapalhando a vida de Barcelona. Então a cidade precisa estar preparada”.
“O objetivo da Olimpíada é tornar o Brasil e o Rio de Janeiro conhecidos e com isso atrair um volume de turistas em 2017, 2020, 2025 e 2050 capaz de trazer dinheiro e desenvolver a economia. Não só do turismo, mas também dos investimentos, para mostrar que o Brasil é um país desenvolvido, que o Brasil tem o pré-sal… O mundo ainda não sabe que nós temos o pré-sal”.
E, Vera disparou, “Fazendo aqui um samba do crioulo doido, quero convidar as pessoas aqui presentes para fundar o Pré-sal Futebol Clube…”. Sem perder a piada, Jorge continuou: “Nós achamos que todo mundo já sabe, mas não contaram pro mundo. A repercussão da Olimpíada é muito maior que a Copa do ponto de vista deste aspecto turístico. Do ponto de vista midiático, de negócio da mídia ainda não. Vamos separar bem essas coisas. O Rio de Janeiro está se preparando para repetir Barcelona? Não. Está preparado para receber os jogos olímpicos? Está! A grande argumentação do pessoal dos jogos pan-americanos é que foi o preparativo para se conseguir as Olimpíadas e, se foi isso, eles conseguiram. Tem um bando de elefantes brancos depois do Pan porque não se desenvolveu o esporte. Mas as instalações estão lá, o Maria Lenk, o Engenhão e se estão no lugar errado isso é outra discussão. Tem nadador suficiente? Não tem. Conseguiu-se o objetivo de desenvolvimento esportivo com o Pan. Não. Criou-se ou melhorou uma infraestrutura da cidade com Pan? Não. Isso é uma questão que precisa ser compreendida e que é escamoteada. A obra pública como grande empregador é um grande desempregador. Todo mundo quer mostrar o lado do emprego, mas não mostra o que acontece quando termina a obra, que o trabalhador não vai embora e fica sem emprego e vai viver de bico, na informalidade e vai para a favela. Isso não aconteceu na China, porque lá tem passaporte interno. Se você trabalha e tem carteira de trabalho, pode ficar em Pequin, se não tem que voltar para sua cidade. Não existe possibilidade de você ficar depois de terminada a obra. No Brasil não é assim. Todo favelamento começa e se desenvolve com os desempregados das obras. E com um agravante, já que ao longo de um ano de uma grande obra tem rotatividade de 2,5 a 4 trabalhadores por posto de trabalho. Se você criar 1000 postos de trabalho você desemprega 2500 a 4000 trabalhadores. Todas as favelas no entorno de Salvador surgiram em decorrência das obras de Camaçari, de Aratu. As ‘cotas’ são decorrências da construção da Via Anchieta, Vila Parisi em decorrência da construção da Cosipa, Duque de Caxias em decorrência do Pólo Petroquímico”.
“O legado da grande obra é a infraestrutura e o legado perverso é a favela. Então tem que haver compreensão. A construção civil não aceita discutir isso, não quer mostrar o lado perverso. Hoje já há alguns empreendimentos, como o Rodoanel, que exigem isso, empregando preferencialmente pessoal local. Não podem trazer pessoas de fora e nem podem fazer acampamento. No Rio de Janeiro todo crescimento das favelas é decorrência da mudança da Capital Federal para Brasília. Isso não quer dizer que o funcionário público que não foi para a Brasília está vivendo na favela. É o efeito renda, é o efeito induzido, é aquele que está vendendo para o funcionário público. O funcionário público que foi para Brasília deixou de comprar a cocada do cara e o negócio dele foi para o vinagre e ele tem que se virar senão o tráfico absorve. Não adianta dizer que vão acabar com as favelas no Rio. Ao contrário, com a Olimpíada as favelas vão aumentar se não houver uma percepção muito clara e uma política muito forte para evitar que isto ocorra. Como já tem as um grande exercito de reserva você não precisa importar, não precisa migrar… É preciso fazer o empreendimento sem aumentar a população. Uma coisa é o crescimento pela fertilidade, outra é crescimento pela imigração. E essa imigração não é de ricos, é junto à pobreza”.
“Outra discussão inútil é se vai desenvolver a Barra ou o Rio. A Olimpíada vai desenvolver a Barra da Tijuca? Sim, vai melhorar e concentrar riqueza na Barra da Tijuca. Aí você vai ter outro problema que o que estou chamando de Casa Grande e a Senzala. Você vai fazer os condomínios, quer dizer você tem uma cultura de que as pessoas, as famílias de alguma posse precisam ter os tais chamados ‘auxiliares do lar’, para não dizer que são os empregados domésticos, jardineiro etc. Então, toda vez que você aumenta e cria os condomínios de luxo, no entorno cria-se a ocupação da pobreza. É o mesmo caso de Bertioga, que de lado da rodovia tem os condomínios de luxo, do outro a pobreza. A cultura da casa grande e da senzala não mudou. Só mudou de formato e de lugar. Não é escravidão, mas as atividades são as mesmas. São esses os efeitos perversos, esses dois legados que a Olimpíada pode deixar se não cuidarmos. Ao invés de ter a Barcelona vamos ter Mumbai”.
