Frederico Bussinger
25/OUT/2019. Cerca de 150 pessoas. Na mesa os 3 diretores da ANTAQ, o Secretário de Portos e seu adjunto, 5 executivos de órgãos federais e o Superintendente de Inteligência de Mercado da CODESP. Na pauta da Audiência Pública 2 arrendamentos para celulose na área outrora ocupada pela Libra: editais anunciados para o 1º trimestre de 2020; e prazo para contribuições formais no processo de Consulta Pública encerrando-se hoje.
No “teatro de operações” (expressão da cultura militar) algo bem mais complexo. Na verdade, uma empreitada no mínimo penta-dimensional:
Cluster: concentrar cargas similares, por área, é justamente o espírito do “zoneamento” nos PDZs. Mas é, também, diretriz da atual gestão. Para tanto, além das novas licitações, como essas, planeja-se migrações de outros terminais. Celulose seria, apenas, o primeiro desses processos.
Compartilhamento de berço: impõe esforços de coordenação. Mas faz todo sentido visando “otimizar infraestrutura”, diretriz do art. 3º-I, da Lei dos Portos. Está no cerne do modelo de “condomínio portuário”; e é praticado, p.ex, no Tegram do Porto do Itaqui-MA: 4 operadores compartilham-nos, mas cada qual dispõe de armazenagem própria.
Produtividade: além dos berços, a modelagem estabelece metas/compromissos para melhoria de indicadores de produtividade. P.ex; aumento do giro nos terminais; e redução à metade no tempo de operação dos trens.
Rearranjo dos acessos terrestres: como deseja-se que 80% das cargas acessem os novos terminais por ferrovia, um amplo rearranjo na região Macuco-Ponta da Praia será necessário (com implicações também sobre o rodo-viário); rearranjo sendo discutido, em paralelo, pela Codesp, Rumo/Portofer e terminais. Só que, como “a velocidade do comboio é a do navio mais lento”, a elevação dos padrões de eficiência operacional precisa alcançar, também, a ferrovia Serra-entrada do Porto, e daí até o Macuco. Ou seja; 3 trechos/malhas com suas peculiaridades; e mais o futuro do contrato da Portofer ainda indefinido. Esse caleidoscópio certamente explica o porquê 2/3 das 17 manifestações na Audiência abordaram ferrovia (com preocupação)!
Concorrência: a implementação dessas ações é essencial, tanto para aumento de capacidade do Porto de Santos visando atender à crescente exportação de celulose, como um dos instrumentos para que suas operações possam ser saudavelmente competitivas com as da Embraport: esta vem de iniciar operações com celulose em instalações com capacidade prevista da ordem de grandeza daqueles dos 2 terminais em licitação, somadas. Além de ter maior autonomia de gestão, inclusive de mão de obra.
Trata-se de um empreendimento complexo, multifacetado; o que exige planejamento e coordenação de ações e cronogramas. Mais ainda porque as
intervenções serão feitas com o Porto operando; sempre um risco para os atuais usuários.
Um enorme desafio que faz lembrar o malabarista de circo que mantem vários pratos simultaneamente girando. Ademais, envolve múltiplos atores: tanto privados (terminais, concessionários, TPAs, caminhoneiros, população contígua, etc.), como públicos (concedentes, gestores, reguladores, controladores, Prefeitura).
Ou seja, o Cluster de Celulose quiçá seja um verdadeiro laboratório de gestão portuária! Muito importante, pois, saber que há “abertura para se ajustar a modelagem”, e que a Audiência Pública não é apenas para “cumprir tabela”, como enfatizaram vários componentes da mesa.
Ah! Esse é um exemplo do dia a dia de uma Administração Portuária. Será que os potenciais interessados na privatização da de Santos têm clareza que seu papel, mais que gerir ativos, é gerir relações?