Frederico Bussinger
Há dúvidas que ferrovias são, em geral, energeticamente eficientes, ambientalmente amigáveis e economicamente vantajosas? Por que, então, após o salto provocado pelas concessões dos anos 90, elas patinam? Por que tantas obras metro-ferroviárias paralisadas de norte a sul do País? Por que cronogramas postergados e orçamentos com baixa execução? Usando bordão habitual: “Por que o óbvio não acontece?”.
Paradoxal, por um lado, há porquê manter esperanças: i) No último século e meio elas foram importantes na ocupação do território, no surgimento de núcleos urbanos, no desenvolvimento da economia e para inserção do Brasil no comércio internacional. ii) Ainda hoje seguimos tendo exemplos de ferrovias eficientes; em muitos aspectos benchmarking internacional. iii) Nos últimos 20 anos 1/4 da malha foi recuperada e retomados alguns dos projetos travados.
Causas? Manifesto lançado na 22ª edição da Intermodal (2016) identificava entraves em praticamente todas as etapas dos empreendimentos – infelizmente algo não exclusivo do setor: No identificar oportunidades, no esquadrinhar o mercado, no conceber, no planejar, no projetar, no negociar com os diversos atores (“stakeholders”), no autorizar, no licenciar, no modelar, no licitar, no estruturar/financiar, no implantar, no operar, no comercializar, no fiscalizar (obras e operações), no regular.
Transitar do diagnóstico para a ação demanda estratégias em, pelo menos, duas frentes: conceitual e de abordagem; temas a serem detalhados em próximos artigos. Em síntese:
Conceitualmente: i) Atualizar a própria visão de ferrovia; hoje com funções e características distintas daquelas do Século XIX: passageiros e cargas. ii) Logistica é algo mais amplo que transporte; que é mais que infraestrutura de transporte; que é mais que infraestrutura viária… o grande foco das ações governamentais brasileiras. iii) Projeto é termo com várias acepções entre nós: ora é usado como designando ideia; ora plano; ora projeto de engenharia; ora modelagem; ora empreendimento. Alinharmo-nos é importante até para poupar tempo e energia.
Abordagem: i) Sem definição clara de objetivos, é óbvio, difícil superar os entraves. Uma boa referência é o “White Paper” europeu. ii) Planos? Produzimos. Mas planejamento, mesmo, muito raramente: logística e mobilidade devem ser pensadas em conjunto. Há ganhos em planejamento por etapas; como, p.ex, o da metodologia “FEL”. E o mais importante: planejar é, essencialmente, pactuar. Sem a estreita participação das diversas partes interessadas (“stakeholders”), a experiência indica, muito mais difícil a implementação. iii) Um planejamento fragmentado reduz, enormemente, sua possibilidade de transformar a realidade. Ganharíamos, e muito, com uma abordagem inter-modal, inter-institucional (diversas esferas de governo) e inter-funcional (economia, ocupação urbana, ambiental, etc.); na linha dos “Corredores de Desenvolvimento”: boas práticas difundidas pelo Banco Mundial.
“Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”, nos ensinou Einstein!
(*) Sinopse da palestra do autor, sob o mesmo título, na 21º “Negócios nos Trilhos”; conferência paralela à 25ª Intermodal SouthAmerica. PPT disponível: fbussinger@katalysis.com.br.