Brincando com a situação, Marli comentou “… estou chegando à conclusão sobre o legado: ainda bem que São Paulo não vai ter obras. Assim vai sobrar para o Rio de Janeiro!”
Carlos Schad: “Entendo que o a situação do Rio de Janeiro e São Paulo são obviamente diferentes. O Rio, historicamente é uma região voltada para a mídia e seus mercados. Então tudo é ‘Fio Maravilha’ que foi bom e depois virou o maior grosso que tinha no Flamengo. Mas a mídia é sempre assim. São Paulo tem uma situação diferente, é a grande capital latino-americana e, trabalhando direitinho, pode ser a capital do turismo de negócios. De 500 empresas do mundo pelo menos 350 tem escritórios ou sedes latino-americanas em São Paulo. São feiras e exposições mundiais, congressos internacionais, uma situação de comércio e serviços avantajada. Aqui há mais aposentos hoteleiros do que a soma de todas as cidades da Copa, sendo o Rio deficitário. O pré-sal vai ter sua administração no Estado de São Paulo, na Baixada Santista. A Petrobrás está instalando três torres no Porto de Santos, terá mais de 2 mil empregados, mais pessoal de suporte, plataforma, operadores e os técnicos. O Estado tem muitos predicados e atributos. Isso nos diferencia. Pra mim, Copa, Olimpíada não faz a mínima diferença porque São Paulo não precisa de mídia. Temos negócios globais. Mas pergunto: cadê o esporte dentro da educação? São sete anos até 2016, vamos formar mais gente na parte esportiva! Não basta a Virada Esportiva, precisamos de programas de formação esportiva! Educação também para todos. A formação de um Tenente da Polícia Militar que vai ser o policial dos estádios da Copa, aquele que vai comandar os soldados nos vários estádios, demora cinco anos e faltam cinco anos para a Copa. Esse sujeito já deveria estar sendo treinado…”
Zabrockis lembrou: “Tive oportunidade de dar aula na periferia, na Vila Sabrina, numa escola com 2 quadras, uma delas coberta, dois vestiários com cinco chuveiros. Mas os alunos não aproveitavam, as aulas de Educação Física eram muito insipientes… Estrutura o Estado deu, mas, quase nada era aproveitado…”
Toninho: “Penso que o Jorge respondeu a pergunta do André: a nossa hora é agora! O Barão de Coubertin disse que o importante é competir. E na última Olimpíada o Brasil levou a maior delegação que já teve. Então já temos um número de atletas com índices e de bom nível. Ganhamos somente 3 medalhas de ouro! Eu lembro também que hoje temos tanto em nível de ir para a Olimpíada como temos pessoas já chegando para participar na ginástica, muitos no atletismo, no vôlei e no basquete desde que eles saíram da Universidade passaram a ter aí em campo, embora com alguma oscilação dependendo da mídia, mas continuam bem. Na natação, no judô, no Box e por aí afora. Penso que não devemos medir nossa participação só pelas medalhas de ouro. A China fez um grande trabalho neste sentido, teve todas as medalhas do mundo e não foi assim tão bom negócio para os chineses. Foi para a China”.
“Paralelamente a isto, e pela minha situação, há aquela em não gostaria que tivéssemos nenhuma medalha e nem competidores: as Paraolimpíadas. Tomara não tivéssemos nenhuma. Infelizmente temos os maiores, melhores e um número muito maior de pessoas com deficiências. Lembro que em Barcelona, a Espanha não tinha competidores e colocou pessoas que não tinham nenhuma deficiência para competir e ganharam as medalhas paraolimpíadas. Depois até devolveram, não sei se por um gesto nobre ou pobre. Nesta eu realmente não queria que tivéssemos nenhum competidor. Tomara não tivéssemos nenhum, nem para competir. Mas, esta é outra que trará, aí sim, um grande legado para o país, porque também devemos ser quase que campeões mundiais em pessoas com deficiência”.
Na sequência Vera lembrou que para criar uma geração de pessoas que consiga praticar esporte com índices olímpicos, é preciso começar por um trabalho de base, trabalhar desde o aspecto físico, nutricional, de metas. “Deve ser um objetivo com muito preparo para uma geração. E o exemplo é o Vôlei, que se destacou e tem conseguido se manter porque foi massificado. Também gostaria de trazer o esporte no seu aspecto lúdico, que é uma questão importante. Como é que vai se chamar essa geração? Talvez a pessoa que mais fez pelo esporte no mundo ainda seja o Pelé, fundou uma escolinha de futebol, depois virou moda para outros, virou projetos de responsabilidade social. As pessoas se identificaram com ele. Há uma questão que é vital para isso: o legado só fica se você se identifica com aquilo que está sendo proposto. É diferente um pouco da condução que se pretende dar ao destino do futebol. O futebol hoje no Brasil não é espetáculo. Está virando negócio. O jogador é um negócio. É muito sério o que está se faz com os jogadores. Há pessoas que se apropriam desses meninos, pegam esses jovens com alguma habilidade, mas sem preparo e ‘exportam mundo afora. Há uma grande quantidade de jovens que sofrem com isso aqui e fora do Brasil. Temos que prestar atenção nisso. Há também o problema das grandes torcidas. A Inglaterra e a Holanda monitoraram aqueles malucos que eles tinham lá, estudaram o problema da violência nos estádios e chegou-se a esse número. Um estádio com capacidade de até 50 mil espectadores que além de futebol, são arenas ‘multiuso’. Hoje há outra conformação que contempla o problema de segurança. Para se controlar uma população do tamanho de um estádio é necessário uma série de coisas. Sou uma apaixonada pelo esporte. E, essa idéia de que o esporte tira as pessoas da droga, não é bem isso. Esporte faz bem, edifica as pessoas, ajuda a desenvolver. Ele é um espetáculo lindíssimo seja no futebol, na ginástica rítmica, na ginástica de competição o próprio Cirque du Soleil muitas vezes aproveita. A Olimpíada é uma mistura do que estamos falando, se vista com um outro olhar.
E, desafiando Jorge Hori a fazer o encerramento em 3 minutos passou-lhe a palavra: “Sobre as Olimpíadas o foco é a importância do legado”, iniciou Jorge. “É um legado de instalações esportivas, do desenvolvimento do esporte, não somente para o futebol. O legado da infraestrutura é sempre um legado para as cidades, mesmo que às vezes não seja expressivo“.
“O evento esportivo é uma oportunidade para ser conhecido mundialmente e neste sentido vou discordar do Schad. São Paulo vai ser muito beneficiado, porque quem é conhecido não é apenas o Rio de Janeiro, é o Brasil. Os investidores com maior conhecimento sobre o Brasil vão acabar investindo em São Paulo; não no Rio ou em outros estados. Da mesma forma que na discussão, entre Cuiabá e Campo Grande, alertei o seguinte: o melhor para Campo Grande não era para disputar com Cuiabá. Do ponto vista de turismo Campo Grande ia receber tanto turista quanto Cuiabá e não ia ter o encargo de fazer 400 milhões para gastar, então gastasse no trecho do Pantanal. O legado do ponto de vista do país está no desenvolvimento turístico“.
“É realmente uma oportunidade ímpar 2014 e 2016. O que precisamos é saber aproveitar bem. E para isso precisamos entender que tanto um quanto o outro são eventos midiáticos. E saber utilizar a mídia. Não adianta querer ir contra, porque a mídia é o rei. E o Rio não se tornou centro midiático pela natureza. Tornou-se centro midiático pela história e principalmente pela figura do Roberto Marinhos que foi mais competente do que os ‘Mesquitas’, do que Assis Châteaubriant, do que os ‘Frias’.
Essa construção, inclusive da chamada vocação de São Paulo começou com o visionário Matarazzo e vem continuando com outros. Estes visionários paulistas eram industriais, os cariocas prestavam serviços. A própria Globo começou em São Paulo. E a percepção de que as Telecomunicações no Rio estão melhor, que o grande centro de mídia é o Rio de Janeiro, é um dado. Não tenho dúvida de que os investimentos estrangeiros serão no pré-sal. E parte significativa de domínio está em São Paulo e que, junto com o desenvolvimento industrial, também irão favorecer este Estado.
Concluindo, diria que o importante é não se perder naquilo que a mídia quer vender como prioridade. A prioridade da mídia é vender. E, nem tudo que tem aceitação comercial é o que objetivamente é necessário.
Agradecendo a valiosa contribuição ao debate do consultor Jorge Hori e dos demais presentes, encerrou-se o Debate.
O PROJETO SEIS E MEIA é uma promoção do IDELT e do Portal www.cargaurban.org.br, que acontece sempre às primeiras segundas-feiras de cada mês, às seis e meia da tarde! É claro!
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